Archive for the ‘Circulares à imprensa’ Category

“O Homem do Caminho”, de Plínio Marcos: A Escola da Noite e a Quinta Parede estreiam co-produção a 1 de Junho

Quinta-feira, Maio 25th, 2023

A Escola da Noite e a Quinta Parede estreiam em co-produção, no próximo dia 1 de Junho, no TCSB, “O Homem do Caminho”, de Plínio Marcos. Com encenação de José Caldas, o novo espectáculo fica em cena durante três semanas, de quarta a domingo.
Faça-nos companhia!

“O Homem do Caminho” é um monólogo teatral adaptado pelo autor brasileiro Plínio Marcos (1935-1999) a partir do conto “Sempre em frente”, que faz parte do segundo volume de “Histórias populares: canções e reflexões de um palhaço”, publicado em 1987. Com o mesmo título do monólogo, o texto foi posteriormente publicado como a terceira parte do livro de memórias circenses de Plínio Marcos, “O truque dos espelhos” (1999). É inspirado pelo universo circense e pela cultura cigana, com os quais Plínio conviveu de perto no início da sua carreira, nos seus tempos de palhaço Frajola.
Iur – a personagem única da peça – é um dos homens do caminho: anda sem termo, não teme fazer frente ao mistério e conta-nos esta história na primeira pessoa. Tem três nomes, sendo que um deles é desconhecido pelo próprio Iur. Essa condição é uma forma de enganar a morte: quando chegar a sua vez, ele não vai escutar o chamamento. Declara que um saltimbanco reúne três grandes artes: contar histórias, ser mestre de enganos, roubos e ilusões e o sexo. “O Homem do Caminho” apresenta as artes nómadas como um acto de libertação dos seus públicos, entre os quais se destacam, por um lado, os homens – “fixos” – associados a uma vida rígida, burocrática e repressiva; e, por outro lado, as mulheres – contidas, desoladas e silenciosas – presas às vidas “secas” ao lado dos “homens-pregos”.
As histórias de Iur oferecem uma reflexão sobre poder, egoísmo, manipulação, luta de classes e o sentido da existência humana, no limbo entre a liberdade e as amarras que a condicionam ou oprimem.

Allex Miranda e José Caldas (© Eduardo Pinto)

O espectáculo é a 76.ª criação d’A Escola da Noite e a terceira visita da companhia à obra de Plínio Marcos, depois de “Dois Perdidos Numa Noite Suja” (2004, com encenação de Sílvia Brito) e de “O Abajur Lilás” (2012, em co-produção com o Cendrev, encenação de António Augusto Barros). Insere-se na linha de trabalho dedicada à dramaturgia brasileira, que tem levado a companhia a apresentar obras de autores como Nelson Rodrigues (“A Serpente”, 1998), Cleise Mendes (“Noivas”, 2005) e Bosco Brasil (“Novas diretrizes em tempos de paz”, 2013).
José Caldas, encenador brasileiro há muitos anos radicado em Portugal, faz parte desse percurso da companhia – foi responsável pela encenação de “A Serpente”, estreada nos nossos primeiros anos de vida, na antiga sala-estúdio do Pátio da Inquisição. Na adaptação que fez para este espectáculo, Caldas (que partilha o palco com Allex Miranda e Juliana Roseiro) desdobrou as falas da personagem, acentuando o diálogo interior de Iur na reflexão que faz sobre o caminho que é preciso continuar a trilhar.
“O Homem do Caminho”, que foi apresentado em ante-estreia a 20 de Maio na Guiné-Bissau, estreia em Coimbra a 1 de Junho e mantém-se em cena no TCSB até dia 18, com sessões às quartas e quintas-feiras (19h00), às sextas e sábados (21h30) e aos domingos (16h00). É recomendado para maiores de 16 anos e tem a duração de 60 minutos. Os bilhetes, que já podem ser reservados pelos contactos habituais do TCSB (239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt) custam 10 Euros. O desconto de meio bilhete é aplicável a menores de 30 e a maiores de 65 anos, estudantes, desempregados/as, profissionais e amadores/as de teatro e às quintas-feiras (preço único).


