Archive for Novembro 12th, 2014

Físicos que não curam amores

Quarta-feira, Novembro 12th, 2014
josebernardes

José Bernardes

Autor de cerca de meia centena de peças, escritas e representadas entre 1502 e 1536 (o que faz dele o dramaturgo mais prolífico do seu tempo, em toda a Europa), Gil Vicente é, ainda hoje, um dos maiores nomes do teatro português de sempre.
Embora a sua arte revele uma importante dimensão literária (parte das suas raízes mergulha nos cancioneiros peninsulares dos séculos XV e XVI), só no palco é possível captar a excecional vivacidade multissensorial que a caracteriza, feita de palavras mas também de música e de gestos.

De facto, é através da voz e do corpo dos atores que Gil Vicente se faz mais presente aos nossos olhos, permitindo a aproximação ao ritmo e às coordenadas mentais do século XVI.

É isso que sucede na Barca do Inferno (peça que continua com presença certa nos programas de Português) e é isso que ocorre também com Físicos, auto bem menos conhecido do que o anterior, onde convivem sátira e entretenimento cómico. A ação centra-se nas maleitas de um clérigo que, ao contrário do que o seu estado levaria a supor, se apaixona fortemente por uma moça que não lhe corresponde. Mas não é apenas o clérigo que é objeto de sátira. Também os médicos que o visitam são ridicularizados na sua ineficácia e na sua presunção (um dos alvos preferidos da crítica vicentina). Após o desfile de fracassos que envolve os quatro médicos, a doença viria a ser finalmente identificada não por um físico mas por um outro clérigo, ele próprio familiarizado com a “coita de amor”.

Tudo termina com uma “ensalada”, procedimento musical a que Gil Vicente recorre muitas vezes, nas farsas, para rasurar o desconcerto e repor a alegria.

Beneficiando de mais de vinte anos de familiaridade com os textos de Gil Vicente, António Augusto Barros e a “sua” Escola da Noite trazem-nos, desta vez, um trabalho que em nada desmerece dos anteriores (nem em segurança nem em talento nem em inventividade), contribuindo para que alunos, professores e espetadores em geral possam conhecer melhor uma obra que, embora sendo vasta e diversificada, foi construída com um todo, reclamando, por isso, um conhecimento articulado e coerente.

José Augusto Cardoso Bernardes
Director da Biblioteca-Geral da Universidade de Coimbra
Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Hoje (de manhã) no TCSB: “Auto dos Físicos”

Quarta-feira, Novembro 12th, 2014
Maria João Robalo e Miguel Magalhães, "Auto dos Físicos" (foto: Pedro Rodrigues)

Maria João Robalo e Miguel Magalhães, “Auto dos Físicos” (foto: Pedro Rodrigues)

Hoje o dia começa cedo no Teatro da Cerca de São Bernardo. Às 11h00, recebemos os alunos do Colégio São Martinho.

Até sábado, todos os dias são dias de “consulta“. Faça-nos companhia!

TEATRO
Auto dos Físicos
de Gil Vicente
pel’A Escola da Noite
encenação António Augusto Barros interpretação Filipe Eusébio, Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Sofia Lobo cenografiaJoão Mendes Ribeiro figurinos e adereços Ana Rosa Assunção luz Rui Valente som Zé Diogo apoio vocal Sofia Portugal vídeo Eduardo Pinto co-produção A Escola da Noite / Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos
M/12 > 50′ (aprox.)

Igor Lebreaud, Sofia Lobo e Miguel Magalhães, "Auto dos Físicos" (foto: Pedro Rodrigues)

Igor Lebreaud, Sofia Lobo e Miguel Magalhães, “Auto dos Físicos” (foto: Pedro Rodrigues)

Coimbra
Teatro da Cerca de São Bernardo

SESSÕES PARA O PÚBLICO ESCOLAR
11 de Novembro
terça-feira, 15h00
12 de Novembro
quarta-feira, 11h00
13 de Novembro
quinta-feira, 15h00
3 Euros (entrada gratuita para alunos abrangidos pelo escalão A da ASE e para professores acompanhantes)

SESSÕES ESPECIAIS PARA O PÚBLICO EM GERAL
14 e 15 de Novembro
sexta e sábado, 21h30
5 a 10 Euros
condições especiais: médicos – oferta de um bilhete na compra de outro a preço normal; professores – entrada gratuita; todos/as – jantar + teatro, 12 Euros

informações e reservas: 239 718 238 / 966 302 488 /geral@aescoladanoite.pt