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entrevista a João Brites e Augusto Barros: “A arte e o teatro vivem de cumplicidade e relações”

Domingo, Maio 24th, 2009

João Brites e António Augusto Barros

João Brites e António Augusto Barros

 

 

O DC juntou João Brites, fundador da companhia de teatro O Bando, e Augusto Barros, director artístico da Escola da Noite. O resultado foi uma conversa de cumplicidade

Diário de Coimbra (DC) Porquê o Bando para primeira companhia da residência artística?
Augusto Barros (AB) Estamos a lançar uma programação que assenta na reflexão sobre percursos artísticos, e há percursos que vale a pena analisarmos à partida.  Este encontro interessa ao Bando, que está aqui por um conjunto de factores, como a cumplicidade e o trabalho conjunto, e à nossa companhia, para debater uma experiência de percurso com eles. Mas também estamos a tentar aqui, num teatro novo, com responsabilidades novas, criar correntes de público que ganhem consistência, sejam formadas por pessoas atentas, críticas, capazes de comparar coisas e de partilhar uma reflexão sobre a própria criação artística. Não há programação se não houver criação, e esse é o fenómeno à volta do qual gostávamos que girassem as coisas e as pessoas estivessem mais aptas a perceber. Desse ponto de vista, a escolha do Bando é certeira.

DC O que esperam trazer e levar de novo?
João Brites (JB) A arte e o teatro vivem de cumplicidades e relações. E é pena que as pessoas do teatro se encontrem pouco, discutam pouco os espectáculos uns dos outros. Nós não somos criadores solitários, somos contaminados e contaminadores. O que vamos fazendo resulta primeiro das nossas equipas e das pessoas com quem interagimos todos os dias, dos territórios e dos espaços que habitamos. A nossa vida faz-se dessa relação. A contaminação não é um esforço. Quando dizemos que aceitamos o outro, não o aceitamos naquela dimensão, que é a mais bonita, que é eu servir-me dele para crescer, ou para me interrogar ou fazer outra coisa. Hoje o Bando defende do ponto de vista conceptual a ideia de um teatro singularista, mas esta ideia de ser singular por criar algo de único, mas não ser individual, porque é o resultado de um conjunto de pessoas.

DC Por isso o objectivo comum do encontro não é apenas mostrar teatro, mas também debatê-lo?
JB Exacto. Temos sempre conversas com as pessoas depois do espectáculo. Não é para saber se gostaram, é para terem oportunidade de falar com aqueles que muitas vezes não têm oportunidade, porque não os conhecem, ou porque estão no palco. Criar possibilidades de encontro, de conversa, sem pretensões nenhumas de fazer grandes balanços. No mundo de hoje, esse lado de criar relações de convívio, a cultura de relação ao vivo que o teatro tem, é um reduto que vai aparecer com muito mais relevância à medida que nos vamos apercebendo que as nossas relações são cada vez mais via satélite. Vai ser necessário tocar na carne e nas peles, tocar nas pessoas, cumprimentá-las, olhá-las nos olhos.

DC As colaborações entre companhias só podem acontecer como residência artística, principalmente em grupos que distam ainda alguns quilómetros?
AB
 Mas que gostam de os percorrer. Já esteve para ser possível, e o João já fez a cenografia para um espectáculo nosso. Ainda não fizemos co-produções com o Bando,  mas colaborações sim, várias. Já foi lá a companhia. Por vezes não colaboramos como Escola da Noite ou O Bando, e sim a título individual, é sempre possível.

JB O que é preciso é pensarmos em novas formas de co-produção. Já tenho feito várias, mas  correspondem sobretudo à cedência de um actor, o que não corresponde a um real encontro entre as problemáticas e sensibilidades, é uma espécie de diminuição de custos. Mas no caso de algumas companhias especiais, e esta é uma delas, era possível existirem coincidências, em que eles estão a reflectir ou a fazer algum tipo de trabalho e por acaso nós estamos numa coisa que possa ter a ver também, e sintamos necessidade um do outro para desenvolver determinado projecto. Mas isso também não é forçado, acontece como as paixões e os amores. Às vezes andamos ali a namorar, e outras vezes acontecem sem sabermos porquê.