TEATRO | ESTREIA
O Homem do Caminho, de Plínio Marcos
enc. José Caldas

A ESCOLA DA NOITE / QUINTA PAREDE
1 a 18 de Junho de 2023
quartas e quintas-feiras, 19h00
sextas-feiras e sábados, 21h30
domingos, 16h00
> M/16 > 60 min > 5 a 10€

Informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
bilheteira online

“Trabalhos da Casa”: quatro espectáculos para celebrar os 30 anos d’A Escola da Noite

Segunda-feira, Janeiro 10th, 2022

A Escola da Noite faz 30 anos. O ano de comemorações começa com “Trabalhos da Casa”, um ciclo de quatro dos seus mais recentes espectáculos, apresentado no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, entre Janeiro e Abril de 2022. O programa oferece a oportunidade ao público para ver ou rever peças de Gil Vicente, Matéi Visniec e Gonçalo M. Tavares, numa mostra de algumas das principais linhas de reportório que marcam o percurso da companhia. Os bilhetes já estão à venda e há um preço especial para quem quiser assistir às quatro produções.

A Escola da Noite fez a sua primeira prova pública de existência a 27 de Março de 1992, com a estreia de “Amado Monstro”, de Javier Tomeo. Desde então, estreou 72 novas criações, ao longo de três décadas de trabalho contínuo e regular, sem interregnos, que o grupo deseja celebrar com o público.
No seu manifesto inicial, de 1992, a companhia afirmava querer “contribuir, pela sua visão e interesses teatrais próprios, para a diversificação do olhar e do espectro de escolha do espectador”. “Importante para nós – afirmava-se – será que o público possa ler o nosso percurso e ir estabelecendo protocolos baseados no encontro possível das suas necessidades culturais com a nossa evolução”. Defendia-se, assim, a autonomia da criação artística, mas reservando um papel decisivo, constituinte e integrado no processo evolutivo da companhia, para um público que se desejava crítico e próximo.
O ciclo que abre as comemorações (cujo programa completo se estenderá até 27 de Março de 2023) promove essa proximidade e essa leitura do percurso artístico d’A Escola da Noite, oferecendo uma mostra representativa dos caminhos que o grupo foi abrindo e consolidando ao longo dos anos.
Os dois primeiros, em co-produção com o Cendrev, são as mais recentes abordagens d’A Escola da Noite ao universo vicentino. “Embarcação do Inferno” (estreado em 2016, com 180 sessões apresentadas numa notável carreira por todo o país) e “Floresta de Enganos” (estreado em Évora no passado mês de Dezembro) exprimem uma das marcas mais distintivas do reportório da companhia – a exploração da obra vicentina e o duplo desafio que ela encerra: encontrar novas formas para textos antigos e recriar, assim, o património dramatúrgico nacional, uma relevante tarefa de serviço público cultural.
Os dois outros espectáculos que voltam ao palco do TCSB – “Palhaço velho, precisa-se” e “Cidade, Diálogos” – são construídos a partir da escrita contemporânea, linha de trabalho que ocupa dois terços do conjunto das produções da companhia. “Palhaço velho, precisa-se” (estreado em 2020) é uma revisitação à obra do romeno Matéi Visniec, um dos mais importantes dramaturgos contemporâneos, de quem o grupo apresentou já dois outros espectáculos: “Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres” (2014) e “A mulher como campo de batalha” (2020). “Cidade, Diálogos”, que encerra a mostra “Trabalhos da Casa”, adapta uma obra não teatral de Gonçalo M. Tavares, prosseguindo assim uma via de experiências cénicas que a companhia tem empreendido com autores como Ruy Duarte de Carvalho, Kafka, Adélia Prado, Manoel de Barros, entre outros.

Calendário e preços
O ciclo de quatro espectáculos tem início a 20 de Janeiro, com a estreia em Coimbra de “Floresta de Enganos”, que fica em cena até 6 de Fevereiro, de quinta a domingo (excepto 30 de Janeiro, dia das eleições legislativas). Menos de duas semanas depois, começa a temporada para o público escolar de “Embarcação do Inferno”, entre 15 e 25 de Fevereiro, de terça a sexta-feira. A companhia apresenta ainda quatro sessões para o público em geral do mais conhecido texto de Gil Vicente, nos fins-de-semana de 19 e 20 e 26 e 27 de Fevereiro.
“Palhaço velho, precisa-se” cumpre uma temporada de duas semanas, entre 24 de Março e 3 de Abril, de quinta a domingo. “Cidade, Diálogos” estará em cena no TCSB entre 14 e 30 de Abril, também de quinta a domingo.
Os bilhetes custam 10 Euros (6 Euros para estudantes, jovens e maiores de 65 anos). O bilhete geral para os quatro espectáculos, que pode ser adquirido no TCSB, tem o preço de 20 Euros (5 Euros por sessão).

