“Os Gigantes da Montanha”, de Luigi Pirandello | CLUBE DE LEITURA TEATRAL

O texto “Os Gigantes da Montanha”, de Luigi Pirandello, situa-se num limbo entre a fábula e a realidade ou, de uma maneira mais precisa, num jogo entre a verdade e a realidade, em unidades de tempo e de espaço indefinidas. Aqui, esta dicotomia, tendo como intermediários a fantasia e o teatro, atinge um nível poético tão elevado ao depararmo-nos com uma vila onde a fantasia impera tão imensamente que, ao realizar-se através da representação, deixa de o ser para se tornar realidade. Uma companhia de teatro, marginalizada e em decadência, viaja em busca de um lugar onde apresentar a sua obra fundamental. Alcançam, finalmente, uma vila habitada por um grupo de pessoas disformes e grotescas que, renegando a convivência social, vivem em constante fantasia.

Pirandello morre em 1936, antes de dar um fim ao texto. O estado inacabado da peça e um período de gestação dramatúrgico de oito anos (1928-1936) denunciam a desconsolidação democrática que Pirandello testemunhava face a uma Europa na iminência do holocausto. O autor, através do texto e da sua incompletude (fortuita), aponta o dedo à falência do projeto de civilização ocidental e consequentemente à falência do teatro, vendo apenas esperança no exílio, na ficção, nas verdades inventadas, na poesia.
Hoje, quase oitenta e oito anos volvidos desde a sua morte, Pirandello é urgente como um grito de resgate à desumanização, aos discursos populistas, à intolerância, às verdades absolutas procurando reafirmar a fé na poesia. Pirandello apresenta a possibilidade de uma vida pura de fantasia, onde a poesia vive por sim mesma, porque se escolhe acreditar nela e se esta realidade não é suficiente, fazemos como as crianças e inventamos uma nova.


TEATRO | LEITURA
Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello
Leitura dirigida por ALEXANDRE OLIVEIRA

CLUBE DE LEITURA TEATRAL
5 de Março de 2024
terça-feira, 18h30
> Sala Brincante da Cena Lusófona
> 90 min > entrada gratuita
co-org. TAGV / A Escola da Noite

© Carlos Gomes

Alexandre Oliveira
Coimbra, 1986. Iniciou atividade profissional como ator em 2009 e, posteriormente, como professor de teatro em 2011. Na sua atividade como docente, leciona no Curso Profissional de Intérprete Ator/Atriz, em Coimbra, destacando a orientação de exercícios finais como O DEUS DAS MOSCAS, de
William Golding e A FERA AMANSADA, de William Shakespeare; e no Loucomotiva – Grupo de Teatro de Taveiro, orientando exercícios como CORO DOS MAUS ALUNOS, de Tiago Rodrigues e A ORQUESTRA, de Jean Anouilh. Trabalhou com Nuno Pino Custódio, Marcelo Lazzaratto, Ismaeri Takeo Ishi, João Paiva, Pedro Lamas, Hugo Inácio, Telmo Ferreira, Luís de Melo entre outros e destaca produções como OS GIGANTES DA MONTANHA, de Luigi Pirandello e TRISTE SINA DE UMA COISA FELIZ, dramaturgia partilhada com a atriz Ana Bárbara Queirós. Como criador realça a sua mais recente produção ZANNI! MORT’I FAME | UMA “TRAGÉDIA” DELL’ARTE, estreado no Grémio Operário, sobre o arquétipo primordial da Commedia dell’Arte, o Zanni; e FIM, a partir de MORTE DE UM CAIXEIRO VIAJANTE, de Arthur Miller. Como encenador releva A TEMPESTADE, de William Shakespeare, espetáculo gerado a partir de uma inquietação: Porque criamos ficções?

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