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Festival em Campo Benfeito: Companhias de teatro lamentam ausência da DGArtes e recomendam medidas aos decisores políticos

Domingo, Junho 14th, 2009

 

 

Terminou hoje, em Campo Benfeito, o III Festival das Companhias Descentralizadas, organizado pelo Teatro de Montemuro e que contou com a participação das outras cinco companhias de teatro profissional que integram a Plataforma das Companhias: A Escola da Noite (Coimbra), ACTA (Algarve), Centro Dramático de Évora, Companhia de Teatro de Braga e Teatro das Beiras (Covilhã).

Envolvendo directamente mais de 60 pessoas, o programa do Festival incluíu a apresentação de seis espectáculos (um por cada companhia), um workshop de escrita criativa com o dramaturgo Abel Neves, um workshop de teatro a cargo do grupo anfitrião, um debate sobre “O teatro na descentralização” (com a presença do Director Regional da Cultura do Centro) e ainda contactos informais com uma centenária associação cultural do concelho de Castro Daire, a propósito do trabalho artístico com jovens. As iniciativas espalharam-se por quatro localidades de dois concelhos da região – Campo Benfeito, Carvalhal, Castro Daire e Lamego – e integraram a programação de três salas: Espaço Montemuro, Auditório Municipal de Castro Daire e Teatro Ribeiro Conceição. Assistiram aos espectáculos cerca de 700 pessoas, o que representa uma média superior a 100 espectadores por sessão.

 

Um Festival em crescimento

A ideia do Festival das Companhias surgiu em 2005, na sequência dos contactos que vinham sendo estabelecidos entre estas seis companhias, organizadas informalmente numa Plataforma de debate, intercâmbio e colaboração. Para além de potenciar o conhecimento do trabalho que as suas congéneres vão realizando (objectivo a que estas seis companhias continuam a atribuir a maior importância), ele permite, de acordo com a lógica de rotatividade que vem seguindo, que as companhias de cada cidade apresentem aos seus públicos, de uma forma organizada, os espectáculos das estruturas de criação que com elas partilham este projecto.

Entre Faro (2005), Braga (2008) e agora Montemuro, o modelo do Festival tem vindo a ser aperfeiçoado, nomeadamente com a introdução de iniciativas paralelas à apresentação dos espectáculos, quer no âmbito da formação, quer aproveitando estas oportunidades para suscitar momentos de reflexão sobre áreas directamente relacionadas com o trabalho dos grupos – ao nível artístico e em matéria de política cultural. Simultaneamente, tem vindo a ser aumentado o tempo de encontro efectivo entre os diversos elementos que compõem cada companhia, de modo a fomentar um verdadeiro entrosamento entre os grupos. É por isso que todos os grupos tentam permanecer no local do Festival o maior tempo possível e com o maior número possível de pessoas – assim podem assistir aos espectáculos, mas também conhecer os colegas dos outros grupos com quem, ao longo do ano, vão comunicando e colaborando apenas à distância ou nos vários intercâmbios bilaterais estabelecidos entre estas companhias.

 

O conceito de “companhia”

Na origem do trabalho conjunto desenvolvido por estes grupos está a consciência partilhada por todos de  que vale a pena, independentemente das diferenças estéticas que as caracterizam e que são mutuamente respeitadas, valorizar os múltiplos aspectos que as unem, decorrentes de duas marcas fundamentais: são companhias de teatro, com vários anos de existência tão estável quanto isso é possível na actual conjuntura nacional; e estão sediadas fora de Lisboa e Porto, assegurando uma significativa representatividade do chamado “resto do país” (num eixo que vai do Minho ao Algarve, passando pelo interior do território continental, e que cobre algumas das principais cidades médias portuguesas, como Braga, Coimbra, Covilhã, Évora e Faro).

Une-as igualmente a constatação que fazem dos contributos que têm dado para o desenvolvimento cultural das cidades onde estão sediadas. Mesmo apenas em termos quantitativos, será fácil somar o número de espectáculos anualmente apresentados por estes grupos (seguramente mais de 600), o número de espectadores que tiram partido destes espectáculos, bem como as acções de formação, as edições, as iniciativas para e com as escolas, os festivais e acolhimentos que organizam, o número de colaboradores que empregam, os jovens profissionais a quem dão oportunidades, os espaços que construíram, adquiriram e colocaram a funcionar e cuja existência se justifica, em larga medida, pelo trabalho que têm desenvolvido.

