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5 anos de TCSB: Uma carta coreográfica

Domingo, Fevereiro 24th, 2013

Entre 29 de Abril e 23 de Maio de 2009, o TCSB foi um dos Teatros portugueses a acolher a exposição “uma carta coreográfica“, uma iniciativa da Direcção-Geral das Artes, comissariada pela coreógrafa Madalena Victorino.

A inauguração aconteceu no primeiro Dia Mundial da Dança passado pel’A Escola da Noite na Cerca de São Bernardo e este blogue conserva até hoje algumas das imagens e dos textos mais significativos da exposição.

5 anos de TCSB [2008 – 2013]

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Uma carta coreográfica: últimos dias*

Sexta-feira, Maio 29th, 2009
© Hans Koster | "Freeze-Frame 308-69-2006", 2006 

 

© Hans Koster | "Freeze-Frame 308-69-2006", 2006

 

Imagine que os seus sapatos pisam a relva. Olhe para ela e lembre-se do primeiro desenho desta exposição. Ponha a sua mão no pescoço e, com a ajuda do toque, recorde-se do que estava desenhado no seu interior.

Agora, observe-se a andar. Observe-se por dentro a andar. Pense nos feixes de músculos necessários para que um passo se realize, na passagem do sangue dentro das veias, nos ossos que se articulam e que são as âncoras dos músculos. Tudo se move para que ande, ande pela relva.


Continue a andar sem se impor um destino concreto. Pense no seu andar ao sair da fotografia. É um andar leve? Hesitante? É forte a maneira como transporta o seu peso de um pé para o outro? Que ritmo têm os seus passos?

E o caminho que pisa, como é? Já pensou no que está por debaixo do chão? Na camada mais próxima dos seus pés e nas que se sucedem em direcção ao fundo da terra? Se se levantasse o chão debaixo dos seus pés, como reagiria?

Que direcção toma? Para onde olha? E as mãos? Onde e como estão? A coluna? Flexível, ao ritmo do seu pisar? Já cedeu? Sente as ancas a moverem-se quase livremente, ajudando as pernas a andar?

E a forma como as pernas indicam aos pés que andem?

E os pulmões, está a ouvi-los? E os passos que agora dá? Está a vê-los? Observe as suas pernas, os seus pés a andar. Veja como se colocam um atrás do outro, e o peso para a frente. Estão a andar à sua frente?!…

Observe e continue a andar. É a dança que os move.

Aproveite… aproveite agora e sorria.

As suas ideias e o seu corpo acabaram de se encontrar por um instante.

Nesse instante, ao mover-se e ao observar-se, os seus passos ganham imagens e sentidos desconhecidos e assim nascem fábulas nas plantas dos seus pés… As suas fábulas.

 

 

* Ao longo do último mês, A Escola da Noite publicou algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. No blog, ela termina aqui. No Teatro, pode visitá-la até amanhã, às 19h00. Vale a pena!

danças em casas*

Quinta-feira, Maio 28th, 2009
© Nikolais/Louis Foundation for Dance | "Girls Trio, Vaudeville of the Elements", Alwin Nikolais

© Nikolais/Louis Foundation for Dance | "Girls Trio, Vaudeville of the Elements", Alwin Nikolais

 

Oitava Fábula

O vestido ovo da avó que abraçava o redondo.

Ovo, vestir o outro com o nosso corpo, quando a coluna visita a oval, amolecer, contorcer, partir, desenrolar, desequilibrar

Vestir, desdobrar-se por camadas, deitar-se dentro de um ovo, abraçar-se a si

Dançar dentro de uma caixa para fazer mais ovos.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Nós vivemos dentro de um vestido transparente que viaja connosco para todo o lado. Tem o tamanho dos nossos braços e pernas quando os abrimos em leque a toda a volta. Este vestido, que é como um ovo, aumenta e diminui conforme queremos. Pode conter a nossa pessoa. Pode viajar connosco para todo o sempre. Podemos embrulhá-lo num lençol quando nos deitamos.

Saia da casca do seu espaço.

