Posts Tagged ‘Paulo Nuno Silva’

últimos dias

Sexta-feira, Maio 25th, 2012

Ainda tem um fim-de-semana inteiro para assistir aos mais recentes espectáculos d’A Escola da Noite:

Santíssima Apunhalada

de Antonio Onetti

sexta, sábado e domingo – 19h00

Miguel Magalhães e Igor Lebreaud, "Santíssima Apunhalada" (foto: Eduardo Pinto)

O Abajur Lilás

de Plínio Marcos

(co-produção com o Cendrev)

sexta e sábado – 21h30; domingo, 16h00

Miguel Lança, Rosário Gonzaga e José Russo, "O Abajur Lilás" (foto: Paulo Nuno Silva)

Esperamos por si!

esta co-produção

Sexta-feira, Abril 20th, 2012

"O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno Silva)

O Cendrev e A Escola da Noite pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal, iniciadas há cerca de 40 e 20 anos, respectivamente. O facto de este conceito continuar hoje na ordem do dia e entre as supostas “prioridades” do Governo mostra uma de duas coisas: ou estas companhias (e as suas congéneres espalhadas pelas principais cidades do país) eram particularmente visionárias, ou as políticas de desenvolvimento cultural adoptadas nas últimas décadas foram mesmo inconsequentes.
Os projectos artísticos das duas companhias são indissociáveis das cidades que escolheram para se instalar. Também graças a elas e ao trabalho que têm desenvolvido, é hoje mais difícil imaginar uma cidade média sem estruturas de criação artística que estreiem regularmente espectáculos, que formem novos profissionais, que estabeleçam pontes com as comunidades escolares e universitárias, que apoiem e acolham projectos de novos criadores, que façam parcerias e intercâmbios com outros artistas e companhias, que organizem festivais e dinamizem programações, que justifiquem a construção ou a recuperação de teatros e assegurem o seu funcionamento diário.
Muitas vezes resistindo contra a indiferença, a incompreensão e até (em contextos especiais e felizmente efémeros) à hostilidade daquelas e daqueles que temporariamente são encarregados da coisa pública, o Cendrev e A Escola da Noite têm desta forma ajudado a concretizar a democracia, nas suas cidades e no país. Com o seu trabalho, estas duas companhias e os restantes grupos que prestam serviço público em Portugal têm contribuído para tornar realmente adquirido um direito que só em 1975 ficou formalmente consagrado – o direito de todos os cidadãos à criação e à fruição artística.
Nos dias que correm, esse facto comporta dois perigos, em relação aos quais é necessário que todos (públicos incluídos) estejamos alerta. Por um lado, quem hoje ousa falar e defender direitos adquiridos – da cultura à saúde, da educação ao trabalho e à protecção social – é tratado com desdém e considerado ultrapassado, sobretudo por parte daqueles que, realmente, sempre tiveram tais direitos garantidos. Por outro lado, como apesar das dificuldades que sempre enfrentaram as companhias têm continuado a trabalhar, poucos são os que acreditam que os direitos que elas ajudaram a tornar adquiridos possam voltar a deixar de o ser. E que companhias como o Cendrev e A Escola da Noite deixem de ter condições para existir, ou que teatros municipais como o Garcia de Resende (cujo 120.º aniversário se comemora este ano) e o Teatro da Cerca de São Bernardo deixem de ter profissionais qualificados a assegurar o seu funcionamento regular.
Mais do que em qualquer outro momento nas vidas destas duas companhias, é isto o que está em causa. Mas não é uma inevitabilidade. A concretização desta ameaça dependerá da forma como quisermos e conseguirmos (criadores e espectadores) fazer-lhe frente. Para começar, é preciso levá-la a sério.