 

Contra o desconhecimento

Une-as também, contudo, a certeza de que estes seus contributos continuam a ser ignorados pela Administração Central, cujos discursos “descentralizadores”, permanentemente contrariados por práticas centralistas, assentam num profundo desconhecimento sobre o que acontece no terreno e ignoram as especificidades do trabalho realizado longe dos centros de decisão política, económica e mediática.

Em contra-corrente com o balanço extremamente positivo que dele fazemos do ponto de vista do fortalecimento das relações entre as companhias, esta edição do Festival é, em si mesma, um exemplo dessa desconsideração pelo nosso trabalho. Quando, no verão passado, denunciámos publicamente a ausência de discussão pública sobre a alteração às normas do financimento público da criação artística, a DGArtes comprometeu-se a debater connosco e com outras estruturas a temática da descentralização, ainda que apenas depois de concluído o processo dos concursos que teriam que entrar em funcionamento rapidamente. Foi precisamente isso que quisemos fazer, no âmbito do Festival, convidando a DGArtes para estar presente no debate que organizámos e que foi aberto a todas as estruturas de criação do país. A representação oficial deste organismo foi sendo delegada em postos inferiores da hierarquia até acabar por não existir, o que consideramos inaceitável.

 

Recomendações

Também por isso, consideramos útil tornar públicas, após o encerramento dos trabalhos, as principais conclusões a que chegámos em conjunto, apresentando-as como recomendações aos vários decisores políticos envolvidos na definição e na concretização de políticas culturais em Portugal:

 

1. Retomar a discussão com os agentes culturais sobre o modelo de financiamento público às artes (abruptamente interrompida pelo actual Governo na segunda metade do seu mandato) a partir do quadro normativo aprovado pelo mesmo Governo nos seus dois primeiros anos e que nunca chegou a entrar em vigor;

 

2. Cumprir o programa de Governo no que respeita à dotação orçamental do Ministério da Cultura, aproximando-nos (e não afastando-nos, como tem vindo a acontecer) do 1% do Orçamento Geral do Estado;

 

3. Cumprir o programa de Governo no que diz respeito à separação entre apoios à criação e apoios à programação, em nome da clareza e da eficácia do investimento público;

 

4. Diferenciar de forma clara o apoio a estruturas de criação dos apoios a projectos pontuais e a novos criadores, o que implica a definição objectiva do conceito de “companhia” e a quantificação realista dos custos decorrentes da sua actividade regular e das obrigações legais a que estão sujeitas (encargos com pessoal, Segurança Social, Finanças, gestão de espaços, etc.);

 

5. Racionalizar os financiamentos públicos, valorizando as estruturas que melhores condições têm para cumprir o seu papel de serviço público, dotando-as de meios para que efectivamente o possam cumprir e de modo a que possam ser justamente avaliadas e seriamente responsabilizadas;

 

6. Clarificar os papéis dos diferentes níveis da Administração Pública, nomeadamente na articulação entre a Administração Central, as autarquias e as estruturas intermédias de governação (Direcções Regionais de Cultura, Direcções Regionais de Educação, Comissões de Coordenação e Desenvolvimento) na gestão da política cultural. Promover activamente as indispensáveis complementaridades – até aqui, as companhias têm sido quase sempre deixadas sozinhas no papel de ponte entre estes diferentes níveis de decisão ou mesmo, nos piores mas frequentes casos, utilizadas como arma de arremesso entre cada um deles.

