Archive for Fevereiro, 2010

“do monólogo, coisa pública” — apresentação

Quinta-feira, Fevereiro 4th, 2010

“O monólogo foi olhado durante séculos com uma indisfarçada desconfiança.

O realismo e o naturalismo toleravam-no, dentro da forma teatral, como excepção: era estático, anti-teatral, inverosímil.

Nos clássicos gregos e em Shakespeare, no entanto, a presença do solilóquio é exemplar. Como pensar peças como Medeia, Rei Édipo, Hamlet, Lear, sem a reflexão solipsista dos seus protagonistas?

A escrita contemporânea, em especial a escrita da segunda metade do século XX, caracteriza-se pela “destruição da dramaturgia dialógica”. Não se trata de uma substituição nem de uma menorização da palavra, mas de um outro entendimento da escrita, menos auto-suficiente e mais consciente da sua parte na organização cénica. O discurso cénico reorganiza-se de forma rapsódica, valoriza-se a colagem, o fragmento, a pulsão poética. Beckett, Heiner Müller, Handke, Kroetz, Gregory Motton e um sem número de dramaturgos escreveram, escrevem para um acto criativo que quer estabelecer um novo protocolo com o espectador entregando-lhe uma parte maior do que a mera decifração de um enredo, entregando-lhe dúvidas, perplexidades, partes ocas, buracos negros para que complete a sua leitura de uma forma crítica, criativa.

O monólogo, o solo, para além de meras razões económicas (que também as há), autonomizou-se mesmo da obra, deixou de ser parte para passar a ser um género próprio, uma forma autónoma cada vez mais cultivada.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas outras vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades, à insatisfação, à mutilação do desejo, ao abandono dos velhos, dos marginais, das crianças, dos desempregados, dos esfomeados. Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”

António Augusto Barros

“Gattaca”

Quarta-feira, Fevereiro 3rd, 2010

É já na segunda-feira, pelas 21h30 que decorre a segunda sessão do ciclo de cinema INCORPORAÇÕES com a projecção do filme “Gattaca” de Andrew Niccol. Neste ciclo, organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, os filmes foram escolhidos e são comentados por investigadores desse Núcleo: o comentário a este filme será  feito por  Rita Serra.


O primeiro livro

Terça-feira, Fevereiro 2nd, 2010

Em 1963, José Rubem Fonseca, na altura com 38 anos,  lança o primeiro livro. “Os Prisioneiros” é o título da obra que reúne 11 contos e que marca o início da longa carreira deste autor brasileiro e dele disse, de imediato, Wilson Martins que era “um escritor que traz[ia] a literatura no sangue”.

Outro crítico, João Alexandre Barbosa, observa no estilo deste novo autor, duas maneiras distintas de narrar dizendo que “se num conto como ‘Fevereiro ou Março’, nos encontramos subitamente imersos em um universo criado por uma torrente de sensações, emoções e cálculos pegajosamente entranhados na consciência da personagem, no outro, como ‘Duzentos e vinte e cinco gramas”‘, por exemplo, a arte do contista parece violentar os limites da narração, criando pequenos quadros de descrição objetiva, jogando, por assim, dizer a palavra contra o reino da precisão e da síntese.”

A descrição da cidade, uma das marcas da obra de Rubem Fonseca, é amplamente elogiada desde logo nas histórias de ”Os Prisioneiros”. “Poucos ficcionistas são capazes de descrever a vida das grandes cidades como verdadeiramente uma selva trágica, em que o quotidiano aparece como um conjunto de ciladas fatais e irreversíveis.” (in O carácter social da literatura brasileira, de Fábio Lucas)

Veja aqui uma cópia de uma crítica de 1963 ao livro do autor cujos contos são a matéria da segunda co-produção d’A Escola da Noite com a Companhia de Teatro de Braga.

“Irmãos Inseparáveis” hoje às 21h30

Segunda-feira, Fevereiro 1st, 2010

David Cronenberg - direitos reservados

Começa hoje o ciclo de cinema INCORPORAÇÕES com a projecção do filme “Irmãos Inseparáveis” de David Cronenberg. Neste ciclo, organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, os filmes foram escolhidos e são comentados por investigadores desse Núcleo: o comentário ao filme de hoje é feito por  João Arriscado Nunes – sociólogo, professor e investigador.

“IRMÃOS INSEPARÁVEIS – Dead Ringers” (1988 – 111m) SINOPSE Irmãos Inseparáveis, é um thriller psicológico sobre a vida bizarra de dois gémeos. Elliot e Beverly Mantle. As suas vidas idênticas desde a adolescência até se tornarem ginecologistas famosos, estavam ligadas por laços extremamente fortes. Partilharam tudo, desde a sua clínica em Toronto até às mulheres que conheciam. Até que conhecem Claire Niveau, uma actriz. Elliot, confiante, adora o jogo de sedução que impõe a Claire, Beverly, tímido, apaixona-se e tenta quebrar as amarras que o prendam ao irmão para se dedicar ao seu amor. A saúde mental de Beverly começa a ser afectada, Elliot tenta ajudá-lo mas, tal processo irá levá-los à confrontação… REALIZADOR David Cronenberg INTÉRPRETES Jeremy Irons, Geneviève Bujold, Heidi von Palleske, Barbara Gordon, Shirley Douglas, Stephen Lack, Nick Nichols, Lynne Cormack, Damir Andrei, Miriam Newhouse, David Hughes.

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