Ciclo comemorativo do 30.º aniversário d’A Escola da Noite
“Trabalhos da Casa”
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

“Floresta de Enganos” © Carolina Lecoq

TEATRO
Floresta de Enganos
de Gil Vicente
co-produção Cendrev / A Escola da Noite
[NOVAS DATAS] 20 de Janeiro a 6 de Fevereiro de 2022
quinta e sexta, 19h00
sábado, 21h30
domingo, 16h00

(excepto 30/01/2022)
M/12 > 70 min

“Embarcação do Inferno” © Paulo Nuno Silva

TEATRO
Embarcação do Inferno
de Gil Vicente
co-produção Cendrev / A Escola da Noite
19 a 27 de Fevereiro de 2022
sábado, 21h30
domingo, 16h00

(sessões para escolas: 15 a 25 de Fevereiro de 2022, terça a sexta-feira, 11h00 e 15h00)
M/12 > 60 min

“Palhaço velho, precisa-se” © Eduardo Pinto

TEATRO
Palhaço velho, precisa-se
de Matéi Visniec
24 de Março a 3 de Abril de 2022
quinta e sexta, 19h00
sábado, 21h30
domingo, 16h00

M/14 > 1h45, com intervalo

“Cidade, Diálogos” © Eduardo Pinto

TEATRO
Cidade, Diálogos
de Gonçalo M. Tavares
14 a 30 de Abril de 2022
quinta e sexta, 19h00
sábado, 21h30
domingo, 16h00

M/14 > 1h30


informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

“Cidade, Diálogos”, de Gonçalo M. Tavares: segunda semana da temporada

Terça-feira, Maio 18th, 2021
© Eduardo Pinto

A Escola da Noite prossegue esta semana a temporada da sua nova criação: “Cidade, Diálogos”, com textos de Gonçalo M. Tavares. O espectáculo tem encenação de António Augusto Barros e está em cena no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, até 30 de Maio, com sessões de quarta a domingo.

“Cidade, Diálogos” é a 71.ª criação d’A Escola da Noite. Construída a partir de textos do livro “O Torcicologologista, Excelência”, conta com as interpretações de Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia, espaço cénico de António Augusto Barros e João Mendes Ribeiro, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, luz de Danilo Pinto, som de Zé Diogo e vídeo de Eduardo Pinto.
Estreou no passado dia 13 e mantém-se em cena por mais duas semanas: até 30 de Maio, de quarta a sábado às 19h00 e aos domingos às 16h00. Devido às características do cenário e às limitações impostas pelas medidas de combate à Covid-19, a lotação é bastante reduzida. A companhia aconselha por isso a reserva ou a compra antecipada de bilhetes, pelos contactos habituais do Teatro ou através da ticketline.

O Torcicologologista, Excelência
Publicado pela Editorial Caminho em 2015, “O Torcicologologista, Excelência” divide-se em duas partes: “Diálogos” e “Cidade”.
Na primeira, “duas excelências, dois senhores que se tratam com muito respeito vão falando sobre várias questões e acima de tudo sobre o absurdo da linguagem, tentando entender o mundo e tentando entender os buracos da linguagem”. “O diálogo – afirmou Gonçalo M. Tavares a propósito deste livro – obriga a aparecerem coisas que não apareceriam de outra maneira. O diálogo verdadeiramente diálogo é aquele que me obriga a dizer algo que eu não diria se não tivesse um interlocutor”.
Na segunda parte, um número indeterminado de humanos cumpre um ritual de voyeurismo cínico. Através de microscópicas visões das pequenas tragédias, gestos, afectos, paixões e equívocos dos observados, parecem perseguir a utopia de radiografar, apreender, a vida da cidade, o pulsar da sua humanidade. “É uma espécie de zoom por uma cidade, tentando pensar o que é uma cidade”, afirmou o autor.

