A força do hábito | TEATRO DAS BEIRAS
Se “A Força do Hábito” fosse um quadro de Magritte, teria inscrita a frase: “Isto não é um retrato de artistas”. Artistas relutantes, diga-se. Exilados, ambulantes – o público no escuro é reconhecido pelo faro apurado de Garibaldi: em cada cidade, um cheiro diferente. Os artistas odeiam-se entre si, não se entendem, embora precisem uns dos outros, e por isso mesmo. Para tocar em conjunto, para continuarem vivos. Continuando a ensaiar o “Quinteto da Truta”.
A vida de todos os mortais precisa de narrativas construídas pelos artistas. E de que se alimentam os artistas para sua sobrevivência, para além do cheiro do público? Doutras artes, doutras práticas que lhes exigem persistência em busca da perfeição. A par dos afectos esquinados pelas ovelhas tresmalhadas da família e das memórias extremas. Dos momentos inesquecíveis, entre a ocasião sublime e o acidente fatal. Provas de vida a cada dia de ensaio, dentro e fora da “pista”. Sentidos alerta: um passo em falso, e é a morte do artista. Não desistir do treino e do rigor: cabeças e corpos. Ferrara / fé rara. De terra em terra, de estação a estação, a viagem com esperança no infinitamente difícil, inatingível.
Bento Domingues: “Na utopia, vive a esperança de uma outra sociedade; na esperança, vive a utopia de um outro mundo”.
Diz Garibaldi:
“A sociedade escorraça
de si
quem a ameaça”
(…)
“Não resta senão”, diz o mesmo Garibaldi,
“entrar com o arco a tocar
pela morte dentro”
Entretanto não se fala de produção nem de consumo. Tão só da alma, igual à peça de madeira que une as costas à frente dos instrumentos de corda e que faz ressoar o som.
“Toda a palavra é uma invocação”, como no teatro!
“A arte que se faz
nunca mais
deixa em paz a cabeça”.
Uma homenagem que Thomas Bernhard presta à gente do Teatro, do Circo e da Música, com verrina e ternura. Criaturas (in)vulgares em versão de câmara.
Nuno Carinhas
Teatro das Beiras, Covilhã, Outubro de 2020
TEATRO
A Força do Hábito
Teatro das Beiras
autor Thomas Bernhard tradução Alberto Pimenta encenação Nuno Carinhas cenografia, figurinos e cartaz Luís Mouro desenho de luz Fernando Sena sonoplastia Hâmbar de Sousa interpretação Fernando Landeira, Roberto Jácome, Sílvia Morais, Susana Gouveia e Tiago Moreira
apoio musical Maria Gomes e Rogério Peixinho operação de luz e som Hâmbar de Sousa confecção de figurinos Sofia Craveiro carpintaria Pedro Melfe produção Celina Gonçalves fotografia e vídeo Ovelha Eléctrica
22 de Janeiro de 2021
sexta-feira, 21h30
M/12 > 1h20
Preços: 5 a 10 €
informações e reservas
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
Covid-19 – Plano de Prevenção e Contingência do TCSB
De acordo com a Orientação da DGS 28/2020, de 28 de Maio, e o Plano de prevenção e contingência do TCSB, a lotação e a ocupação da sala estão condicionadas: os lugares são marcados e é respeitada a distância de uma cadeira entre cada lugar ocupado. É obrigatória a utilização de máscara no interior do Teatro e o cumprimento das demais condições de segurança indicadas à entrada do edifício.