Posts Tagged ‘TerritorioArtes’

Uma carta coreográfica: última semana no TCSB

Terça-feira, Maio 26th, 2009

ucc13

ucc31

ucc51

ucc61(mais fotos)

A exposição “Uma carta coreográfica” acaba de entrar na sua última semana de exibição ao público no Teatro da Cerca de São Bernardo.

Comissariada pela coreógrafa Madalena Victorino, trata-se de uma iniciativa da Direcção-Geral das Artes do Ministério da Cultura, no âmbito do Programa Territórioartes. Foi concebida para assinalar o Dia Mundial da Dança (comemorado no passado dia 29 de Abril), mantendo-se desde então patente ao público em várias centenas de locais por todo o país. 

A Escola da Noite associou-se a este “Acção de Grande Envolvimento Nacional” e acolhe-a no TCSB, onde pode ser visitada de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h30-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Está organizada em duas “estações” – “O corpo como adivinha” e “a dança como fábula” – cada uma delas composta por nove painéis com fotografias seleccionadas e um conjunto de textos que desafiam o visitante a experimentar gestos e movimentos com o seu próprio corpo. Assumindo o seu carácter pedagógico, ela está no entanto pensada para público de todas as idades, constituindo-se como um instrumento muito interessante para a divulgação da dança e para a sensibilização dos visitantes para esta forma de expressão artística.

Para além do acolhimento no TCSB, A Escola da Noite tem ainda vindo a publicar algumas das imagens que integram a exposição e os textos que as acompanham no seu blog (weblog.aescoladanoite.pt), permitindo uma espécie de “visita virtual” que, ainda assim, não substitui uma vinda ao Teatro.

Para além do Teatro da Cerca de São Bernardo, só na cidade de Coimbra esta exposição pode também ser visitada no TAGV, no ACM, no Ateneu, na Casa Municipal da Cultura, no Centro Popular de Trabalhadores de Sobral de Ceira, no Centro Social de São João (Pé de Cão), no Centro Norton de Matos e no Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila.

Para ver só até ao próximo sábado, dia 30 de Maio.

(consulte aqui mais fotos da instalação que fizemos desta exposição).

danças que fervem*

Terça-feira, Maio 26th, 2009

 

© Arthur Elgort | "Jane Comfort, Deportment", 1991

© Arthur Elgort | "Jane Comfort, Deportment", 1991

Sexta Fábula

Um baile que morde.

Transpirar, chorar a quatro braços, gritar com as pernas, com as botas, com os olhos em bico, evaporar, fazer-se morto, encontrar o abismo do corpo do outro, ceder ao ritmo da fúria, ter o corpo em temperatura máxima

Enfurecer e calar a água com a voz e os dedos.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Era uma vez uma festa que começou muito bem. Raparigas e rapazes bem vestidos, todos alegres, muita música que convidava a dançar. Não se sabe porquês, um rapaz morde o braço de uma rapariga.

Um homem disfarçado de monge oriental entorta os olhos e grita tanto que o chão reage,levanta-se e dele nasce água, que faz os corpos escorregarem.

Uns caem, outro srezam, outros ainda tentam calar o monge e uma mulher-pássaro sobe a um ninho de ferro que, surgido como que por milagre, empurra com o seu grito e as suas pernas esta tragédia.

Todos começam a tentar fugir e a morder o ar que finalmente respiram, sem abismos.

Morda o seu próprio braço.

Entorte os olhos e grite muito, mas silenciosamente para não provocar reacção no chão.

Caia, reze e mande calar toda a gente.

Transforme-se numa mulher-pássaro e empurre esta festa com o seu grito silencioso e as suas pernas, escorregando até ao próximo painel.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que fervem” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

danças que arriscam

Segunda-feira, Maio 25th, 2009

 

© Lois Greenfield | "Davis Parsons, Daniel Ezralow, Ashley Roland", 1986

© Lois Greenfield | "Davis Parsons, Daniel Ezralow, Ashley Roland", 1986

Quinta Fábula

Os homens-rã presos pelo cordão de ar.