Cidade, Diálogos
O novo espectáculo d’A Escola da Noite cruza as duas partes do livro e prossegue a “investigação sobre a linguagem” que o próprio escritor assumiu como característica da obra: quanto às relações entre as palavras e o movimento, o espaço e a música e quanto ao lugar do indivíduo nesse processo de relação com o outro – emissão/recepção; fala/escuta; poder/submissão; pontos, meios e focos de observação das cidades e do mundo em que habitamos.
A escolha da obra de Gonçalo M. Tavares insere-se numa das linhas de trabalho em que assentam o projecto e a linguagem artística d’A Escola da Noite: a transposição cénica de textos não especificamente teatrais – poesia, contos, parábolas –, caminho que levou já a companhia a autores como Thomas Bernhard, Kafka, Ruy Duarte de Carvalho, Javier Tomeo ou José Rubem Fonseca, entre outros.

Gonçalo M. Tavares
Gonçalo M. Tavares nasceu em Luanda em 1970. É autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em cerca de cinquenta países. É considerado um dos mais inovadores escritores europeus, pela forma como rompe as habituais fronteiras entre géneros literários – “não há nenhum género literário puro, todos os géneros literários são impuros, mestiços, morenos, são géneros literários de infinitas raças simultâneas”, afirmou numa entrevista, em 2018. Foi distinguido com mais de vinte prémios literários, em Portugal e no estrangeiro.

TEATRO
Cidade, Diálogos
de Gonçalo M. Tavares
A Escola da Noite

textos Gonçalo M. Tavares
encenação António Augusto Barros
interpretação Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia
espaço cénico António Augusto Barros e João Mendes Ribeiro figurinos e adereços Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto som Zé Diogo vídeo Eduardo Pinto cabelos Carlos Gago
M/14 > 1h30

Coimbra
Teatro da Cerca de São Bernardo
13 a 30 de Maio de 2021
quarta a sábado, 19h00
domingos, 16h00

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
https://weblog.aescoladanoite.pt/cidade-dialogos-de-goncalo-m-tavares/

Covid-19 – Plano de Prevenção e Contingência do TCSB
De acordo com a Orientação da DGS 28/2020, de 28 de Maio, e o Plano de prevenção e contingência do TCSB, a lotação e a ocupação da sala estão condicionadas: os lugares são marcados e é respeitada a distância de uma cadeira entre cada lugar ocupado. É obrigatória a utilização de máscara no interior do Teatro e o cumprimento das demais condições de segurança indicadas à entrada do edifício.

Cidade, Diálogos estreia a 13 de Maio

Quarta-feira, Abril 28th, 2021
Cidade, Diálogos – foto de ensaio (© Eduardo Pinto)

A Escola da Noite estreia no próximo dia 13 de Maio, quinta-feira, “Cidade, Diálogos”. O espectáculo reúne mais de duas dezenas de textos de Gonçalo M. Tavares, seleccionados a partir do livro “O Torcicologologista, Excelência”. Os dias e as horas exactas das sessões serão anunciados no início da próxima semana, de acordo com as regras do desconfinamento que vierem a ser estabelecidas.

“Cidade, Diálogos” é a 71.ª criação d’A Escola da Noite e conta com encenação de António Augusto Barros, interpretação de Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia, espaço cénico de António Augusto Barros e João Mendes Ribeiro, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, luz de Danilo Pinto, som de Zé Diogo e vídeo de Eduardo Pinto.
Estreia a 13 de Maio no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, mantendo-se em temporada até ao final do mês, de acordo com um calendário a anunciar nos próximos dias, em função das limitações horárias impostas pelo combate à pandemia.

O Torcicologologista, Excelência
Publicado pela Editorial Caminho em 2015, o livro “O Torcicologologista, Excelência” divide-se em duas partes.
Na primeira, integralmente composta por diálogos, “duas excelências, dois senhores que se tratam com muito respeito vão falando sobre várias questões e acima de tudo sobre o absurdo da linguagem, tentando entender o mundo e tentando entender os buracos da linguagem”. A herança da tradição do “diálogo filosófico” é defendida pelo autor: “o diálogo obriga a aparecerem coisas que não apareceriam de outra maneira e é interessante que o diálogo platónico, de onde parte tudo, de alguma maneira, tinha muito esta ideia de que só é possível chegar à verdade através de duas pessoas. O diálogo verdadeiramente diálogo é aquele que me obriga a dizer algo que eu não diria se não tivesse um interlocutor”.
Na segunda parte do livro – “Cidade” – um número indeterminado de humanos cumpre um ritual de voyeurismo cínico. Parecem elaborar ou actualizar um relatório, aparentemente objectivo, sobre a vida íntima dos habitantes da cidade, identificados por números. Através de microscópicas visões das pequenas tragédias, gestos, afectos, paixões e equívocos dos observados, parecem perseguir a utopia de radiografar, apreender, a vida da cidade, o pulsar da sua humanidade. Desse gesto, porque são os observadores que produzem o discurso, afloram, inevitavelmente, interpretações e subjectividades. “É uma espécie de zoom por uma cidade, tentando pensar o que é uma cidade”, afirmou Gonçalo M. Tavares numa entrevista a propósito da edição do livro.

