Ay, Carmela! | TRINCHEIRA TEATRO

Carmela, fuzilada pelas tropas de Franco, surge a Paulino, seu antigo companheiro de variedades, e o teatro Goya da arrasada vila de Belchite respira vida mais uma vez.  Cara a cara, enfrentam os dilemas, escolhas e compromissos que se puseram a cada um, num raconto do trágico episódio que ditou a morte da atriz. Retrilhando o espetáculo que tiveram de improvisar na altura em que foram capturados pelos nacionalistas, Carmela e Paulino resgatam para a luz da memória tudo o que a dormência, e o esquecimento, ameaçam apagar.

TEATRO | ESTREIA
Ay, Carmela!, de José Sanchis Sinisterra
TRINCHEIRA TEATRO
4 a 14 de Maio de 2023
quinta e sexta-feira, 19h00
sábado 6 de Maio, 21h30
sábado 13 de Maio, 16h00 e 21h30
domingo, 16h00
> M/14 > 100 min > 5 a 10€
co-produção: Trincheira Teatro / TCSB

Sessões com Língua Gestual Portuguesa
sábado e domingo, 13 e 14 maio, às 16h00

texto José Sanchis Sinisterra tradução e adaptação Diana Narciso, Hugo Inácio e Pedro Lamas com Diana Narciso e Hugo Inácio direcção Pedro Lamas cenografia e figurinos Filipa Malva desenho de Luz Jonathan Azevedo assistente de designer de luz Ana Rita Marques sonoplastia Nuno Pompeu composição e interpretação musical Matilde Fachada fotografia de cena Carlos Gomes interpretação em Língua Gestual Portuguesa Andreia Esteves, Neuza Santana, Pedro Oliveira e Rafaela Silva direcção de produção Joana Rodrigues grafismo e comunicação Ricardo Ladeira e Vanda Santos

apoio República Portuguesa — Ministério da Cultura, Direção Geral das Artes, Fundação Gestão dos Artistas, Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, Câmara Municipal de Coimbra, Escola Superior de Educação de Coimbra – Programa (D)ESCOLAR; Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, Associação Soltar os Sentidos
co-produção Trincheira Teatro e Teatro da Cerca de São Bernardo | 2023 

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
bilheteira online

“Ay, Carmela”, de José Sanchis Sinisterra (foto de ensaio © Carlos Gomes)

NADA PUEDEN BOMBAS, DONDE SOBRA CORAZÓN
Ay Carmela!, do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra (1940), foi escrita em 1986 e posta em cena pela primeira vez em 1987. Caracterizada pelo autor como “elegia de uma guerra civil em dois atos e um epílogo”, a peça conta a peripécia de dois atores itinerantes que, durante a guerra civil espanhola, malogradamente se viram no caminho do avanço nacionalista.
Carmela, fuzilada pelas tropas de Franco, surge de novo a Paulino, seu antigo companheiro de cena, com quem foi obrigada a apresentar-se perante uma plateia composta por nacionalistas e seus prisioneiros. Juntos revisitam os dilemas, escolhas e compromissos que se puseram a cada um neste trágico episódio, reconstruindo passo a passo os acontecimentos que resultaram na morte da atriz. 
Testados até um ponto de rutura, Carmela insurgiu-se, Paulino dobrou-se. Carmela deu a sua voz, Paulino perdeu a sua. Carmela pagou o último preço, Paulino sobreviveu – a que custo?
Quando a única força vital que nos move é o imediato individual, quando as circunstâncias oprimem e suprimem a nossa consciência, quando o Passado se reduz ao plano da memória estéril e o Futuro se molda por “inevitabilidades” – sobre as quais não temos nem voz, nem mão – que nos resta? Que opções se nos alinham como tangíveis, em terreno tão hostil? E que papel para a elegia, exercício poético do lamento, no palco? 
Talvez o de caminho. Afinal, o palco é o sítio do aqui e do agora; o encontro com os nacionalistas, o ensaio, a apresentação, os fuzilamentos, são ações anteriores. A peça tem muito mais a ver com Carmela surgir a Paulino, do que, propriamente, com o destino fatídico reservado à atriz. 

