Posts Tagged ‘António Augusto Barros’

estreia amanhã o primeiro!

Quarta-feira, Abril 14th, 2010

"3FONSECA"

Agora você (ou José e os seus irmãos), Francisca, Mecanismos de defesa, Zezé, Passeio Noturno I, Sucesso, Ganhar o jogo, Orgulho, Vida,
Entrevista e Um dia na vida de dois pactários são os textos do primeiro espectáculo da trilogia que estreia amanhã, às 21h30, no Teatro da Cerca de São Bernardo. Este espectáculo pode ser visto esta quinta, sexta e sábado. Nas próximas semanas estreiam “Rubem” e “José”, nos dias 22 e 29 de Abril, respectivamente.

[foto de ensaio © Augusto Baptista”]

brevemente!

Segunda-feira, Abril 5th, 2010

A estreia da segunda co-produção d’A Escola da Noite com a Companhia de Teatro de Braga aproxima-se; com encenação e dramaturgia de António Augusto Barros, a partir de textos de Rubem Fonseca, o espectáculo é apresentado primeiro em Coimbra e depois em Braga.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios

Quinta-feira, Fevereiro 25th, 2010

“O monólogo foi olhado durante séculos com uma indisfarçada desconfiança.

O realismo e o naturalismo toleravam-no, dentro da forma teatral, como excepção: era estático, anti-teatral, inverosímil.

Nos clássicos gregos e em Shakespeare, no entanto, a presença do solilóquio é exemplar. Como pensar peças como Medeia, Rei Édipo, Hamlet, Lear, sem a reflexão solipsista dos seus protagonistas?

A escrita contemporânea, em especial a escrita da segunda metade do século XX, caracteriza-se pela “destruição da dramaturgia dialógica”. Não se trata de uma substituição nem de uma menorização da palavra, mas de um outro entendimento da escrita, menos auto-suficiente e mais consciente da sua parte na organização cénica. O discurso cénico reorganiza-se de forma rapsódica, valoriza-se a colagem, o fragmento, a pulsão poética. Beckett, Heiner Müller, Handke, Kroetz, Gregory Motton e um sem número de dramaturgos escreveram, escrevem para um acto criativo que quer estabelecer um novo protocolo com o espectador entregando-lhe uma parte maior do que a mera decifração de um enredo, entregando-lhe dúvidas, perplexidades, partes ocas, buracos negros para que complete a sua leitura de uma forma crítica, criativa.

O monólogo, o solo, para além de meras razões económicas (que também as há), autonomizou-se mesmo da obra, deixou de ser parte para passar a ser um género próprio, uma forma autónoma cada vez mais cultivada.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas outras vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades, à insatisfação, à mutilação do desejo, ao abandono dos velhos, dos marginais, das crianças, dos desempregados, dos esfomeados. Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”

António Augusto Barros

Ciclo inclui espectáculos, debates e workshop

Quinta-feira, Fevereiro 4th, 2010

O monólogo é coisa pública na Semana Cultural da Universidade

António Pinho Vargas, Custódia Gallego, Cándido Pazó, Ana Bustorff e Denise Stoklos são os artistas convidados pela Reitoria da Universidade de Coimbra e pel’A Escola da Noite no âmbito do ciclo “do monólogo, coisa pública”, integrado no programa da XII edição da Semana Cultural da Universidade, que vai decorrer entre 1 e 6 de Março.

O programa completo da iniciativa foi apresentado esta manhã em Coimbra, numa conferência de imprensa em que intervieram o Reitor da Universidade, Seabra Santos, o Pró-Reitor para a Cultura, José António Bandeirinha, e o director artístico d’A Escola da Noite, António Augusto Barros.

Convidada para conceber e produzir a parte externa à Universidade da programação da Semana Cultural (que, na sua globalidade, inclui mais de 70 iniciativas promovidas pela própria comunidade académica), A Escola da Noite propôs o ciclo “do monólogo, coisa pública”.

António Augusto Barros salienta a tríade em que propositadamente assenta esta proposta: criação, formação e reflexão. Partindo do tema definido para a Semana Cultural – “Causa pública: o público e o mediático”, A Escola da Noite construiu um programa assente no monólogo, enquanto género teatral que conquistou a sua autonomia na escrita dramática contemporânea. “Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades”, escreve António Augusto Barros. Daí a idéia do monólogo como “coisa pública”, como forma particular da abordagem das artes cénicas ao contexto em que vivemos. “Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”, pergunta António Augusto Barros.