Cidade, Diálogos
O novo espectáculo d’A Escola da Noite cruza as duas partes do livro e prossegue a “investigação sobre a linguagem” que o próprio escritor assumiu como característica da obra: quanto às relações entre as palavras e o movimento, o espaço e a música e quanto ao lugar do indivíduo nesse processo de relação com o outro – emissão/recepção; fala/escuta; poder/submissão; pontos, meios e focos de observação das cidades e do mundo em que habitamos.
A escolha da obra de Gonçalo M. Tavares insere-se numa das linhas de trabalho em que assentam o projecto e a linguagem artística d’A Escola da Noite: a transposição cénica de textos não especificamente teatrais – poesia, contos, parábolas –, caminho que levou já a companhia a autores como Thomas Bernhard, Kafka, Ruy Duarte de Carvalho, Javier Tomeo ou José Rubem Fonseca, entre outros.

Gonçalo M. Tavares
Gonçalo M. Tavares nasceu em Luanda em 1970. É autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em cerca de cinquenta países. É considerado um dos mais inovadores escritores europeus, pela forma como rompe as habituais fronteiras entre géneros literários – “não há nenhum género literário puro, todos os géneros literários são impuros, mestiços, morenos, são géneros literários de infinitas raças simultâneas”, afirmou numa entrevista, em 2018. Foi distinguido com mais de vinte prémios literários, em Portugal e no estrangeiro.

TEATRO
Cidade, Diálogos
de Gonçalo M. Tavares
A Escola da Noite

textos Gonçalo M. Tavares
encenação António Augusto Barros
interpretação Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia
espaço cénico António Augusto Barros e João Mendes Ribeiro figurinos e adereços Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto som Zé Diogo vídeo Eduardo Pinto cabelos Carlos Gago
M/14 > 1h30

Coimbra
Teatro da Cerca de São Bernardo

estreia
13 de Maio de 2021
quinta-feira

Cidade, Diálogos: A Escola da Noite trabalha textos de Gonçalo M. Tavares

Segunda-feira, Abril 19th, 2021

A Escola da Noite está a ensaiar “Cidade, Diálogos”, com textos de Gonçalo M. Tavares seleccionados a partir do livro “O Torcicologologista, Excelência”. Encenado por António Augusto Barros, o espectáculo tem estreia prevista para a primeira quinzena de Maio, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra.

Gonçalo M. Tavares (© Lusa)

Publicado pela Editorial Caminho em 2015, “O Torcicologologista, Excelência” é definido pelo próprio autor como um “livro estranho”, “muito diferente”, que “tenho dificuldade em aproximar de qualquer outro”. A obra divide-se em duas partes. Na primeira, integralmente composta por diálogos, “duas excelências, dois senhores que se tratam com muito respeito vão falando sobre várias questões e acima de tudo sobre o absurdo da linguagem, tentando entender o mundo e tentando entender os buracos da linguagem”. Na segunda, assistimos a um exercício de observação das pessoas na cidade, identificadas por números. “É uma espécie de zoom por uma cidade, focando um homem que está doente, uma mulher que acabou de se divorciar, um homem que está a correr para ir buscar um filho, tentando pensar o que é uma cidade”, afirmou Gonçalo M. Tavares numa entrevista a propósito da edição do livro.

Cidade, Diálogos
A escolha da obra de Gonçalo M. Tavares insere-se numa das linhas de trabalho que definem o projecto d’A Escola da Noite: a transposição cénica de textos não especificamente teatrais – poesia, contos, parábolas –, caminho que levou já a companhia a autores como Thomas Bernhard, Kafka, Ruy Duarte de Carvalho, Javier Tomeo ou José Rubem Fonseca, entre outros.A forma dialogal em que se baseia a primeira parte de “O Torcicologologista, Excelência” é herdeira da tradição do “diálogo filosófico”, como o próprio autor assume: “o diálogo obriga a aparecerem coisas que não apareceriam de outra maneira e é interessante que o diálogo platónico, de onde parte tudo, de alguma maneira, tinha muito esta ideia de que só é possível chegar à verdade através de duas pessoas. O diálogo verdadeiramente diálogo é aquele que me obriga a dizer algo que eu não diria se não tivesse um interlocutor”. Ainda que distante do género teatral, esta tradição encontra-se com o Teatro na obra de autores como Samuel Beckett, cuja obra A Escola da Noite já visitou por duas vezes e que é figura central no único livro de Gonçalo M. Tavares definido como Teatro: “A colher de Samuel Beckett e outros textos” (Campo das Letras, 2003).

