Hoje em Braga. A partir da próxima semana de novo em Coimbra, de quinta a domingo.
Faça-nos companhia!
Hoje em Braga. A partir da próxima semana de novo em Coimbra, de quinta a domingo.
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A Escola da Noite e o Cendrev – Centro Dramático de Évora apresentam a 14 e 15 de Junho, no Theatro Circo de Braga, o espectáculo “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. A co-produção estreou em Abril no Teatro Garcia de Resende e encontra-se actualmente em digressão nacional. O regresso das duas companhias a Braga acontece no âmbito da rede Culturbe, que junta os teatros municipais de Braga, Coimbra e Évora.
Três prostitutas – Dilma, Célia e Leninha – partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga. As relações entre as diferentes personagens são utilizadas por Plínio Marcos para falar da situação do Brasil na década de 60, sob a ditadura – a peça foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, “O Abajur Lilás” viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração.
Sábato Magaldi, crítico brasileiro, considerou-a como “a mais incisiva, dura e violenta” das peças que analisaram a situação brasileira pós-1964 (data do golpe de estado que instituiu a ditadura militar) e afirmou que ela servia “de desnudamento de um período de terror”. Salientou, também, a universalidade e a intemporalidade do tema que, metaforicamente, percorre toda a obra: ela é “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”.
Um português amplo
Reconhecido pela linguagem marginal que utilizava nas suas peças, Plínio Marcos assumia a intenção: “escrevia como se falava nas cadeias. Como se falava nos puteiros. Se o pessoal das faculdades de linguística começou a usar minhas peças nas suas aulas e pesquisas, que bom! Isso era uma contribuição para o melhor entendimento entre as classes sociais”.
“O Abajur Lilás” está carregado dessa gíria específica, identificado com a zona portuária da cidade de Santos (São Paulo), de onde o autor era natural. Mas Plínio acrescentava sempre expressões e palavras novas, criadas por si, repletas de significado, força e poesia.
Propositadamente, a versão apresentada pelo Cendrev e pel’A Escola da Noite respeita o texto original praticamente na íntegra. Por um lado, porque seria impossível fazer uma adaptação ao “português de Portugal” sem afectar a estrutura original da peça; por outro lado, porque este português amplo oferece ao espectador um surpreendente conjunto de palavras e expressões pouco utilizadas na linguagem do dia a dia mas que fazem parte da diversidade e da riqueza da língua portuguesa, que demasiadas vezes permanecem esquecidas.
Esta co-produção
O Cendrev (fundado em 1975) e A Escola da Noite (fundada em 1992) pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal e mantêm há muito relações de colaboração e intercâmbio. “O Abajur Lilás”, encenado por António Augusto Barros e com cenografia de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano, é a primeira co-produção entre os dois grupos.
O Abajur Lilás
de Plínio Marcos
encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas
M/16 > 1h40, com intervalo
Braga, Theatro Circo
14 e 15 de Junho
quinta e sexta-feira, 21h30
Assumamos: o reportório escolhido pelas seis companhias da descentralização que por estes dias se mostram em Évora não é o mais indicado para levantar a moral dos portugueses. Entre reis sanguinários, populares assustados, regimes racistas, patos-bravos desnorteados e umas irmãs mesquinhas, venha o mais pessimista e escolha.
A meio deste festival de elogios à condição humana, voltou hoje a surgir no Garcia de Resende um dono de prostíbulo que só pensa na facturação. Em nome da produtividade das suas “empregadas”, não hesita em exercer sobre elas todas as formas de poder que tem ao seu alcance: da humilhação e da chantagem à tortura e ao assassinato.
A futilidade do pretexto que desencadeia os acontecimentos, a rapidez com que tudo se desenvolve e a facilidade com que os seres humanos passam a descartáveis colocam-nos em tempos que gostamos de considerar passados. Giro, o proprietário, tem e exerce o poder do dinheiro, em nome do lucro que não concebe a parar de crescer. “A putaria é assim mesmo”, sustenta, protegido pela sombra-capanga que lhe faz o trabalho sujo.
Mantendo-se viva, uma das suas vítimas resiste ainda assim à inevitabilidade e insiste em perguntar: “onde vamos?”.
Quando “os faróis que nos guiam são pálidos”, é nestas perguntas, mesmo que feitas num palco entretanto esvaziado e corroído, que conseguimos encontrar alguma esperança.
Pedro Rodrigues,
Évora, 7 de Junho de 2012
“O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos, é o espectáculo da noite no terceiro dia do Festival das Companhias. A co-produção entre o Cendrev e A Escola da Noite é apresentada às 21h30, na sala principal do Garcia de Resende.
De manhã, realiza-se pela primeira vez na história da iniciativa a Assembleia do Festival, um plenário com os mais de cinquenta elementos das companhias que estão em Évora por estes dias.
Ao final da tarde, o Teatro das Beiras volta a apresentar “Provavelmente uma Pessoa”, que ontem teve lotação esgotada na sala-estúdio.
7 de Junho, quinta-feira
11h00
Assembleia do Festival
18h30
Teatro Garcia de Resende, sala-estúdio
Provavelmente uma pessoa
Teatro das Beiras
21h30
Teatro Garcia de Resende, Sala Principal
O Abajur Lilás
co-produção CENDREV / A Escola da Noite
Três prostitutas partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga.
Considerada como a mais incisiva das peças que analisaram a situação brasileira durante a ditadura militar, “O Abajur Lilás” foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração – “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”, chamou-lhe o crítico brasileiro Sábato Magaldi.
encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas
M/16 > 1h40 com intervalo