A oportunidade para esta co-produção em concreto (a primeira entre as duas companhias) surgiu de forma inesperada no final do ano passado, quando projectávamos os nossos planos de actividade para 2012. Mas as condições para o seu sucesso vêm sendo trabalhadas há muito: o Cendrev e A Escola da Noite são parceiros em vários projectos (Plataforma das Companhias, rede Culturbe, entre outros) e souberam construir entre si uma relação de cumplicidade, que o presente processo veio reforçar.
Montar uma co-produção comporta sempre riscos adicionais. Obriga as estruturas e as pessoas que as compõem a confrontar-se com diferentes linguagens, métodos e processos de trabalho. Obriga a que os intervenientes sejam capazes de se colocar no lugar do outro e que estejam disponíveis para a troca. É por isso e nessas condições, mais do que meras razões de contabilidade e de contenção de custos, que gostamos de as fazer. É por isso e pelo facto de o termos conseguido que, para além do resultado final que agora apresentamos ao público, sentimos ter vencido o desafio e que saímos mais fortes para enfrentar o que aí vem.
Tal como Plínio Marcos nos mostra neste texto, há sempre diferentes formas de reagir perante uma situação de opressão ou de violência ilegítima. Habituados a estas andanças, nós gostamos de as combinar: o pragmatismo e a necessidade de continuar a trabalhar (quase) como se nada fosse, porque interesses mais altos se levantam; a irresistível tentação de explodir de vez em quando, porque há limites que não podem ser ultrapassados; a serena (e irresponsável?) convicção de que tudo isto é passageiro e de que os Giros e os respectivos capangas que hoje nos atormentam (e as sombras que eles nos recordam) não levarão a melhor.
Animam-nos dois factores adicionais, com que as personagens de Plínio não podiam contar: o “amor à arte” e a solidariedade dos clientes.

A Escola da Noite / CENDREV,
Abril de 2012.

in programa do espectáculo

ensaio geral

Quarta-feira, Abril 18th, 2012

Rosário Gonzaga e José Russo em "O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno SIlva)

 

Maria João Robalo, Ana Meira e José Russo em "O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno Silva)

Hoje é dia de ensaio geral.

Esperamos por si a partir de amanhã, no Teatro de Garcia de Resende, em Évora.

 

“O Abajur Lilás” estreia esta semana no Garcia de Resende

Segunda-feira, Abril 16th, 2012

Estreia esta quinta-feira em Évora, no Teatro Garcia de Resende, “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. O espectáculo é uma co-produção entre A Escola da Noite e o Cendrev e tem encenação de António Augusto Barros, que dirige um elenco com actores das duas companhias.

 

Rosário Gonzaga em "O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno Silva)

Maria João Robalo e José Russo em "O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno Silva)

Três prostitutas – Dilma, Célia e Leninha (interpretadas, respectivamente, por Rosário Gonzaga, Ana Meira e Maria João Robalo) – partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo (Giro/José Russo) exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga (Miguel Lança). As relações entre as diferentes personagens são utilizadas por Plínio Marcos para falar da situação do Brasil na década de 60, sob a ditadura – a peça foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, “O Abajur Lilás” viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração. Sábato Magaldi, crítico brasileiro, considerou-a como “a mais incisiva, dura e violenta” das peças que analisaram a situação brasileira pós-1964 (data do golpe de estado que instituiu a ditadura militar) e afirmou que ela servia “de desnudamento de um período de terror”. Salientou, também, a universalidade e a intemporalidade do tema que, metaforicamente, percorre toda a obra: ela é “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”.

Um português amplo

Reconhecido pela linguagem marginal que utilizava nas suas peças, Plínio Marcos assumia a intenção: “escrevia como se falava nas cadeias. Como se falava nos puteiros. Se o pessoal das faculdades de linguística começou a usar minhas peças nas suas aulas e pesquisas, que bom! Isso era uma contribuição para o melhor entendimento entre as classes sociais”. “O Abajur Lilás” está carregado dessa gíria específica, identificado com a zona portuária da cidade de Santos (São Paulo), de onde o autor era natural. Mas Plínio acrescentava sempre expressões e palavras novas, criadas por si, repletas de significado, força e poesia. Propositadamente, a versão apresentada pelo Cendrev e pel’A Escola da Noite respeita o texto original praticamente na íntegra. Por um lado, porque seria impossível fazer uma adaptação ao “português de Portugal” sem afectar a estrutura original da peça; por outro lado, porque este português amplo oferece ao espectador um surpreendente conjunto de palavras e expressões pouco utilizadas na linguagem do dia a dia mas que fazem parte da diversidade e da riqueza da língua portuguesa, que demasiadas vezes permanecem esquecidas.

Esta co-produção

O Cendrev (fundado em 1975) e A Escola da Noite (fundada em 1992) pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal e mantêm há muito relações de colaboração e intercâmbio. “O Abajur Lilás” é a primeira co-produção entre os dois grupos. Depois da estreia e da temporada em Évora, no Teatro Garcia de Resende (19 a 28 de Abril), o espectáculo será apresentado em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, a partir de 16 de Maio.

 

O Abajur Lilás

de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho música André Penas

Évora, Teatro Garcia de Resende

19 a 28 de Abril quarta a sábado, 21h30; domingo, 16h00

M/16 > 4 a 8,00 Euros > 1h40, com intervalo

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

16 a 27 de Maio e 21 de Junho a 1 de Julho