O ciclo inclui seis espectáculos, que preencherão as noites, de segunda a sábado, da Semana Cultural: “Solo I e II”, concerto de António Pinho Vargas que assinala o regresso do compositor a Coimbra, onde há vários anos não se apresentava; “Vulcão”, a peça que Abel Neves escreveu para a actriz Custódia Gallego, numa co-produção entre o Teatro Nacional D. Maria II e o Teatro do Bolhão; “Historias Tricolores: ou de como aqueles animaliños proclamaron a República”, uma viagem pela história recente de Espanha através das memórias dos personagens incarnados por Cándido Pazó; “Concerto à la Carte”, um exigentíssimo trabalho da actriz Ana Bustorff perante o texto (uma longa didascália) do dramaturgo alemão Franz Xaver Kroetz; e por fim, Denise Stoklos. O público de Coimbra terá finalmente oportunidade de assistir ao vivo ao trabalho de uma das mais consagradas actrizes brasileiras, com uma impressionante e premiada carreira internacional. No âmbito da Semana Cultural, apresentará em Coimbra dois espectáculos: “Mary Stuart”, que mantém em reportório há vários anos e é considerado como um dos seus trabalhos mais emblemáticos, e “Calendário da Pedra”, mais recente, que tem sido apresentado nas principais salas brasileiras e internacionais.

Para além dos espectáculos, o ciclo inclui ainda o workshop “A oralidade no actor”, dirigido por Cándido Pazó (co-organizado com o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra) e um conjunto de dois debates, que reunirão especialistas em artes cénicas e os artistas presentes na semana, numa iniciativa conjunta da Reitoria e do Curso de Estudos Artísticos da Faculdade de Letras, proposta pel’A Escola da Noite.

Os espectáculos repartem-se pelo Teatro Académico de Gil Vicente e pelo Teatro da Cerca de São Bernardo e têm lugar, entre 1 e 6 de Março, sempre às 21h30. Os bilhetes podem ser reservados ou adquiridos com antecedência nas próprias salas, já a partir da próxima semana.

entrevista a João Brites e Augusto Barros: “A arte e o teatro vivem de cumplicidade e relações”

Domingo, Maio 24th, 2009

João Brites e António Augusto Barros

João Brites e António Augusto Barros

 

 

O DC juntou João Brites, fundador da companhia de teatro O Bando, e Augusto Barros, director artístico da Escola da Noite. O resultado foi uma conversa de cumplicidade

Diário de Coimbra (DC) Porquê o Bando para primeira companhia da residência artística?
Augusto Barros (AB) Estamos a lançar uma programação que assenta na reflexão sobre percursos artísticos, e há percursos que vale a pena analisarmos à partida.  Este encontro interessa ao Bando, que está aqui por um conjunto de factores, como a cumplicidade e o trabalho conjunto, e à nossa companhia, para debater uma experiência de percurso com eles. Mas também estamos a tentar aqui, num teatro novo, com responsabilidades novas, criar correntes de público que ganhem consistência, sejam formadas por pessoas atentas, críticas, capazes de comparar coisas e de partilhar uma reflexão sobre a própria criação artística. Não há programação se não houver criação, e esse é o fenómeno à volta do qual gostávamos que girassem as coisas e as pessoas estivessem mais aptas a perceber. Desse ponto de vista, a escolha do Bando é certeira.

DC O que esperam trazer e levar de novo?
João Brites (JB) A arte e o teatro vivem de cumplicidades e relações. E é pena que as pessoas do teatro se encontrem pouco, discutam pouco os espectáculos uns dos outros. Nós não somos criadores solitários, somos contaminados e contaminadores. O que vamos fazendo resulta primeiro das nossas equipas e das pessoas com quem interagimos todos os dias, dos territórios e dos espaços que habitamos. A nossa vida faz-se dessa relação. A contaminação não é um esforço. Quando dizemos que aceitamos o outro, não o aceitamos naquela dimensão, que é a mais bonita, que é eu servir-me dele para crescer, ou para me interrogar ou fazer outra coisa. Hoje o Bando defende do ponto de vista conceptual a ideia de um teatro singularista, mas esta ideia de ser singular por criar algo de único, mas não ser individual, porque é o resultado de um conjunto de pessoas.

DC Por isso o objectivo comum do encontro não é apenas mostrar teatro, mas também debatê-lo?
JB Exacto. Temos sempre conversas com as pessoas depois do espectáculo. Não é para saber se gostaram, é para terem oportunidade de falar com aqueles que muitas vezes não têm oportunidade, porque não os conhecem, ou porque estão no palco. Criar possibilidades de encontro, de conversa, sem pretensões nenhumas de fazer grandes balanços. No mundo de hoje, esse lado de criar relações de convívio, a cultura de relação ao vivo que o teatro tem, é um reduto que vai aparecer com muito mais relevância à medida que nos vamos apercebendo que as nossas relações são cada vez mais via satélite. Vai ser necessário tocar na carne e nas peles, tocar nas pessoas, cumprimentá-las, olhá-las nos olhos.

DC As colaborações entre companhias só podem acontecer como residência artística, principalmente em grupos que distam ainda alguns quilómetros?
AB
 Mas que gostam de os percorrer. Já esteve para ser possível, e o João já fez a cenografia para um espectáculo nosso. Ainda não fizemos co-produções com o Bando,  mas colaborações sim, várias. Já foi lá a companhia. Por vezes não colaboramos como Escola da Noite ou O Bando, e sim a título individual, é sempre possível.