Vá com a testa ao encontro dos seus joelhos.

Faça dos seus braços que giram à sua volta uma saia redonda e forte.

Abrace os seus braços atrás de si e olhe o céu.

Transporte esse azul do céu com o seu olhar, desde o alto, até ao colo.

Use agora o redondo que ficou nos braços para os abrir e envolver com todo o seu comprimento uma avó que surge do seu colo, feita de cascas de ovo.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças em casas” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

danças a céu aberto*

Quarta-feira, Maio 27th, 2009

© José Manuel | "A Sagração da Primavera", Pina Bausch, 1994

© José Manuel | "A Sagração da Primavera", Pina Bausch, 1994

Sétima Fábula

O avanço da multidão como canção antiga.

Coro, a massa do grupo que invade e se evade, tornado de gente, corais que entoam sons, a escavação de uma energia selvagem, animais em conversas de movimentos

Batalha, o corpo como campo de batalha, vendavais humanos, braços e peito como facas, o homem como animal e o movimento como grito

A água do corpo é a chuva da vida.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

(Num coro de movimento)

Se conseguíssemos correr dentro do espaço onde nos encontramos por uma boa meia hora, e o imaginássemos coberto de terra, começaríamos a sentir o “íman” que os corpos sentem e não sentem uns pelos outros quando estão juntos. Podemos pensar, enquanto corremos, que somos um coro humano num campo de batalha que trespassa o ar com as facas do nosso peito. No cansaço da correria, ouvimos a música dos nossos pulmões. Podemos imaginar o vento dentro da sala e aí viramos o corpo, inclinamos a coluna, recuamos, avançamos em grupo, como uma massa humana que invade e foge do mundo quotidiano. Decerto que neste momento conheceríamos a chuva da vida, que é a água que transpira dos nossos corpos quando nos damos todos àquilo que há para fazer.

Talvez alguém gostasse de entoar uma canção sua e os outros poderiam seguir o som com a sua própria voz…

Releia tudo dançando (com alguém).

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças a céu aberto” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

Uma carta coreográfica: última semana no TCSB

Terça-feira, Maio 26th, 2009

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ucc61(mais fotos)

A exposição “Uma carta coreográfica” acaba de entrar na sua última semana de exibição ao público no Teatro da Cerca de São Bernardo.

Comissariada pela coreógrafa Madalena Victorino, trata-se de uma iniciativa da Direcção-Geral das Artes do Ministério da Cultura, no âmbito do Programa Territórioartes. Foi concebida para assinalar o Dia Mundial da Dança (comemorado no passado dia 29 de Abril), mantendo-se desde então patente ao público em várias centenas de locais por todo o país. 

A Escola da Noite associou-se a este “Acção de Grande Envolvimento Nacional” e acolhe-a no TCSB, onde pode ser visitada de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h30-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Está organizada em duas “estações” – “O corpo como adivinha” e “a dança como fábula” – cada uma delas composta por nove painéis com fotografias seleccionadas e um conjunto de textos que desafiam o visitante a experimentar gestos e movimentos com o seu próprio corpo. Assumindo o seu carácter pedagógico, ela está no entanto pensada para público de todas as idades, constituindo-se como um instrumento muito interessante para a divulgação da dança e para a sensibilização dos visitantes para esta forma de expressão artística.

Para além do acolhimento no TCSB, A Escola da Noite tem ainda vindo a publicar algumas das imagens que integram a exposição e os textos que as acompanham no seu blog (weblog.aescoladanoite.pt), permitindo uma espécie de “visita virtual” que, ainda assim, não substitui uma vinda ao Teatro.

Para além do Teatro da Cerca de São Bernardo, só na cidade de Coimbra esta exposição pode também ser visitada no TAGV, no ACM, no Ateneu, na Casa Municipal da Cultura, no Centro Popular de Trabalhadores de Sobral de Ceira, no Centro Social de São João (Pé de Cão), no Centro Norton de Matos e no Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila.

Para ver só até ao próximo sábado, dia 30 de Maio.

(consulte aqui mais fotos da instalação que fizemos desta exposição).