“O Homem do Caminho”, de Plínio Marcos

Será sempre em praças sem liberdade, em jardins sem flores, debaixo do céu sem estrelas, à beira de córregos por onde escoa a merda, que devemos armar nossa poesia.

Plínio Marcos, conto “Sempre em frente”

“O Homem do Caminho” é um monólogo teatral adaptado pelo autor brasileiro Plínio Marcos (1935-1999) a partir do conto “Sempre em frente”, que faz parte do segundo volume de “Histórias populares: canções e reflexões de um palhaço”, publicado em 1987. Com o mesmo título do monólogo, o texto foi posteriormente publicado como a terceira parte do livro de memórias circenses de Plínio Marcos, “O truque dos espelhos” (1999). É inspirado pelo universo circense e pela cultura cigana, com os quais Plínio conviveu de perto no início da sua carreira, nos seus tempos de palhaço Frajola.

Iur – a personagem única da peça – é um dos homens do caminho: anda sem termo, não teme fazer frente ao mistério e conta-nos esta história na primeira pessoa. Tem três nomes, sendo que um deles é desconhecido pelo próprio Iur. Essa condição é uma forma de enganar a morte: quando chegar a sua vez, ele não vai escutar o chamamento. Declara que um saltimbanco reúne três grandes artes: contar histórias, ser mestre de enganos, roubos e ilusões e o sexo. “O Homem do Caminho” apresenta as artes nómadas como um acto de libertação dos seus públicos, entre os quais se destacam, por um lado, os homens – “fixos” – associados a uma vida rígida, burocrática e repressiva; e, por outro lado, as mulheres – contidas, desoladas e silenciosas – presas às vidas “secas” ao lado dos “homens-pregos”.

As histórias de Iur oferecem uma reflexão sobre poder, egoísmo, manipulação, luta de classes e o sentido da existência humana, no limbo entre a liberdade e as amarras que a condicionam ou oprimem.

Allex Miranda e José Caldas (© Eduardo Pinto)

O Homem do Caminho
de Plínio Marcos
co-produção A Escola da Noite / Quinta Parede

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
1 a 18 de Junho de 2023
quartas e quintas-feiras, 19h00
sextas-feiras e sábados, 21h30
domingos, 16h00

texto Plínio Marcos
adaptação e encenação José Caldas
interpretação Allex Miranda, José Caldas, Juliana Roseiro
espaço cénico Ana Rosa Assunção, José Caldas música Allex Miranda, José Caldas figurinos Ana Rosa Assunção luz Danilo Pinto, José Caldas montagem Danilo Pinto, Diogo Lobo, Eduardo Pinto, Rui Valente, Zé Diogo operação técnica Danilo Pinto, Diogo Lobo, Zé Diogo execução de adereços Elsa Rajado, José Caldas, Joshua G. Ford direcção de cena Juliana Roseiro fotografia Eduardo Pinto folha de sala (edição) Igor Lebreaud grafismo Ana Rosa Assunção produção e comunicação Eduardo Pinto, Pedro Rodrigues; Juliana Roseiro e Mariana Banaco (estagiárias) limpeza e bar no TCSB Cláudia Natividade assistentes de sala Andreia Natividade, Cláudia Morais, João Sousa, Maria Dias, Mariana Banaco, Patrícia Mendonça
co-produção A Escola da Noite / Quinta Parede

objecto cénico mala-mesa adaptação de modelo criado por João Mendes Ribeiro
agradecimentos Cena Lusófona, Eduardo Moreira, Luís Pedro Madeira, João Mendes RIbeiro, Robert Souza, Silvana Garcia

> M/16 > 60 min > 5 a 10€
Bilhetes à venda no TCSB, na TicketLine e nos locais habituais

Informações:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

José Caldas (© Eduardo Pinto)

JOSÉ CALDAS E O TEATRO DO BRASIL N’A ESCOLA DA NOITE
O espectáculo é a 76.ª criação d’A Escola da Noite e a terceira visita da companhia à obra de Plínio Marcos, depois de “Dois Perdidos Numa Noite Suja” (2004, com encenação de Sílvia Brito) e de “O Abajur Lilás” (2012, em co-produção com o Cendrev, encenação de António Augusto Barros). Insere-se na linha de trabalho dedicada à dramaturgia brasileira, que tem levado a companhia a apresentar obras de autores como Nelson Rodrigues (“A Serpente”, 1998), Cleise Mendes (“Noivas”, 2005) e Bosco Brasil (“Novas diretrizes em tempos de paz”, 2013).
José Caldas, encenador brasileiro há muitos anos radicado em Portugal, faz parte desse percurso da companhia – foi responsável pela encenação de “A Serpente”, estreada nos nossos primeiros anos de vida, na antiga sala-estúdio do Pátio da Inquisição. Na adaptação que fez para este espectáculo, Caldas (que partilha o palco com Allex Miranda e Juliana Roseiro) desdobrou as falas da personagem, acentuando o diálogo interior de Iur na reflexão que faz sobre o caminho que é preciso continuar a trilhar.
“O Homem do Caminho”, que foi apresentado em ante-estreia a 20 de Maio na Guiné-Bissau, estreia em Coimbra a 1 de Junho e mantém-se em cena no TCSB até dia 18, com sessões às quartas e quintas-feiras (19h00), às sextas e sábados (21h30) e aos domingos (16h00). É recomendado para maiores de 16 anos e tem a duração de 60 minutos.

Sacramentos da subversão
[texto de José Caldas, encenador do espectáculo]

Plínio, filho do vento, ladrão de almas
[texto de Silvana Garcia]

nota biográfica do autor

fotografias de ensaio

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