“Ay, Carmela”, de José Sanchis Sinisterra (foto de ensaio © Carlos Gomes)

José Sanchis Sinisterra (n. Valência, Espanha, 1940) é, desde o último quarto do século passado, uma referência incontornável da cena teatral do nosso tempo. Distinguido com diversos prémios internos e internacionais, o autor de peças como Nhaque ou de Piolhos e AtoresTerror e Miséria no Primeiro Franquismo, ou O Cerco de Leningrado, é responsável por uma vasta obra, que não se atém à escrita dramática. 
Dramaturgo, encenador e professor, Sinisterra articula estes ofícios como os alicerces para a sua senda em direção a uma prática teatral de contínuo questionamento técnico, artístico, e social. Esta articulação é tanto uma constante no seu percurso, como um horizonte que se refina ao longo do mesmo.
Em 1977, Sinisterra funda e dirige o Teatro Fronterizo, em Barcelona. O trabalho experimental e de investigação que realiza neste coletivo abre caminho para, em 1989, abrir e dirigir a Sala Beckett – uns mais importantes espaços de criação, formação e pesquisa teatral da cena contemporânea ocidental; em 1992, dirige o FIT de Cádiz, o mais importante Festival de Teatro Iberoamericano em solo europeu; em 1997, muda-se para Madrid, onde vem a fundar, em 2010, numa antiga fábrica de espartilhos, o Nuevo Teatro Fronterizo. A isto se junta o seu trabalho na formação, ministrando e dirigindo estúdios e cursos em vários países ao longo dos anos, e a sua incessante produção dramatúrgica. 
Sinisterra é hoje um dos autores ibéricos mais representados no mundo, e !Ay Carmela! figura entre os seus textos mais levados a cena. O drama, com a Guerra Civil Espanhola no pano de fundo, apresenta os traços distintivos que caracterizam a sua obra: no aqui e no agora da peça, assistimos à mais fina fusão de luz e sombra, ficção e realidade, micro e macrocosmos, Teatro e Vida. 
A dramaturgia de Sinisterra faz mais do que jogar com as fronteiras de espaço ou tempo ou perceção: ela implode-as. A sua obra atua como um pulsar sobre o palco: é capaz de libertar, com a serenidade e fluidez de um espírito apaixonado e implicado com a condição humana, todo o esplendor das forças criativas do teatro. “O teatro reside nesse mistério chamado momento presente”, lembrava-nos Peter Brook (encenador inglês, 1925–2022). José Sanchis Sinisterra é um dos mestres deste “mistério”; e a sua produção dramatúrgica é um crisol, sempre pronto a depurar, no seu âmago, a matéria filigrânica das imensas forças– internas e externas – que atuam sobre nós.

TODO O PALCO É UMA TRINCHEIRA
Em 2014, no piso de cima do antigo café Tropical, em Coimbra, uma dúzia de profissionais de teatro juntou-se para responder aos desafios lançados pela primeira edição da Plataforma T2 do Teatrão, incubadora artística criada para assistir à emergência de novos projetos teatrais no território. A 8 de outubro desse ano, o grupo estreou À Direita de Deus Pai – uma desgarrada em dois atos, e nasceu a Trincheira. 
A 29 do mesmo mês, o grupo constituiu a TRIBOBASTIDOR – Associação Cultural e Recreativa, estrutura que, desde então, vem habilitando os seus associados a juntarem-se e a perseguirem o teatro do seu interesse. O trabalho da Trincheira articula três eixos fundamentais de ação: a criação, educação e investigação teatrais. 

Até à data, a Trincheira estreou 12 espetáculos, entre a sala e a rua: 
2022 À Flor da Pele de Consuelo de Castro2021 Os Gigantes da Montanha de Luigi Pirandello 2019 Motivos PeculiaresO Último Marco do Correio de João Cadete2018 I.L.H.A. – Ideias Levemente Hostis sobre o AmanhãSofia, Meu Amor!Houston, We Have a Problem2017 Triste Sina de Uma Coisa Feliz de Ana Bárbara Queirós e Alexandre Oliveira; 2016 Caminho Marítimo para a Desgraça de Hugo Inácio e Telmo Ferreira2015 Os Enigmas de Bagdad de Diogo Binnema, Hugo Inácio e Telmo Ferreira; ORPHEU: Lado B2014 À Direita de Deus Pai: uma desgarrada em dois atos a partir de Tomás Carrasquilla.

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