JB O que é preciso é pensarmos em novas formas de co-produção. Já tenho feito várias, mas  correspondem sobretudo à cedência de um actor, o que não corresponde a um real encontro entre as problemáticas e sensibilidades, é uma espécie de diminuição de custos. Mas no caso de algumas companhias especiais, e esta é uma delas, era possível existirem coincidências, em que eles estão a reflectir ou a fazer algum tipo de trabalho e por acaso nós estamos numa coisa que possa ter a ver também, e sintamos necessidade um do outro para desenvolver determinado projecto. Mas isso também não é forçado, acontece como as paixões e os amores. Às vezes andamos ali a namorar, e outras vezes acontecem sem sabermos porquê.

DC E o que lhe diz este espaço, de um teatro tão diferente do seu?
JB Ainda não o conheço [a entrevista foi feita no dia da chegada a Coimbra do director d’O Bando], mas quero ver. Conheci em projecto e em maquete, há muito tempo, e agora ver aqui ao vivo… fico sempre um bocadinho ciumento. Eu ensaio debaixo de umas telhas, onde antes se guardavam os porcos, não consigo que aquilo arranque, estou num parque natural e as diferentes leituras que se fazem da lei obrigam a que estejamos sempre a mudar os projectos. Gosto da minha quinta, ainda hoje lá estive a subir cem metros de serra acima, no meio das oliveiras. Somos a única companhia que tem azeite. Mas aqui há um conforto… Nós fazemos um ensaio e ficamos cansadíssimos, no meio do vento, do ladrar dos cães, mas ao fim da noite aquele espaço é lindissimo.

DC Mas se calhar o Augusto Barros inveja o prazer de poder ensair ao ar livre…
JB Podíamos trocar de casa, eu venho  para aqui, instalo-me aqui com uma criação, tu vais lá para baixo, com os porcos, ficas todo corado.
AB Feito. Acabou de assistir aqui a um contrato.

DC Esta iniciativa dura apenas uma semana, e por isso tem um programa muito intenso. Não temem que seja vivida a correr?
AB Devia ter mais tempo, foi programada para ter mais tempo, mas são as circuntâncias que não deixam. Tem a ver com financiamentos, mas também com os nossos calendários e compromissos, tudo isso condicionou a residência. Gostaríamos que fosse mais tempo, mas temos consciência de que com o Bando agora acontece isto, e depois acontecerá outra coisa mais lá para a frente, por isso não é problemático. Esta semana o programa é forte, e queremos que chegue às pessoas que há workshops, conversas à noite depois dos espectáculos para quem quiser participar, que ainda há mais três espectáculos. Mas teve que ser assim compacto.

DC É uma experiência para continuar? 
AB Com certeza. Há equilíbrios a construir na programação, e idealmente seria uma por semestre, mas estas coisas não são para seguir exactamente. Seria uma de teatro e uma de dança. Está prevista e convidada a Vera Mantero, mas ainda não sabemos se vamos ter condições para a conseguir trazer.

DC O Bando está envolvido num projecto internacional para 2011 sobre a história de Pedro e Inês. Como vai funcionar?
JB Lançámos o desafio de criar um espectáculo a partir das documentações literárias e históricas de Pedro e Inês, expusémos várias provocações e a nossa expectativa sobre o texto. Agora está a ser escrito numa formação alargada pelo Manuel Jesus, do Bando. Constituiu-se uma  equipa, com parte da direcção artística do Bando, mas em que é o Anatoli que encena. Avisámos com muita antecedência este encenador russo, que vem acompanhado por uma dramaturgista. E quisémos vir aqui, a Coimbra, aproveitar este momento que é também o lançamento deste projecto. Estamos cá, fazemos uma conferência, ficamos ao corrente dos espaços, dos elementos necessários.

DC Vão trazer a peça a Coimbra?
JB Temos como objectivo ir aos sítios que têm uma ligação, uma referência ao mito, e já não sabemos bem o que é mito e realidade nesta história. Queremos passar em Montemor-o-velho, Coimbra ou Alcobaça.

DC Costuma dizer que o que faz é só um olhar. Qual é o enfoque que vai ser utilizado para contar esta história?
JB Está focado na ideia de culpa, das diferentes qualidades de culpa. Não quer dizer que no final seja esse o tema mais relevante. Mas para já a proposta de reflexão para Pedro e Inês é olhar sobre o ponto de vista de que cada um dos agentes naquela história podem ser vistos como culpados, mas cada um com diferentes tipos de culpa. Nós estamos a pensar sobre isso, agora se no final será isto, é uma perfeita incógnita.

 

Sofia Piçarra

Diário de Coimbra, 24/05/2009