Quase, saltar e fugir do espaço, sentar-se no ar, voar de lado

Risco, conflito aéreo, cair no vazio, dizer adeus ao mundo direito

Ser a forma do ar.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Imagine que um dia acorda e há uma força na vida que mudou: em vez de tudo estar a puxar para baixo, tudo puxa para cima. Experimente a sensação de ver as suas pernas ganharem molas nos joelhos e andarem com outra ligeireza, a ligeireza das rãs.

O seu corpo é puxado de lado para o alto.

As suas mãos abandonam o peso habitual e sobem sozinhas, elevando os braços para o voo.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que arriscam” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

danças que prendem*

Domingo, Maio 24th, 2009
© Kurt Van der Elst | "Corpus Bach", Sidi Larbi Cherkaoui, 2003

© Kurt Van der Elst | "Corpus Bach", Sidi Larbi Cherkaoui, 2003

Quarta Fábula

A rapariga que inclinava paredes.

Raiz, espalhar casas por todo o lado para fazer o nosso mundo, caminhar para dentro da terra usando as mãos como pás aéreas, pregar a cabeça à terra e existir ao contrário

Diagonal, abismo, ter os pés colados à terra e desafiar o equilíbrio, inclinar-se sem cair, enterrar-se sem morrer e encontrar-se na inclinação para um beijo de testas

Fazer dos dedos as pernas e tornar-se um gigante.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Era uma vez uma rapariga que olhou para os seus dedos e viu as suas pernas, pegou no seu braço e fez dele uma parede inclinada. Essa parede transformou-se no céu que cobre a sua aldeia. Dos seus caracóis fez uma vassoura com a qual varreu todas as maldades que corriam de boca em boca.

Ponha os braços em forma de ventoinha e abra com o corpo em rodopio muitas pequenas casas redondas e rectangulares.

Com as mãos, revolva o seu cabelo para conhecer como dançam as vassouras.

Faça dos seus dedos as suas pernas e transforme a pele do seu braço numa montanha por onde passeia.

Veja a aldeia de abraços por baixo de si e incline-se para a frente sem cair. Continue a inclinar-se até ao ponto de se tornar na metade de um telhado gigante que guarda a sua aldeia.

Entretanto, pode limpar as ruas imaginárias desse mundo feito do seu corpo com as pontas do seu cabelo e ver-se a si próprio virado ao contrário e em ponto pequeno.

Agora, encontre alguém a quem encostar a sua testa para sentir o que é o beijo das grandes montanhas.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que prendem” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

danças da luz*

Sexta-feira, Maio 22nd, 2009

 

© José Manuel | "Viktor", Pina Bausch, 1994

© José Manuel | "Viktor", Pina Bausch, 1994

Terceira fábula

Os dentes da princesa sem braços.

Braços, acreditar no fazer sem usar o sbraços, prender alguém sem abraçar

Dentes, sorrir com os olhos, fazer covinhas no sorriso, chamar sem usar a voz

Mostrar a beleza do corpo incompleto.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Por vezes, as mãos e os braços não servem para nada. Isto se houver dentes, olhos e sorrisos que os saibam substituir. Hoje em dia, existem no campo e na cidade princesas que vivem incógnitas. Elas, só com os seus dentes muito brancos, os seus olhos de qualquer cor e os seus lábios que rasgam sorrisos preciosos, conseguem por um instante feito de luz, cor e transparências. E assim, sem necessitar de usar os braços que não têm, aprisionam-nos para sempre. Este instante duradouro chama-se amor à primeira e à última vista.

Faça de princesa: fixe um ponto desejado. Exercite a luz do seu olhar, focando, piscando, batendo as pálpebras como asas de insecto, recolhendo os olhos demoradamente, para os abrir em simultâneo com um sorriso novo.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com “danças da luz” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.