Tom Murphy

Tom Murphy (fotografia © The Times)

Há uma raiva em mim que eu acho que é uma coisa natural. Já havia quando eu tinha 24 ou 25 anos e fazia rabiscos com o meu lápis. E ainda está presente em tudo o que faço. É uma raiva não contra a injustiça da vida – a vida é obviamente injusta – mas contra as desigualdades, a arrogância do poder.

TOM MURPHY
Nasceu em Tuam, no Condado de Galway, Irlanda, em 1935, local com o qual manteve sempre uma forte relação. Foi o mais novo de dez irmãos, filhos de um carpinteiro e de uma dona de casa. Começou por escrever para um grupo de teatro amador da sua cidade, enquanto trabalhava numa fábrica de açúcar, como metalúrgico e, mais tarde, como professor. Tornar-se-ia escritor a tempo inteiro a partir no início da década de 1960.
É autor de mais de duas dezenas de peças teatrais, escreveu para televisão e cinema e um romance – The Seduction of Morality (2004). Entre 1974 e 1981 encenou quatro das suas peças em diferentes salas de Dublin: o Abbey Theatre, o Project Arts Centre e o 3Olympia Theatre.
As suas obras – maioritariamente produzidas na Irlanda pelo Abbey Theatre e, a partir de 1984, pelo Druid Theatre (Galway) – têm sido levadas à cena em diversos países – para além do Reino Unido, nos Estados Unidos da América do Norte, no Canadá, na Austrália, na Áustria, na Hungria e em Portugal.
Apesar de quase sempre abordarem “temas negros” (emigração, violência, niilismo, desespero), as suas peças são pontuadas com uma certa dose de humor e configuram uma forma própria de lirismo, que Billy Roche, seu colega dramaturgo, um dia designou como “uma linguagem do inarticulado”. Era muitíssimo rigoroso com os actores quanto ao respeito pelo texto original, sendo comparado a um maestro na condução de uma orquestra: “é preciso seguir rigorosamente a partitura e compreender o texto tanto pela música da peça quanto pelo raciocínio” – afirmou Garry Hynes, director da Druid Theater Company. O próprio Tom Murphy admitia esse fascínio pela música: “Não tenho inveja de nenhum dramaturgo, mas invejo os compositores. Quando ouço música, ouço emoção.”
Jane Brennan, actriz com a qual Tom Murphy esteve casado nos últimos trinta anos da sua vida, reconhecia Tennessee Williams como uma das principais influências do autor e destaca a influência que este teve, por sua vez, sobre as gerações mais novas de autores/as irlandeses/as, em particular na forma corajosa como abordava temas desconfortáveis. Dostoievsky, Ibsen e James Joyce são outros autores apontados como referências na obra de Murphy, pelos temas abordados, a sátira, a harmonia orquestral, a profundidade dos sentimentos das personagens e a destruição das falsas ilusões. Entre os autores mais jovens cujas obras apresentam influências do legado de Murphy, são indicados, por exemplo, Conor McPherson, Martin McDonagh e Gary Mitchell.
Foi membro da Irish Academy of Letters e patrono do Irish Theatre Institute. Foi distinguido com diversos prémios, incluindo dois doutoramentos honoris causa: Trinity College (Dublin) e National University of Ireland (Galway). Em 2001, o Abbey Theatre promoveu “Tom Murphy at the Abbey”, uma temporada com seis das suas peças. Em 2007 foi eleito como Saoi, título honorífico da Aosdána, organização de artistas irlandeses no âmbito do Arts Council, a Agência Nacional para o financiamento, desenvolvimento e promoção das artes na Irlanda. Em 2012, a Druid Theatre Company organizou uma grande celebração do trabalho de Tom Murphy, produzindo três peças – Conversations on a Homecoming, A Whistle in the Dark e Famine – que circularam por toda a Irlanda, Estados Unidos da América do Norte e Reino Unido, sob o título “DruidMurphy – Plays by Tom Murphy”.
Morreu em 2018, na cidade de Dublin. No depoimento publicado a propósito do seu falecimento, o Abbey Theatre, que encenou 19 das suas peças, escreveu: “Tom ousou sempre, ultrapassando os limites do teatro irlandês e desafiando-nos com imagens perturbadoras da vida da Irlanda”. O Presidente da República irlandês, Michael D. Higgins, também poeta e escritor, afirmou na mesma altura: “Não tivemos maior uso da linguagem teatral do que no conjunto da obra de Tom Murphy”.

Antes de “Trilogia de Alice”, o seu trabalho foi apresentado nos palcos portugueses com “O Concerto de Gigli”, também encenado por Nuno Carinhas, com tradução de Paulo Eduardo de Carvalho e interpretação de João Cardoso, João Pedro Vaz e Rosa Quiroga. Estreado no Teatro Nacional São João em Outubro de 2009, este espectáculo foi uma produçãoASSéDIO – Associação de Ideias Obscuras para o TNSJ, no âmbito do Festival Literário Irlandês – Sons Fundamentais: Vozes da Irlanda.

OBRAS TEATRAIS
On the Outside (1959, com Noel O’Donoghue)
A Whistle in the Dark (1961)
The Orphans (1968)
Famine (1968)
A Crucial Week in the Life of a Grocer’s Assistant (1969)
The Morning After Optimism (1971)
The White House (1972)
On the Inside (1974)
The Vicar of Wakefield (1974, a partir da obra original de Oliver Goldsmith)
The Sanctuary Lamp (1975)
The J. Arthur Maginnis Story (1976)
Epitaph Under Ether (1979, a partir da obra de J.M. Synge)
The Blue Macushla (1980)
The Informer (1981, a partir do romance de Liam O’Flaherty)
She Stoops to Conquer (1982, a partir da peça original de Oliver Goldsmith)
O Concerto de Gigli (1983)
Conversations on a Homecoming (1985)
Bailegangaire (1985)
A Thief of a Christmas (1985)
Too Late For Logic (1989)
The Patriot Game (1991)
She Stoops to Folly (1996, a partir de “The Vicar of Wakefield”, de Oliver Goldsmith)
The Wake (1998)
The House (2000)
The Drunkard (2003, a partir da peça original de William Henry Smith e um anónimo)
The Cherry Orchard (2004, adaptação de “O Cerejal”, de Tchékhov)
Trilogia de Alice (2005)
The Last Days of a Reluctant Tyrant (2009, a partir do romance “A Família Golovliov”, de Mikhail Saltykov-Shchedrin)
Brigit (2014)

[TRILOGIA DE ALICE — Página do espectáculo]

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