DC E o que lhe diz este espaço, de um teatro tão diferente do seu?
JB Ainda não o conheço [a entrevista foi feita no dia da chegada a Coimbra do director d’O Bando], mas quero ver. Conheci em projecto e em maquete, há muito tempo, e agora ver aqui ao vivo… fico sempre um bocadinho ciumento. Eu ensaio debaixo de umas telhas, onde antes se guardavam os porcos, não consigo que aquilo arranque, estou num parque natural e as diferentes leituras que se fazem da lei obrigam a que estejamos sempre a mudar os projectos. Gosto da minha quinta, ainda hoje lá estive a subir cem metros de serra acima, no meio das oliveiras. Somos a única companhia que tem azeite. Mas aqui há um conforto… Nós fazemos um ensaio e ficamos cansadíssimos, no meio do vento, do ladrar dos cães, mas ao fim da noite aquele espaço é lindissimo.

DC Mas se calhar o Augusto Barros inveja o prazer de poder ensair ao ar livre…
JB Podíamos trocar de casa, eu venho  para aqui, instalo-me aqui com uma criação, tu vais lá para baixo, com os porcos, ficas todo corado.
AB Feito. Acabou de assistir aqui a um contrato.

DC Esta iniciativa dura apenas uma semana, e por isso tem um programa muito intenso. Não temem que seja vivida a correr?
AB Devia ter mais tempo, foi programada para ter mais tempo, mas são as circuntâncias que não deixam. Tem a ver com financiamentos, mas também com os nossos calendários e compromissos, tudo isso condicionou a residência. Gostaríamos que fosse mais tempo, mas temos consciência de que com o Bando agora acontece isto, e depois acontecerá outra coisa mais lá para a frente, por isso não é problemático. Esta semana o programa é forte, e queremos que chegue às pessoas que há workshops, conversas à noite depois dos espectáculos para quem quiser participar, que ainda há mais três espectáculos. Mas teve que ser assim compacto.

DC É uma experiência para continuar? 
AB Com certeza. Há equilíbrios a construir na programação, e idealmente seria uma por semestre, mas estas coisas não são para seguir exactamente. Seria uma de teatro e uma de dança. Está prevista e convidada a Vera Mantero, mas ainda não sabemos se vamos ter condições para a conseguir trazer.

DC O Bando está envolvido num projecto internacional para 2011 sobre a história de Pedro e Inês. Como vai funcionar?
JB Lançámos o desafio de criar um espectáculo a partir das documentações literárias e históricas de Pedro e Inês, expusémos várias provocações e a nossa expectativa sobre o texto. Agora está a ser escrito numa formação alargada pelo Manuel Jesus, do Bando. Constituiu-se uma  equipa, com parte da direcção artística do Bando, mas em que é o Anatoli que encena. Avisámos com muita antecedência este encenador russo, que vem acompanhado por uma dramaturgista. E quisémos vir aqui, a Coimbra, aproveitar este momento que é também o lançamento deste projecto. Estamos cá, fazemos uma conferência, ficamos ao corrente dos espaços, dos elementos necessários.

DC Vão trazer a peça a Coimbra?
JB Temos como objectivo ir aos sítios que têm uma ligação, uma referência ao mito, e já não sabemos bem o que é mito e realidade nesta história. Queremos passar em Montemor-o-velho, Coimbra ou Alcobaça.

DC Costuma dizer que o que faz é só um olhar. Qual é o enfoque que vai ser utilizado para contar esta história?
JB Está focado na ideia de culpa, das diferentes qualidades de culpa. Não quer dizer que no final seja esse o tema mais relevante. Mas para já a proposta de reflexão para Pedro e Inês é olhar sobre o ponto de vista de que cada um dos agentes naquela história podem ser vistos como culpados, mas cada um com diferentes tipos de culpa. Nós estamos a pensar sobre isso, agora se no final será isto, é uma perfeita incógnita.

 

Sofia Piçarra

Diário de Coimbra, 24/05/2009

o bando no TCSB: programa de hoje, sexta-feira

Sexta-feira, Maio 22nd, 2009

 

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA REN COM O TEATRO O BANDO

Sexta-feira, 22 de Maio de 2009

 

 

10h00 – 18h00 | workshop (2º dia)

“Dilatação do Tempo Presença:

Oficina sobre a consciência do actor em cena”

direcção de João Brites com assistência de Sara de Castro

sala-estúdio da bonifrates* (Casa Municipal da Cultura)

 

 

19h00 | conferência

“O método do Experimental Stage of Baltic House”,

 por Anatoly Praudin

bar do TCSB

 

Anatoly Praudin

Anatoly Praudin

 

 

22h00 | documentário

“Ensaio sobre o teatro”

bar do TCSB

ensaio-sobre-o-teatro_49

 

 

 

* Colaboração especial da Bonifrates – cooperativa de produções teatrais e realizações culturais.

Raul Atalaia, d’o bando: “residência é uma oportunidade de reflectir sobre o nosso trabalho”

Quarta-feira, Maio 20th, 2009

 

Raul Atalaia, do Teatro o bando

Raul Atalaia, do Teatro o bando

Coimbra, 20 Mai (Lusa) – A residência artística que a companhia de teatro O Bando realiza esta semana em Coimbra é uma oportunidade de mostrar o trabalho, e também de pensar sobre ele, revelou hoje um dos seus membros.

 

A residência artística que a companhia de teatro O Bando realiza esta semana em Coimbra é uma oportunidade de mostrar o trabalho, e também de pensar sobre ele, revelou hoje um dos seus membros.

“É uma prenda que nos dão”, confessou à agência Lusa o actor Raul Atalaia ao reportar-se ao convite endereçado pela companhia A Escola da Noite, de Coimbra, para uma residência artística que teve início dia 17 e se prolonga até ao próximo domingo.

Além da apresentação de duas peças – “Jerusalém”, baseada no romance homónimo de Gonçalo M. Tavares, e “A Noite”, a partir de textos de Al Berto -, estão previstas conferências, um workshop e conversas entre os actores e o público.

“São duas encenações do João Brites, com direcção artística de O Bando, na linha de um trabalho de grande rigor e seriedade que a companhia tem feito. São espectáculos que são riscos a nível artístico”, considerou Raul Atalaia.

De acordo com o actor, estas residências são ainda uma oportunidade para as pessoas que trabalham com O Bando contactarem com outras realidades e outros artistas.

Nesse sentido, deslocaram-se com o grupo o encenador Anatoli Praudin, director artístico do Experimental Stage of Baltic House, de São Petersburgo (Rússia), e a dramaturgista alemã Odette Bereska, ambos envolvidos numa produção internacional que O Bando estreará em 2011, “Pedro e Inês”.

O próprio Anatoli Praudin dará uma conferência em que abordará o método de trabalho desenvolvido no grupo que dirige, o Experimental Stage of Baltic House, criado em 1999.

“Não é uma residência convencional. É mais do que chegar a Coimbra e apresentar dois ou três espectáculos. É proporcionar às pessoas conversas sobre os espectáculos, antecipações de trabalhos que estão a fazer, mostrar qual é o processo de trabalho, fazer um workshop. São vários os públicos que são tocados por esta iniciativa”, declarou Isabel Campante, responsável pela comunicação de A Escola da Noite.

Da perspectiva de Isabel Campante, esta “é a primeira grande iniciativa de programação de A Escola da Noite no Teatro da Cerca de S. Bernardo”. Uma residência artística que “é mais potenciada por ser uma estrutura artística a receber outra estrutura artística. Assim pode-se falar de arte, de parte a parte, e discutir maneiras de a fazer actualmente”, sublinhou.

A mesma responsável comentou que esta residência artística de O Bando só é possível pelo apoio das Redes Eléctricas Nacionais (REN), um facto que considera raro em Portugal.

A residência artística de O Bando em Coimbra começou na passada dia 17 e prolonga-se até domingo, dia 24. Sobem ao palco as peças “Jerusalém” e “A Noite”, seguidas de conversas entre os intervenientes e o público.

Um workshop, duas conferências, por João Brites e Anatoli Praudin, e a exibição de dois documentários recentemente realizados por Rui Simões sobre o trabalho do bando: “Se podes olhar vê. Se podes ver, repara” e “Ensaio sobre o teatro”.

A companhia O Bando, com 35 anos de actividade, é uma das mais importantes no panorama teatral português, graças a um percurso artístico singular, também marcado por uma íntima relação com as comunidades junto das quais trabalha, refere uma nota de divulgação de A Escola da Noite.

