Archive for Dezembro, 2011

os direitos humanos são uma ficção

Sábado, Dezembro 10th, 2011

Maria João Robalo e Miguel Lança, Animais Nocturnos (ensaio)

A lei da imigração é uma lei perversa que coroa uma sociedade perversa: tratamos assim os estrangeiros porque tratamos os outros assim. Mostra que os direitos humanos são uma ficção, uma fantasia. Só existem os direitos de cidadania, associados a passaportes, a documentos. Mas aceitar isto é gravíssimo, porque me põe também a mim em perigo. Aceitar a lei supõe que o estado pode a dado momento declarar-nos a nós invisíveis e ilegais.

Juan Mayorga, em entrevista à revista Artistas Unidos (n.º 10, Março 2004)

 

Hoje é o dia internacional dos direitos humanos e logo à tarde há debate no bar do Teatro. Na quinta-feira estreia Animais Nocturnos.

uma radiografia

Sexta-feira, Dezembro 9th, 2011

Miguel Magalhães e Miguel Lança, Animais Nocturnos (ensaio)

Obra de forte atmosfera pinteriana; uma radiografia nada convencional da xenofobia latente em tantos países europeus.

Guillermo Heras, sobre Animais Nocturnos

se me servires

Quinta-feira, Dezembro 8th, 2011

Miguel Lança e Miguel Magalhães, Animais Nocturnos (ensaio)

A chantagem que o Baixo faz ao alto representa a chantagem que a sociedade de acolhimento faz ao imigrante: permito-te que fiques se me servires da maneira que eu quero.

Carla Guimarães de Andrade sobre Animais Nocturnos, El motivo de la inmigración en el teatro español (1996-2006)

Debate sobre direitos humanos no TCSB

Quinta-feira, Dezembro 8th, 2011

A Escola da Noite acolhe no TCSB, no próximo sábado, dia 10 de Dezembro, pelas 15h00, o debate “Um olhar crítico sobre os Direitos Humanos”, organizado pela “acampada de Coimbra”. A iniciativa tem entrada livre e assinala o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

De acordo com a organização, numa altura em que “o mundo numa profunda crise, que reitera a miséria de milhões e arrasta muitas outras pessoas para o desemprego, a fome e a precariedade, há ainda maior necessidade de olhar para os Direitos Humanos consagrados de uma perspectiva crítica”. Para o efeito, são oradores convidados no debate Bruno Kalon Gonçalves (mediador para as comunidades ciganas), José Manuel Pureza (professor de Relações Internacionais) e os investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Raúl Llasag e Jonas Van Vossole.
No texto de apresentação do debate, os organizadores lembram que os direitos humanos deveriam garantir o respeito pela pessoa, independentemente do seu género, nacionalidade, cor de pele, orientação sexual ou idade. No entanto, afirmam, “mesmo nos países ditos desenvolvidos, as opressões são aprofundadas”: “muitos dos direitos consagrados na Declaração Universal, e também nas suas Constituições, não passam de letra morta, ou de algo que fica bem lembrar em dias de festa”.
A iniciativa acontece a menos de uma semana da estreia do próximo espectáculo d’A Escola da Noite, “Animais Nocturnos”, de Juan Mayorga. A peça foi escrita em 2002, a partir da situação criada pela Lei de imigração espanhola – uma lei que, nas palavras do próprio autor, divide a sociedade em duas: “há homens com documentos e homens sem documentos”. Esta lei, como a de tantos outros países, estabelece “uma diferença entre uns e outros que torna tentadora, para cada homem com papéis, a possibilidade de dominar o outro, de se aproveitar disso”, lembra o dramaturgo espanhol.

“Animais Nocturnos”, de Juan Mayorga, em estreia n’A Escola da Noite

Terça-feira, Dezembro 6th, 2011

A Escola da Noite estreia no próximo dia 15 de Dezembro o espectáculo “Animais Nocturnos”, de Juan Mayorga. A peça desenvolve-se a partir da chantagem exercida sobre um imigrante sem-papéis numa cidade dos nossos dias. O autoritarismo, a discriminação, a solidão e uma “incomunicação generalizada” são alguns dos temas fortes do texto, sem maniqueísmos nem respostas fáceis.

 

Mayorga é um dos mais importantes dramaturgos espanhóis contemporâneos. Na sua recente vinda a Coimbra, no âmbito das Jornadas organizadas pel’A Escola da Noite, relembrou o contexto em que nasceu esta peça. Em 2002, o Royal Court Theatre, de Londres, pediu a vários dramaturgos europeus que escrevessem peças curtas sobre políticas dos seus países. Juan Mayorga escolheu a lei de imigração, pela forma como ela “divide a sociedade em duas: há homens com documentos e homens sem documentos”. Explorando a forma como estas leis estabelecem uma diferença “entre uns e outros” e como “tornam tentadora, para cada homem com papéis, a possibilidade de dominar o outro”, escreveu a peça “O bom vizinho”. Posteriormente, desenvolveu o texto e compôs “Animais Nocturnos” – acrescentando à intolerância e ao abuso sobre os fracos por parte dos que se sentem superiores os temas da solidão, da incomunicação e da procura de liberdade nas sociedades contemporâneas.
Quatro personagens, nomeadas apenas pela sua estatura física, dão corpo a uma inusitada e aparentemente irracional situação de escravatura, marcada pelo medo e por uma violência latente. O Homem Baixo, vizinho de cima do Homem Alto, descobre que este vive em situação ilegal e aproveita-se disso para exercer sobre ele a sua autoridade, alterando radicalmente as suas vidas e as das respectivas mulheres.
Abordar estes temas fugindo ao maniqueísmo e à facilidade dos lugares-comuns ou do politicamente correcto é tarefa difícil. Mayorga consegue-o com uma singular mestria, exercitando a dialéctica comum a várias das suas obras e a defesa “até à morte” que gosta de fazer das suas personagens, “tentando entender as suas razões”. O teatro – afirmou o autor em Coimbra – “é capaz de tornar visível a contradição, o que é paradoxal. Pode deixar o espectador desnudado com a pergunta”.
Com encenação de António Augusto Barros, o novo espectáculo d’A Escola da Noite mantém a ambiguidade e os pontos “em aberto” do próprio texto, numa cadeia de liberdade e imaginação que se completa apenas na leitura e na reflexão que for capaz de suscitar no espectador.
A terceira e última peça do ciclo dedicado pela companhia de Coimbra à dramaturgia espanhola contemporânea estreia a 15 de Dezembro no Teatro da Cerca de São Bernardo, onde cumpre uma primeira temporada até dia 23 – de terça a sábado às 21h30 e no domingo, dia 18, às 16h00. Os preços variam entre os 6 e os 10 Euros e é aconselhável a reserva prévia de lugares.

ANIMAIS NOCTURNOS

texto Juan Mayorga tradução António Gonçalves encenação António Augusto Barros interpretação Maria João Robalo, Miguel Lança, Miguel Magalhães, Sofia Lobo cenografia António Augusto Barros, João Mendes Ribeiro figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Eduardo Gama
M/12 > 90′ (aprox.)

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
15 a 23 de Dezembro de 2011
terça a sábado, 21h30
domingo, 16h00

5 a 29 de Janeiro de 2012
quinta a sábado, 21h30
domingos, 16h00

informações e reservas: 239 718 238 / 966 302 488

geral@aescoladanoite.pt