 

7. Envolver a Administração Central, as autarquias e as estruturas de criação numa análise séria das condições que os espaços teatrais do país oferecem para a criação e a apresentação de espectáculos. O Auditório de Castro Daire é um exemplo, entre tantos outros casos que conhecemos bem, de um equipamento em que pequenas e baratas intervenções poderiam melhorar substancialmente a funcionalidade dos espaços e a fruição por parte do público;

 

Coimbra, 2010

Realizado este ano sem qualquer apoio financeiro por parte do Ministério da Cultura, o III Festival das Companhias foi por elas suportado em grande parte – os apoios das autarquias de Lamego e Castro Daire e os patrocínios conseguidos não cobrem nem metade do orçamento. A importância e a singularidade do evento justificariam também outra atenção do Estado. Reivindicamo-la a partir de hoje já para a próxima edição, que terá lugar durante o ano de 2010, segundo decisão unânime, em Coimbra, com organização d’A Escola da Noite.

 

Campo Benfeito, 14 de Junho de 2009.

 

A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra

ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

Centro Dramático de Évora

Companhia de Teatro de Braga

Teatro das Beiras

Teatro de Montemuro

Diário do festival: domingo

Domingo, Junho 14th, 2009

 

 

O festival terminou onde começou: em Campo Benfeito, numa grande festa de encerramento, com todos os participantes, logo após a apresentação do último espectáculo – o “Auto da Índia” da ACTA.

Durante a manhã, os responsáveis pelas companhias tiveram a habitual reunião de balanço, onde debateram as principais conclusões deste III Festival e decidiram o local e o grupo organizador do próximo. Será em Coimbra e A Escola da Noite terá o maior prazer em retribuir, já em 2010, a magnífica hospitalidade já manifestada pela ACTA (2005), pela Companhia de Teatro de Braga (2008) e, agora, pelo Teatro de Montemuro.

Esperamos por todos vós na nossa casa!

 

conclusões: “Recomendações aos decisores políticos”

fotos (galeria)

twitter (o Festival passo a passo)

diário do Festival (, , e Sáb.)

notícia: António Pedro Pita: “o processo de descentralização está longe ser satisfatório”

Diário do Festival: sexta-feira

Sábado, Junho 13th, 2009

 

 

Ao terceiro dia do Festival, as companhias quiseram chamar os representantes institucionais para debater os principais problemas com que se confrontam do dia-a-dia e, particularmente, os efeitos da aplicação das novas regras do financiamento público da criação artística. O debate realizou-se à hora marcada, em Campo Benfeito, e permitiu uma viva discussão com o único convidado que compareceu – o Director Regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita. A DGArtes e as autarquias de Castro Daire e Lamego cancelaram a sua participação à última hora, o que reduziu o alcance pretendido para a discussão. Foram ainda assim elencados muitos dos problemas que vimos denunciando – a sub-orçamentação da cultura em Portugal, o regime de sobrevivência em que as companhias são obrigadas a trabalhar (e que se vem agravando de ano para ano), a falta de diálogo entre criadores e governantes -, mas também muitos dos contributos que as companhias entendem ter vindo a dar para o teatro em Portugal: na construção e na dinamização de espaços por todo o país, na manutenção de uma oferta regular de espectáculos por todo o território (construindo e fixando hábitos culturais entre a população) e, até, na construção de pontes entre a Administração Central e as autarquias locais, em matérias onde estes dois níveis de governação deveriam interagir muito mais.

Saímos de Campo Benfeito com uma inevitável sensação de “dejá vu” em relação a debates anteriores, é certo, mas com a convicção reforçada de que, enquanto estas discussões não forem levadas até ao fim, é necessário criar momentos de clarificação e de fixação de argumentos. Nesse sentido, o debate de ontem foi importantíssimo e revelou a grande sintonia existente entre as companhias da Plataforma e, inclusivamente, com o Trigo Limpo/ Teatro Acert, de Tondela, que aceitou o nosso convite para se juntar à discussão.

Num outro plano, é importante reter a intervenção de Sónia Botelho, jovem actriz do Teatro das Beiras, que destacou o contributo deste encontro para reforçar a ligação não só entre as companhias mas entre todos os seus membros individuais, que normalmente não podem participar nas reuniões preparatórias. O seu desafio foi aceite e imediatamente posto em prática: o modelo e o programa do próximo Festival, que terá lugar em Coimbra, está já a ser discutido informalmente por todos nós, nos corredores do hotel, à mesa das refeições e nos vários momentos de confraternização que este encontro nos proporciona.