Na segunda parte do livro – “Cidade” – um número indeterminado de humanos cumpre um ritual de voyeurismo cínico. Parecem elaborar ou actualizar um relatório, aparentemente objectivo, sobre a vida íntima dos habitantes da cidade, através de microscópicas visões das suas pequenas tragédias, gestos, afectos, paixões, equívocos. Parecem perseguir a utopia de radiografar, apreender, a vida da cidade, o pulsar da sua humanidade. Desse gesto, porque são os observadores que produzem o discurso, afloram, inevitavelmente, interpretações e subjectividades.

Com um espaço cénico que tira partido da versatilidade do Teatro da Cerca de São Bernardo e que irá surpreender os espectadores, o novo espectáculo d’A Escola da Noite prossegue a “investigação sobre a linguagem” que o próprio Gonçalo M. Tavares assumiu como característica deste livro: quanto às relações entre as palavras e o movimento, o espaço e a música e quanto ao lugar do ser humano nesse processo de relação com o outro – emissão/recepção; fala/escuta; poder/submissão; pontos, meios e focos de observação das cidades e do mundo em que habitamos.

Gonçalo M. Tavares
Gonçalo M. Tavares nasceu em Luanda em 1970. É autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em cerca de cinquenta países. É considerado um dos mais inovadores escritores europeus, pela forma como rompe as habituais fronteiras entre géneros literários – “não há nenhum género literário puro, todos os géneros literários são impuros, mestiços, morenos, são géneros literários de infinitas raças simultâneas”, afirmou numa entrevista, em 2018.
Foi distinguido com mais de vinte prémios literários, em Portugal e no estrangeiro: Prémio Fernando Namora (“Uma viagem à Índia”, 2012); Grande Prémio de Romance e Novela da APE e Prémio Fundação Inês de Castro (“Uma viagem à Índia”, 2011); Prix du Meilleur Livre Étranger – França (“Aprender a rezar na era da técnica”, 2010); Premio Internazionale Trieste Poesia – Itália (“1”, 2008); Prémio Oceanos – Brasil (“Jerusalém”, 2007); Prémio José Saramago (“Jerusalém”, 2005), entre outros. Em 2018, recebeu o primeiro prémio pelo conjunto da sua obra, o Prémio Literário Vergílio Ferreira, pela “originalidade da sua obra ficcional e ensaística, marcada pela construção de mundos que entrecruzam diferentes linguagens e imaginários”.

As artes no centro de uma reflexão persistente
Tal como a dança, o cinema e as artes plásticas, também a forma teatral ou para-teatral está presente em muitas das suas ficções e investigações. A publicação do “Atlas do Corpo e da Imaginação” (Caminho, 2013) confirma que as artes são o centro de uma reflexão persistente no trabalho de Gonçalo M. Tavares. Estas incursões no terreno das artes têm feito com que os seus textos saltem dos livros e se repercutam em experiências próprias (com o grupo “Os Espacialistas”) ou em explorações alheias que têm dado origem a objectos artísticos miscigenados e a vários espectáculos de teatro e dança. Numa entrevista recente ao Jornal de Letras, o autor mostra-se satisfeito com essa realidade: “Muitos dos meus livros têm, de facto, dado origem a coisas fora da literatura. Transitam por várias fronteiras. E essa é uma das coisas mais interessantes e até recompensadoras, para mim, ver que saem do leitor e entram no domínio da dança, do teatro, da performance, do vídeo. Há sempre alguém a fazer qualquer coisa sobre os meus textos, uma espécie de leitores-criadores. É uma resposta criativa a uma criação”.
A Escola da Noite vem agora juntar-se a esse caudal com “Cidade, Diálogos”, a 71.ª criação do seu percurso artístico, que contará com as interpretações de Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia.