Archive for Fevereiro, 2010

uma longa didascália

Quarta-feira, Fevereiro 24th, 2010

Na próxima semana, no dia 4 de Março, quinta-feira, Ana Bustorff estará em Coimbra no Teatro Académico Gil Vicente. Integrado no ciclo “do monólogo, coisa pública”, programado pel’A Escola da Noite, “Concerto à la carte“, espectáculo da Companhia de Teatro de Braga com encenação de Rui Madeira é um dos que marcam a XII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, com um exigentíssimo trabalho da actriz perante o texto (uma longa didascália) do dramaturgo alemão Franz Xaver Kroetz.

“A história dos dias da senhora Rasch, quando chega a casa, é assim. Um após o outro, todos iguais, frios, abandonados. A vidinha, como sói dizer-se, na mais crua das rotinas. E no mais pesado dos silêncios. Um desafio particular à expressividade de qualquer actriz: a senhora Rasch não dirá uma única palavra. O alemão Franz Xaver Kroetz retratou, em 1971, a solidão de uma mulher entregue à depressão e à obsessão pelas coisas arrumadas. No regresso à Companhia de Teatro de Braga, que assinala com esta peça a sua centésima produção, Ana Bustorff é a exímia solista deste concerto de sentimentos mudos.”


“Um ciclo de álbuns que abriu novos caminhos”

Terça-feira, Fevereiro 23rd, 2010

Enquanto António Pinho Vargas não chega ao palco do Teatro Académico de Gil Vicente, para o concerto comemorativo dos 720 anos da Universidade de Coimbra, naquele que é o primeiro espectáculo do ciclo “do monólogo, coisa pública”, pode ler aqui a entrevista que este compositor deu em Outubro passado a Nuno Galopim do “Diário de Notícias” — “Um ciclo de álbuns que abriu novos caminhos” — e que posteriormente foi publicada no blog sound–vision.blogspot.com.

Parte 1Parte 2Parte 3Parte 4Parte 5

Solo I e II | António Pinho Vargas | 1 de Março | segunda | 21h30 | Teatro Académico de Gil Vicente

Uma estreia elegante e cheia de estilo

Domingo, Fevereiro 21st, 2010

Integrado no ciclo INCORPORAÇÕES, amanhã, 22 de Fevereiro, pelas 21h30, projectamos “A Diva e os Gangsters”, de Jean-Jacques Beineix, numa versão legendada em inglês, e, ao contrário do inicialmente anunciado, o comentário é da responsabilidade de José Manuel Mendes, sociólogo, professor na FEUC e investigador do CES.
Os filmes do ciclo INCORPORAÇÕES são exibidos no bar do Teatro da Cerca de São Bernardo e têm entrada livre.

“A Diva e os Gangsters [Diva et les Gangsters]” SINOPSE Um jovem paquete parisiense faz uma gravação ilegal de um concerto da sua cantora de ópera favorita. Quando a cassete pirata é acidentalmente trocada com um vídeo de segurança que incrimina uns gangsters perigosos, dois killers psicopatas são enviados no seu encalce… Uma estreia elegante e cheia de estilo do realizador Jean-Jacques Beineix (“Betty Blue 37º 2 de Manhã”), que inclui uma inesquecível perseguição de mota pelas ruas e metropolitano de Paris. REALIZADOR Jean-Jacques Beineix INTÉRPRETES Frédéric Andréi, Roland Bertin, Richard Bohringer, Gérard Darmon, Chantal Deruaz. (França, 1981 – 113m).

el buen hacer de Pazó

Sábado, Fevereiro 20th, 2010

No próximo dia 3 de Março, às 21h30, regressa a Coimbra e ao Teatro da Cerca de São Bernardo o actor, encenador e actor galego Cándido Pazó. “Historias Tricolores ou de como aqueles animaliños proclamaron a república”, integrado no ciclo “do monólogo, coisa pública”, é o título do espectáculo que, de acordo com “La Voz de Galicia”, “[é] una propuesta unipersonal, a caballo entre la narración y el teatro: un texto divertido y emotivo, donde el cómico enlaza varias historias para reivindicar la memoria de dos personajes humildes y anónimos, en el complicado momento histórico que les tocó vivir. Así es «Historias tricolores»: directa y de recepción rápida como el monólogo cómico y el cuento de taberna, y cuidada en su puesta en escena, iluminación y sonido como una función teatral. Sin duda, una excelente oportunidad para volver a reencontrarse con el buen hacer de Pazó, o para quienes no lo conozcan, descubrir cómo borda las facetas de cómico y cuentista.”

1 a 6 de Março | seis monólogos

Sexta-feira, Fevereiro 19th, 2010

“O monólogo foi olhado durante séculos com uma indisfarçada desconfiança.

O realismo e o naturalismo toleravam-no, dentro da forma teatral, como excepção: era estático, anti-teatral, inverosímil.

Nos clássicos gregos e em Shakespeare, no entanto, a presença do solilóquio é exemplar. Como pensar peças como Medeia, Rei Édipo, Hamlet, Lear, sem a reflexão solipsista dos seus protagonistas?

A escrita contemporânea, em especial a escrita da segunda metade do século XX, caracteriza-se pela “destruição da dramaturgia dialógica”. Não se trata de uma substituição nem de uma menorização da palavra, mas de um outro entendimento da escrita, menos auto-suficiente e mais consciente da sua parte na organização cénica. O discurso cénico reorganiza-se de forma rapsódica, valoriza-se a colagem, o fragmento, a pulsão poética. Beckett, Heiner Müller, Handke, Kroetz, Gregory Motton e um sem número de dramaturgos escreveram, escrevem para um acto criativo que quer estabelecer um novo protocolo com o espectador entregando-lhe uma parte maior do que a mera decifração de um enredo, entregando-lhe dúvidas, perplexidades, partes ocas, buracos negros para que complete a sua leitura de uma forma crítica, criativa.

O monólogo, o solo, para além de meras razões económicas (que também as há), autonomizou-se mesmo da obra, deixou de ser parte para passar a ser um género próprio, uma forma autónoma cada vez mais cultivada.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas outras vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades, à insatisfação, à mutilação do desejo, ao abandono dos velhos, dos marginais, das crianças, dos desempregados, dos esfomeados. Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”

António Augusto Barros

Fotografias: António Pinho Vargas © Isabel Pinto; “Vulcão” © Margarida Dias; “Historias Tricolores” © Afonso Castro; “Concerto à la Carte”  ©  Paulo Nogueira; “Mary Stuart” e “Calendário da Pedra” ©  T. Stoklos Kignel.