À noite, em Castro Daire, a programação artística do Festival prosseguiu com a apresentação de “Memórias de Branca Dias”, do Cendrev, no Auditório Municipal de Cultura. Como tantos outros no país, que estas companhias conhecem bem, trata-se de um espaço com graves limitações técnicas, que condicionam de forma séria o tipo de espectáculos que ali podem ser apresentados. Assinala-se no entanto o esforço feito pela Câmara Municipal e pelo Teatro de Montemuro, que conseguiram minimizá-las para este Festival, colocando no palco uma estrutura provisória para a iluminação cénica. Não temos ainda números oficiais, mas foram seguramente mais de 100 pessoas a aplaudir o exigente trabalho de actriz de Rosário Gonzaga, sozinha em palco a interpretar o texto de Miguel Real, encenado por Filomena Oliveira.

No início da madrugada, o grupo ficou finalmente completo: chegou a ACTA, do Algarve, cujos compromissos não lhe permitiram participar no Festival desde o início. Estamos agora todos e assim continuaremos até Domingo. Teremos ainda mais três espectáculos, um debate e a grande festa de encerramento.

Junte-se também a nós!

António Pedro Pita: “o processo de descentralização está longe ser satisfatório”

Sábado, Junho 13th, 2009

 

 

O Director Regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita, reconheceu ontem que o processo de descentralização cultural em Portugal, iniciado após o 25 de Abril, tem avançado “aos bochechos” e está ainda “longe de ser considerado satisfatório”. Falando na abertura do debate “O teatro na descentralização”, organizado pela Plataforma das Companhias no âmbito do III Festival das Companhias, em Campo Benfeito, o representante do Ministério da Cultura (MC) acredita, no entanto, que têm sido dado passos positivos, exemplificando com os apoios recentemente atribuídos pela Direcção-Geral das Artes a estruturas sediadas em Penela, no Fundão ou em Trancoso.

O debate seguiu o modelo de uma grande mesa-redonda, com cerca de 40 pessoas, na sua maioria elementos das companhias de teatro profissional que integram a Plataforma e participam no Festival – ACTA, A Escola da Noite, Cendrev, Companhia de Teatro de Braga (CTB), Teatro das Beiras e Teatro de Montemuro.

Respondendo à intervenção de António Pedro Pita, Rui Madeira, director da CTB, defendeu o conceito de “criação artística local”, por oposição a um modelo de descentralização cultural que vem dos anos 70 e que está ultrapassado. Neste sentido, lamentou que o Ministério da Cultura continue sem compreender e sem procurar definir com clareza o conceito de “companhia”, fundamental para a existência de “uma estratégia de dinamização sustentada dos espaços criados pelo próprio MC”. O Ministério aplica uma lógica de apoios pontuais a toda a sua política, criticou Rui Madeira.

José Russo, director do Centro Dramático de Évora, expressou a sua indignação pelo facto de não estarem representantes da DGArtes (por motivo de doença da pessoa designada pelo seu responsável) nem das autarquias – as Câmaras Municipais das cidades onde estão sediadas as companhias não se fizeram representar e as autarquias de Lamego e Castro Daire (anfitriãs do Festival), que tinham confirmado a sua presença, acabaram igualmente por não comparecer. Nestas discussões sobre política cultural, que vimos tendo há anos, “é preciso haver comprometimento por parte das entidades responsáveis”, afirmou José Russo, lamentando a falta de interlocutores com os quais as companhias e os agentes culturais de uma forma geral possam debater.

António Augusto Barros classificou a ausência da DGArtes como “imperdoável”, tendo em conta que o seu director se havia comprometido, no processo de alteração das normas de financiamento público da criação artística, a discutir com estas e com outras companhias os problemas da descentralização, ultrapassada a fase “dos concursos”. Um processo, aliás, que considera “inadmissível em democracia”, por ter conduzido ao abandono de um legislação que havia sido aprovada após um amplo debate com os agentes culturais e à sua substituição por um conjunto de novas regras, sem que tenham sido levados em conta os contributos das estruturas de criação. O Ministério da Cultura não trata os agentes como verdadeiros parceiros, que trabalham para um objectivo comum, acrescentou o dramaturgo Abel Neves, também presente no debate.

