Archive for Julho, 2012

Da miséria à nulidade

Sexta-feira, Julho 6th, 2012

Claúdia Oliveira

Tenho sempre próximo de mim um pequeno conjunto de livros que gosto de reler amiúde, de saborear pedacinhos. A mancha de texto não muda, as palavras permanecem as mesmas, contudo, essa imutabilidade é meramente aparente porque encontro sempre nelas novidade.

Domingo despertei numa cidade de céu plúmbeo e mergulhada numa chuva incessante. Olho de relance para a pequena pilha de livros e escolho as “463 Tisanas” da Ana Hatherly. Na tisana 415 leio: “o tempo é uma espécie de revelador fotográfico ao contrário: faz com que as imagens em vez de aparecerem, desapareçam”. É triste essa ideia de perdermos imagens. Aliás, é triste a ideia de perdermos coisas.

Olho com maior atenção para o tal montinho de livros, alinhados pela sua lombada e penso como seria triste perdê-los. Leio o nome dos seus autores e, egoisticamente, penso como a minha vida seria infinitamente mais pobre se não os tivesse lido, se nunca tivessem existido.

Já imaginaram acordar num sítio onde não há memórias, não há livros, não há música, não há imagens, não há representações? Já imaginaram acordar num país desprovido de cultura? Sinto um arrepio.

Mas esta é a realidade para onde nos querem arrastar. Esta será em breve a realidade de um país que destina 0,1% do seu orçamento para cultura.

Existem neste momento, pelo menos seis companhias regionais de teatro à beira de fechar as portas. São instituições com décadas de contributo público, que apesar das adversidades resistiram até ao limite para tornar o quotidiano de Coimbra, da Covilhã, de Braga, de Évora, de Faro ou da Serra de Montemuro muito mais rico. Os cortes na ordem dos 38 a 60% no seu financiamento público, que já era mínimo, para não dizer ridículo, os atrasos nos pagamentos, a incerteza total criada pelo silêncio do Governo quanto ao futuro, não lhes permite continuar a sobreviver (sim, porque é de sobrevivência, e não de vida tranquila, que se trata). Perder estas companhias é perder história e perder futuro, sobretudo em locais em que os constrangimentos regionais são por si só limitadores de uma multiplicidade de escolha.

Desinvestir na cultura, da miserabilidade para a nulidade total, é diminuir-nos a uma mera mecanicidade, através da limitação das nossas escolhas e dos nossos espaços de vivência e aprendizagem.

Em relação à cultura, este Governo é pior que um revelador fotográfico, é uma verdadeira ausência de filme para revelar.

Cláudia Oliveira

jurista, assessora no Parlamento Europeu

artigo publicado no jornal Região de Leiria

um espectáculo do Graeme

Quinta-feira, Julho 5th, 2012

Graeme Pulleyn (foto: Luis Belo)

O Graeme, um velho amigo da companhia e fundador do Teatro do Montemuro, é o encenador (com Walter Janssens) do espectáculo que o grupo de Campo Benfeito traz ao Pátio na próxima semana. Mais um bom motivo para que não o perca. A entrada é livre!

 

Graeme Pulleyn nasceu no norte da Inglaterra em 1967. Estudou Teatro na Universidade de Warwick e veio para Portugal em 1990, como voluntário num projecto de desenvolvimento comunitário na Serra do Montemuro (Castro Daire, Viseu). Acabou por viver durante 15 anos na serra, e co-fundou o Teatro Regional da Serra do Montemuro (TRSM). Foi director artístico e trabalhou como actor e encenador em espectáculos como Lobo-Wolf, Alminhas, A Eira dos Cães e Hotel Tomilho, que correram o país e a Europa de lés-a-lés, fazendo do TRSM uma das mais viajadas companhias portuguesas das últimas duas décadas.
Vive em Viseu, com os seus três filhos, desde 2005, onde trabalha como encenador e actor independente. Projectos recentes incluem: O Teatro Mais Pequeno do Mundo, com 20 artistas da cidade de Viseu; Dimas com Carlos Bica e Suzana Branco; A partir do Adolescente Míope com Romulus Neagu e Luís Pedro Madeira e A Fábula do Peixe que Muda de Madalena Victorino. Colabora regularmente com o Teatro Viriato e com o Teatro do Montemuro como encenador. É professor de Expressão Dramática na Escola Superior de Educação de Viseu.

cv e foto retiradas daqui

 

teatro em Coimbra

Terça-feira, Julho 3rd, 2012

A Bonifrates apresenta hoje “Os últimos dias de Emanuel Kant”. A marionet estreia amanhã, no TAGV, “NANO T”.

Vá ao teatro!

“Herança de Jeremias” no Pátio da Inquisição

Segunda-feira, Julho 2nd, 2012

A Escola da Noite acolhe, a 12 de Julho, o Teatro do Montemuro para um espectáculo ao ar livre no Pátio da Inquisição. A “Herança de Jeremias” é apresentado em Coimbra no âmbito da rede Culturbe e tem entrada livre.

"Herança de Jeremias", Teatro do Montemuro

A Cabana do Jeremias, um estranho e carismático edifício, claramente construída aos poucos por uma mão nem sempre “expert” no que diz respeito à construção civil, mas com muito amor e muita paixão.

É o lar de um campeão, parte estábulo, parte local de devoção, parte museu, testemunho das muitas conquistas de Jeremias Sénior (o Jockey) e Jeremias VI (o burro). No exterior da cabana, muitos sinais destas conquistas: medalhas, retratos, fitas vencedoras, taças e muito mais, para além de fardos de feno e outros objectos próprios para o bem-estar de um burro.

Mas a morte trágica de Jeremias (o Jockey), devido à inédita queda de Jeremias (o burro) naquela que era suposta ser a sua última vitória na Grande Corrida de Burros antes da gloriosa e bem merecida reforma de Jeremias e Jeremias, muda tudo.

Entram José (o cornudo) e Joaquim (o bêbado), os dois herdeiros de Jeremias com as suas respectivas famílias: Josefina (a fresca), Jorgina (a negociante) e Jeremias Júnior (o estudioso).

Temos partilhas!

E é aqui que começam os verdadeiros problemas: Como dividir uma cabana? Como dividir um curral? E acima de tudo… Como dividir um burro? Uma família, duas facções, uma guerra.

Estranha, bizarra e divertidíssima, do princípio ao fim, esta comédia visual, musical e muito teatral, faz da dor e do conflito, primeiro uma farsa e mais tarde uma celebração da união e do amor fraternal, no sentido mais abrangente desta palavra.

A Herança de Jeremias deixa-nos cheios de esperança.

Mesmo quando os problemas parecem não ter solução e as guerras parecem não ter fim, o regresso às vitórias está ao virar da esquina.

Como dizia o velho Jeremias: “Há que ter fé e um bom Burro”

 

Herança de Jeremias

Teatro do Montemuro

12 de Julho, quinta-feira, 22h00

Pátio da Inquisição

> entrada livre

texto criação colectiva encenação Graeme Pulleyn e Walter Janssens direcção musical Walter Janssens interpretação Abel Duarte, Eduardo Correia, Paulo Duarte, Isabel Fernandes Pinto e Rebeca Cunha cenografia, adereços e figurinos Maria João Castelo construção de cenários Carlos Cal assistência à construção de cenários e figurinos Maria da Conceição Almeida costureiras Capuchinhas CRL e Maria do Carmo Félix desenho de luz Paulo Duarte operação técnica Carlos Cal direcção de produção Paula Teixeira assistente de produção Susana Duarte assessoria de imprensa Paula Teixeira e Susana Duarte estagiárias Tania Silva e Carla Tomás