Plínio Marcos

Eu falo das transas nos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus, das pessoas que estão por aí se danando, que moram na beira do rio e quase se afogam cada vez que chove, daquele homem que só come da banda podre, daquelas pessoas que só berram da geral sem nunca influir no resultado.

Plínio Marcos
© Juan Esteves

Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos, em 29 de Setembro de 1935.
Avesso aos estudos, completou apenas o ensino primário. Experimentou diversas profissões durante a juventude, acabando por se juntar ao circo, como palhaço.

Em 1958, por influência da escritora e jornalista Pagu (Patrícia Galvão), envolveu-se com o teatro amador, em Santos. Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem violado na prisão, escreveu Barrela, a sua primeira peça teatral. Aclamado pelo meio teatral, que comparava os seus diálogos aos de Nelson Rodrigues, este texto permaneceu proibido durante 21 anos após a primeira apresentação.

Plínio Marcos mudou-se para São Paulo em 1960, onde se sustentava como camelô, a vender cigarros, rádios e outros produtos contrabandeados. Trabalhou também em vários teatros e como técnico da Televisão Tupi. As suas peças continuaram a ser repetidamente proibidas pela censura, sendo apenas apresentadas em sessões clandestinas.
Apaixonado por futebol e pela cultura popular brasileira, trabalhou, a partir de 1968, em diversos jornais, escrevendo contos, reportagens, entrevistas e crónicas sobre vários assuntos. Nesse mesmo ano, integrou o elenco da telenovela Beto Rockfeller, onde fez sucesso entre o grande público.
Visto como símbolo do autor perseguido pela censura, tendo sido preso e interrogado por diversas vezes e acusado de subversivo e pornográfico, Plínio Marcos publicou, em 1976, Uma Reportagem Maldita – Querô, vencedor do Prêmio APCA de melhor romance.
Publicou ainda livros de pequenos contos ou relatos autobiográficos: Prisioneiro de uma Canção, Canções e Reflexões de um Palhaço, Figurinha Difícil e O Truque dos Espelhos, entre outros.

Após a ditadura, continuou a viver como camelô, a vender os seus livros e a fazer leituras de tarot, explorando uma faceta mística, que começara a desenvolver na década de 70. Em 1985, escreveu no programa da peça Madame Blavatsky: “Sou um homem à procura da religiosidade. Dispensa-me dos rótulos, por favor, e eu te explico que a religiosidade nada tem a ver com seitas, igrejas, grupelhos carolas, fanáticos acorrentados a dogmas e superstições. A religiosidade nada tem de alienação, conformismo ou adaptação a um sistema político-social-econômico injusto. Aliás, a religiosidade é altamente subversiva. A religiosidade leva o homem ao autoconhecimento. E o autoconhecimento leva o homem à subversão.”
Plínio Marcos faleceu em São Paulo, a 19 de Novembro de 1999.

Obra teatral
1958 Barrela
1960 Os fantoches (1.a versão de Jornada de um imbecil até o entendimento) 
1963 Enquanto os navios atracam (1.a versão de Quando as máquinas páram)
1965 Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar (2.a versão de Os fantoches) 
Reportagem de um tempo mau
1966 Dois perdidos numa noite suja 
1967 Dia virá (1.a versão de Jesus-Homem) 
Navalha na carne 
Quando as máquinas páram (2.a versão de Enquanto os navios atracam) 
1968 Homens de papel 
Jornada de um imbecil até o entendimento (3.a versão de Os fantoches) 
1969 O abajur lilás 
Oração para um pé-de-chinelo 
1970 Balbina de Iansã (musical) 
1976 Feira livre (opereta) 
1977 Noel Rosa, o poeta da vila e seus amores (musical) 
1978 Jesus-Homem (2.a versão de Dia virá) 
1979 Sob o signo da discoteque 
Querô, uma reportagem maldita (adaptação teatral do romance homónimo) 
1985 Madame Blavatsky 
1986 Balada de um palhaço 
1988 A mancha roxa
1993 A dança final
1995 O assassinato do anão do caralho grande (adaptação teatral da novela homónima) 
1996 O homem do caminho (monólogo adaptado de um conto homónimo, originalmente intitulado Sempre em frente) 
1997 O bote da loba 
Chico Viola (peça inacabada, com várias versões anteriores)

[O HOMEM DO CAMINHO — Página do espectáculo]

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