Rui Madeira chamou ainda a atenção para a necessidade de reforçar, num contexto em que ainda não há regionalização, o papel das estruturas de governação intermédias – direcções regionais da cultura e da educação, comissões de coordenação e desenvolvimento – para uma eficaz descentralização cultural no país. As estruturas de criação deveriam conseguir encontrar interlocutores privilegiados nestes organismos, mais perto do terreno e que por isso podem conhecer melhor as potencialidades dos agentes locais e articulá-los com políticas nacionais e, nomeadamente, na aplicação dos fundos comunitários.

O Trigo Limpo / Teatro ACERT, de Tondela, participou igualmente no debate, aceitando o convite que a organização fez a diversas outras companhias de teatro do país. Pompeu José afirmou que os apoios directos à arte “perderam sentido nestes últimos concursos” e defendeu que se voltasse a colocar “em cima da mesa” as regras que foram discutidas com os agentes e depois abandonadas antes mesmo de entrarem em vigor. É preciso “clareza” na relação entre o Estado e as companhias, afirmou. Miguel Torres, também da ACERT, resumiu: “O Estado não nos considera pessoas de bem” e desconfia sistematicamente dos nossos propósitos, o que afecta muito a eficácia de um trabalho que devia ser de colaboração.

Numa resposta indirecta a muitas das críticas feitas à política seguida pelo MC, o Director Regional da Cultura do Centro preferiu destacar as actividades desenvolvidas à escala regional, dentro das competências e dos constrangimentos orgânicos com que ele próprio se confronta. Uma política de pequenos passos, admitiu, mas que procura “dar exemplos” de como é possível fazer as coisas.

Unânime entre os representantes das companhias foi a crítica à diminuição da intervenção do Estado, uma tendência que se vem agravando nos últimos anos e que Rui Madeira classificou como “um retrocesso da democracia em Portugal”.

Diário do Festival: quarta-feira

Quinta-feira, Junho 11th, 2009

 

 

Começou da melhor maneira a terceira edição do Festival das Companhias. Depois do reencontro entre os vários elementos dos grupos participantes, no Porto de Honra oferecido pelo Hotel Montemuro (onde estamos alojados), e de um grande jantar em que matámos saudades uns dos outros, fomos para Campo Benfeito, onde a companhia anfitriã nos brindou com a apresentação do seu mais recente espectáculo – “Presos numa corrente de ar”, estreado apenas na véspera.

Mais de duzentas pessoas encheram a sala, num verdadeiro ambiente de festa em que, à falta de cadeiras, ninguém se importou de ficar sentado no chão ou mesmo em pé.

A estreita ligação do Teatro de Montemuro com a população da pequena aldeia onde foi criado e se mantém sediado sente-se a todo o momento e é um belíssimo exemplo do que a criação artística pode fazer pelo desenvolvimento no interior do país. A existência de uma sala de teatro numa aldeia com pouco mais de sessenta habitantes no coração da Serra de Montemuro, construída graças à tenacidade, ao esforço e à convicção do núcleo de pessoas que integram este grupo, é a melhor prova de que desistência e resignação são palavras que não constam do léxico das gentes do teatro.

A noite acabou no bar das piscinas do Carvalhal, em mais um momento de confraternização entre os membros das companhias. Em cada encontro, reforçamos velhas amizades, estreitamos laços de companheirismo e conhecemos novas pessoas que entretanto se juntaram a cada um dos grupos. Aliada ao facto de fazermos questão de nos organizarmos de forma a podermos assistir e discutir os espectáculos uns dos outros, esta é uma das características que tornam este Festival tão singular no conjunto das variadíssimas itinerâncias que todas estas companhias vão fazendo ao longo do ano.

No segundo dia do Festival será a vez d’A Escola da Noite apresentar o seu trabalho. Escolhemos “Bonecos & Farelos”, de Gil Vicente, e será com um enorme prazer que estaremos pela primeira vez na cidade de Lamego, no histórico e muito bonito Teatro Ribeiro Conceição, recentemente recuperado.

Dois motivos perfeitos, portanto, para que se junte a nós e faça deste Festival das Companhias também o seu festival. Contamos consigo!