Floresta de Enganos — texto do encenador

© Carolina Lecoq

A obra vicentina faz parte do nosso percurso artístico desde muito cedo. Sentimo-nos confortáveis com os desafios que este teatro nos vai colocando e juntamos a isso o enorme respeito que temos pelo legado de Mestre Gil. Passados quinhentos anos, este legado continua a encantar os públicos com a sua infinita teatralidade e a trazer à cena temas de grande actualidade.

A Floresta de Enganos é um projecto que integrámos no nosso quadro de trabalho há sete anos e, embora tenhamos sido confrontados com a pandemia que, ainda hoje, continua a inquietar-nos, nunca deixámos de considerar a sua montagem. Em Julho do corrente ano iniciámos o trabalho, sabendo que pelo meio teríamos de repor a nossa Embarcação do Inferno numa nova temporada em Évora para as escolas da cidade e da região.

A equipa foi constituída e o trabalho arrancou com a direcção de António Augusto Barros. Estabeleceu-se uma primeira distribuição dos papéis. No final da semana, ficámos, de súbito, sem a possibilidade de colaboração do Barros, por razões de saúde. Um passo mais adiante, também o Igor Lebreaud, por razões devidamente justificadas, teria de deixar o projecto. Momentos difíceis que ultrapassámos com a tranquilidade que a já longa relação de trabalho entre as duas companhias naturalmente facilitou.

Aqui estamos porque o Teatro tem esta capacidade de juntar criadores em torno de um mesmo objectivo, o espectáculo. Os actores que se ocupam das palavras, do movimento e dos silêncios; os cenógrafos que estabelecem e decoram o espaço onde ocorre a acção, que por sua vez é iluminado pelo responsável pelo desenho de luz; a participação musical que ganha protagonismo em diferentes momentos e intervém também nas dinâmicas do texto; o guarda-roupa e os acessórios que garantem a imagem de cada uma das personagens da história.

Quando tudo isto acontece fica facilitada a responsabilidade de quem dirige. Sendo eu actor, tenho também a possibilidade de intervir nos processos de construção do espectáculo que, a meu ver, só a cena pode suscitar.

O Teatro é isto, uma soma de participações e contributos, também do lado que não se vê, dos maquinistas, das costureiras, dos cabeleireiros, dos contra-regra, dos produtores, e até dos assistentes de sala que acolhem o público para a sessão. Aqui fica mais um espectáculo. Divirtam-se.

José Russo

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