A Escola da Noite volta a apresentar esta semana, em Coimbra, o seu mais recente espectáculo – “Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres”, de Matéi Visniec. A nova e curta temporada começa já esta quinta-feira, 28 de Maio, e prolonga-se até dia 6 de Junho.
A reposição do espectáculo faz parte de um programa elaborado em parceria com o Instituto Cultural Romeno e inclui a visita do próprio Matéi Visniec, que participará numa conversa com o público no dia 7 de Junho à noite. Esse encontro acontecerá logo após a apresentação de uma outra peça sua – “A história dos ursos panda contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt” – pela companhia romena Unteatru.
A digressão portuguesa deste espectáculo, que será apresentado com legendas em português, inclui apenas duas apresentações: para além do TCSB, ele só poderá ser visto em Lisboa, no Teatro da Comuna.
Matéi Visniec
Nascido na Roménia em 1956, Matéi Visniec destacou-se na paisagem literária da Roménia dos anos 80. A sua obra foi proibida pelo regime de Ceausescu em 1987 e exilou-se em França, onde reside até hoje e trabalha como jornalista para a Radio France Internacionale. Tem mais de 30 peças editadas e já foi representado em países como Itália, Grã-Bretanha, Polónia, Turquia, Suécia, Alemanha, Israel, Estados Unidos Canadá, Japão e Brasil. É o autor dramático vivo mais representado na Roménia e foi recentemente distinguido com o Prémio Europeu 2009 da SACD e com o Prémio “Coup de Coeur” (imprensa) no Festival Off de Avignon, em 2008 e em 2009.
“Um artista engajado”
Cedo encontrou na literatura um espaço de liberdade e de resistência contra os totalitarismos. Admira e deixa-se influenciar por autores como Kafka, Dostoievski, Camus, Beckett, Ionesco e Lautréamont e por correntes artísticas como o surrealismo, o dadaísmo, o teatro do absurdo e do grotesco. Nos dias de hoje, continua a acreditar que o teatro e a poesia podem denunciar as tentativas de manipulação das pessoas através das “grandes ideias”. Assume que continua a sentir-se um “autor engajado” e a sentir necessidade, enquanto artista, de combater “o mal”: “Na França, como em outras sociedades democráticas, identificar o mal exige um trabalho maior de reflexão. O artista tem de ser subtil para reconhecer as formas de manipulação por meio da publicidade, da moda, da indústria de entretenimento, da sociedade de consumo, dos slogans do comércio e da linguagem dos meios de comunicação”. E acrescenta, numa entrevista recente a um jornal brasileiro: “nesses países ‘livres’, onde o ditador é o mercado, descobre-se que a lavagem cerebral se esconde atrás da máscara da liberdade”.
Duas cidades, dois espectáculos e conversas com o público
O programa da passagem de Matéi Visniec por Portugal inclui a reposição do espectáculo “Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres”, pel’A Escola da Noite (Coimbra, TCSB, 28 de Maio a 6 de Junho), a apresentação do espectáculo “História dos ursos panda contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt”, pela companhia Unteatru, de Bucareste (Lisboa, Teatro da Comuna, 5 de Junho; e Coimbra, TCSB, 7 de Junho) e dois momentos de encontro do autor com o público e a comunidade teatral, nestas duas cidades.
Os espectáculos
“Da sensação de elasticidade…” teve estreia mundial em Coimbra em Dezembro do ano passado, com encenação de António Augusto Barros. Conta a história de Sérgiu Penegaru, um escritor que se recusa a escrever poemas patrióticos e admira o surrealismo. Na Roménia comunista do final da década de 50 do século XX, isso é suficiente para que entre na “lista negra”. As suas obras são proibidas e é preso em Sighet – a penitenciária que realmente existiu, por onde passaram e onde morreram dezenas de presos políticos nesse período. Como forma de resistir ao cárcere, Penegaru e os seus três companheiros de cela divertem-se a representar “A cantora careca”, de Eugène Ionesco.
O teatro – e, em particular, o teatro do absurdo de Ionesco – não só ajuda os quatro homens a distanciarem-se do horror com que são confrontados como acentua o absurdo da própria realidade em que vivem.
“A história dos ursos panda…” é uma história absurda e muito bem-humorada. Dois jovens acordam uma manhã na mesma cama. Não se lembram como foram lá parar nem do que poderá ter acontecido, mas decidem iniciar uma relação. O acordo é passarem apenas nove noites juntos e separarem-se de seguida. As nove noites passam lentamente e parecem uma vida inteira: os dois reconstroem novos e velhos rituais de amor, descobrem-se e estudam-se mutuamente, oferecem-se um ao outro, começam a fazer coisas juntos, a trocar experiências, e depois zangam-se, ficam sós e começam a prestar mais atenção ao que os rodeia.
Matéi Visniec em Portugal
PROGRAMA
Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres
pel’A Escola da Noite
COIMBRA
Teatro da Cerca de São Bernardo
28 de Maio a 6 de Junho
quinta a sábado, 21h30; domingo 16h00
tradução Luiza Jatobá versão António Augusto Barros e Sofia Lobo elenco Filipe Eusébio, Igor Lebreaud, Joel Santos, Jorge Loureiro, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash, Sofia Lobo cenografia João Mendes Ribeiro figurinos, adereços e imagem gráfica Ana Rosa Assunção desenho de luz Rui Simão vídeo Eduardo Pinto som Zé Diogo
M/14 > 2H30 > 5 a 10 Euros
A história dos ursos panda contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt
pelo Unteatru (Bucareste, Roménia)
LISBOA
Teatro da Comuna
5 de Junho
sexta-feira, 21h30
COIMBRA
Teatro da Cerca de São Bernardo
M/12 > 1h15
7 de Junho
domingo, 21h30
encenação Catalina Buzoianu elenco Iolanda Covaci, Marius Calugarita movimento e dança Galea Bobeicu música Mihai Prejban, Sorin Antonie pantomima Adrian Nour
M/12 > 1h15 > 5 a 10 Euros
[espectáculo falado em romeno e legendado em Português]
Conversas com o autor
Lisboa, Teatro da Comuna
5 de Junho
sexta-feira, 22h45 (após o espectáculo do Unteatru)
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
7 de Junho
domingo, 22h45 (após o espectáculo do Unteatru)
informações e reservas
LISBOA
Instituto Cultural Romeno em Lisboa
213 537 060 / icrl.geral@mail.ptprime.pt
COIMBRA
238 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt