Posts Tagged ‘A mais louca história da aviação’

diário do festival (4)

Sexta-feira, Junho 8th, 2012

Se não fosse por mais nada, o VATe – Serviço Educativo da ACTA distinguir-se-ia pela forma como se apresenta e faz transportar: num autocarro transformado em teatro que anda há anos a encantar miúdos e graúdos pelas terras algarvias. Por estes dias, está estacionado ao lado do Teatro Garcia de Resende. As portas foram abertas ao público de Évora pela primeira vez hoje de manhã, com uma sessão da peça “A mais louca história da aviação”, para cerca de meia centena de alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo.

Independentemente do nome que cada uma lhes dá, o VATe é o mais exuberante exemplo de um conjunto de actividades desenvolvidas por várias companhias de teatro (incluindo todas as que participam neste festival), visando o alargamento e a formação de públicos: acções de formação para alunos, para professores, para alunos e professores, para grupos de amadores, para estudantes universitários, para o público em geral; leituras; visitas guiadas; conversas com os artistas; conferências e debates; ciclos de cinema; intervenções na rua e em espaços não convencionais (o espectáculo da ACTA estreou junto aos balcões do check-in do aeroporto de Faro); documentários; edições.

Fazem-no há muitos anos. Por interesse próprio e por interesse público, num país cuja taxa de analfabetismo ronda os 10% e onde ir ao teatro ou ler um livro são extravagâncias na vida da vida da maior parte dos cidadãos.

Têm-no feito sem o apoio do Estado, que se limita a incluir estas actividades (cada vez mais) entre as contrapartidas obrigatórias pelos apoios que dá (cada vez menos) à criação artística. Pior: têm-no feito contra o discurso e a prática dominantes nas instituições públicas, que não só não fazem o que lhes compete nesta matéria (na articulação com o Ministério da Educação, por exemplo), como objectivamente afastam públicos das salas de teatro de cada vez que insinuam, acusam ou deixam que se acuse aqueles que financiam de serem subsidiodependentes ou “mendigos de chapéu na mão”. Que adiantam a retórica oficial sobre a importantíssima relevância da cultura, os prémios e as honras balofas em dias de festa quando o Estado que os atribui é o mesmo que viola contratos assinados, aplicando cortes de 40% em financiamentos atribuídos e que nada diz sobre o que pretende fazer daqui a seis meses, deixando paralisadas e agonizantes dezenas de estruturas profissionais? Como pode o Estado querer que os cidadãos se importem com a criação artística se ele a espezinha desta maneira?

E, no entanto, a responsabilidade continua a cair sobre nós. Se não temos públicos suficientes nem dispostos a pagar os custos da nossa actividade, o problema é nosso, que não sabemos cativá-los.

Seria demagógico, irresponsável, improdutivo e (em alguns casos) injusto referir aqui as taxas de abstenção nas eleições que legitimaram o poder dos governantes que assim pensam e agem.

Não o faço a sério, portanto. É apenas para responder à letra.

Pedro Rodrigues

Évora, 8 de Junho de 2012

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o dia da ACTA

Sexta-feira, Junho 8th, 2012

A ACTA – Companhia de Teatro do Algarve ocupa o dia inteiro do Festival de Évora, com três espectáculos diferentes.

Começa já às 10h30 da manhã, com “A Mais Louca História da Aviação”, espectáculo apresentado em substituição de “De Ulisses nunca digas tolices…”, por motivos de saúde de uma das actrizes.

À tarde, Luis Vicente apresenta o monólogo “Cavalo Manco Não Trota” na sala-estúdio do Garcia de Resende e às 21h30 o mesmo Luis Vicente, agora com Mário Spencer, oferece ao público “Laço de Sangue”.

Não perca!

8 de Junho, sexta-feira, 18h30

Teatro Garcia de Resende, Sala-estúdio

Cavalo manco não trota

ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

No momento em que o Juiz pergunta se o réu se considera culpado ou inocente, Miguel Torres é remetido, num ápice, para um turbilhão de memórias que começam na infância e terminam no momento e na circunstância em que agora se encontra, volvidos quase quarenta anos.

Os conflitos de infância, a fuga de casa dos pais, a juventude de um estudante de origens humildes na universidade e depois como marinheiro, os amores impossíveis e os amores destruídos, o seu desempenho como construtor civil corrupto… a morte do filho. Tudo é convocado para um “ajuste de contas” pessoal, a um tempo divertido, irónico e amargo.

texto Luis del Val tradução Maria João Neves encenação Bruno Martins intérprete Luís Vicente desenho e operação de luz Octávio Oliveira espaço cénico Luís Vicente figurino ACTA

M/16 > 1h20

8 de Junho, sexta-feira, 21h30

Teatro Garcia de Resende, Sala Principal

Laço de Sangue

ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

Laço de Sangue conta a história de dois irmãos, filhos da mesma mãe, um de pele clara e outro de pele escura, que, procurando aliviar o tédio das suas existências, compram um jornal para que Zach, de pele escura e analfabeto, possa tentar arranjar uma correspondente do sexo feminino. Emerge então a África do Sul sob o apartheid, num jogo perigoso que põe em cena o drama da barreira de cor, com todos os seus medos e ódios. Metáfora da segregação racial então vigente na África do Sul, Laço de Sangue usa a consanguinidade entre irmãos para falar do nó de sangue entre todos os homens – um laço quebrado pela consciência tornada supremacia de uma raça (ou etnia, ou casta) sobre as restantes.

texto Athol Fugard tradução/revisão António Marques/Luís de A. Miranda encenação Luís Vicente intérpretes Luís Vicente e Mário Spencer concepção plástica Luís Vicente execução cenográfica Tó Quintas assistência de encenação Bruno Martins desenho e operação de luz Octávio Oliveira sonoplastia e operação de som Pedro Leote Mendes

M/12 > 1h10