FF. / Lusa (via Expresso on-line)

Residência do Bando prossegue com conferências e documentários

Quarta-feira, Maio 20th, 2009
João Brites

João Brites

Anatoli Praudin

Anatoli Praudin

A residência artística que o Teatro o bando está a realizar em Coimbra, a convite d’A Escola da Noite, prossegue na quinta e na sexta-feira com grande intensidade: para além do workshop para actores, estão agendadas duas conferências e dois documentários sobre o trabalho do grupo.

 

A primeira conferência é proferida por João Brites, director da companhia,  e intitula-se “O actor no Teatro o bando”. Terá lugar no dia 21, quarta-feira, pelas 19h00. João Brites é artista plástico, cenógrafo, encenador e dramaturgista, para além de docente na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Nasceu em 1947, em Torres Novas, e frequentou os  cursos de Pintura e de Gravura na ENSAAV – La Cambre, em Bruxelas. No âmbito das artes plásticas realizou exposições individuais e participou em colectivas, encontrando-se a sua obra representada em galerias e museus, portugueses e estrangeiros. A partir de 1971 trabalha como cenógrafo e encenador. Em 1974 volta para Portugal, onde funda o Teatro O Bando. É autor de inúmeros artigos sobre teatro e o processo de criação n’ O Bando e de algumas comunicações feitas em Congressos da especialidade. Orienta estágios e cursos de formação no domínio do teatro. Encenou espectáculos ou eventos no âmbito da Europália e da Lisboa94 e dirigiu a Unidade de Espectáculos da Expo’98. Em 1999 recebe o grau de Comendador da Ordem do Mérito. Nos últimos anos, tem vindo a desenvolver uma reflexão e uma prática acerca do trabalho do actor que designa de Consciência do Actor em Cena, A primeira etapa desse estudo – que designa de “Dilatação do Tempo Presença” – é, aliás, o tema do workshop que dirige esta semana em Coimbra, no âmbito da residência organizada pel’A Escola da Noite.

A segunda conferência (sexta-feira, dia 22, também às 19h00) está a cargo de Anatoli Praudin, director artístico do Experimental Stage of Baltic House, de São Petersburgo (Rússia). Formado pelo Leningrad State Institute of Theatre, Music and Cinema, Anatoli Praudin está actualmente a iniciar o strabalhos de criação de um dos próximos espectáculos do bando, baseada na história de Pedro e Inês. Ao longo desta semana, Praudin e a dramaturgista alemã Odette Bereska realizam em Coimbra um estágio de criação a esse respeito, também integrado na residência artística. A conferência debruçar-se-á sobre o método de trabalho desenvolvido no grupo que dirige, o Experimental Stage of Baltic House, criado em 1999.

 

Nos mesmos dias das conferências, mas à noite (22h00) serão exibidos dois documentários recentemente realizados sobre o trabalho do bando: “Se podes olhar vê. Se podes ver, repara” (quinta-feira, dia 21) e “Ensaio sobre o teatro” (sexta-feira, dia 22). Ambos os filmes foram realizados por Rui Simões ao longo da preparação e da apresentação do espectáculo “Ensaio sobre a cegueira”, a partir do livro de José Saramago. Foram apresentados em vários festivais internacionais e galardoados com diversos prémios e distinções pelos respectivos júris.

 

Tanto as conferências como as exibições dos documentários terão lugar no bar do TCSB, sendo de entrada livre.

 

Residência artística REN do Teatro o bando
WORKSHOP, CONFERÊNCIAS E DOCUMENTÁRIOS

QUINTA-FEIRA, 21 de maio

10h00-18h00 – workshop | ”DILATAÇÃO DO TEMPO PRESENÇA: OFICINA SOBRE A CONSCIÊNCIA DO ACTOR EM CENA”

 19h00 – conferência | ”O actor no Teatro o bando”, por João Brites

 22h00 – documentário | “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

 

SEXTA-FEIRA, 22 de Maio

10h00-18h00 – workshop | ”DILATAÇÃO DO TEMPO PRESENÇA: OFICINA SOBRE A CONSCIÊNCIA DO ACTOR EM CENA”

 19h00 – conferência | ”O método do Experimental Stage of Baltic House”, por Anatoly Praudin

 22h00 – documentário | “Ensaio sobre o teatro”