Archive for Julho, 2009

A Escola da Noite acolhe “Tributo a Zeca Afonso”

Sexta-feira, Julho 31st, 2009

 

Companhia Bengala (Foto: Pedro Sena Nunes)

Companhia Bengala (Foto: Pedro Sena Nunes)

A Escola da Noite acolhe no próximo domingo, 2 de Agosto (21h30), no Teatro da Cerca de São Bernardo, o espectáculo musical “Tributo a Zeca Afonso”, da Companhia Bengala.

A iniciativa é uma organização da Câmara Municipal de Coimbra e insere-se num conjunto de actividades mais vasto que pretende assinalar a passagem dos 80 anos sobre o nascimento de José Afonso. Intitulado “Memorial José Afonso”, o programa estende-se até 3 de Outubro e inclui espectáculos de música, dança, recitais de poesia, um ciclo de Conversas a meio da tarde e uma exposição bio-discográfica.

A Companhia Bengala, cujo espectáculo abre a programação cultural desta homenagem, é um grupo musical formado em 1996 e apresenta como objectivos “fazer uma leitura universalista da música de raiz tradicional portuguesa (em fusão com linguagens improvisadas), musicar poesia em língua portuguesa e colaborar com outras áreas artísticas”. Editou em 1999 o seu primeiro CD – “Mar Português” – com 12 poemas de Fernando Pessoa musicados e prepara actualmente a edição do seu segundo trabalho.

A apresentação de “Tributo a Zeca Afonso” no TCSB insere-se no Programa Território Artes do Ministério da Cultura e acontece no âmbito do protocolo estabelecido entre a autarquia e A Escola da Noite para a gestão e programação do Teatro.

Os bilhetes custam entre 3 e 5 euros e as reservas devem ser feitas directamente para o TCSB, pelo telefone 239 718 238.

“Este Oeste Éden” em Braga

Terça-feira, Julho 28th, 2009

cartaz-eoe-800

A Escola da Noite apresenta em Braga, no Theatro Circo, a 30 e 31 de Julho (quinta e sexta-feira), a sua mais recente produção – “Este Oeste Éden”, de Abel Neves.

O espectáculo estreou em Coimbra no passado dia 16 e tem aqui a sua primeira apresentação “fora de portas”, a convite da Companhia de Teatro de Braga, no âmbito da Plataforma das Companhias.

Com encenação de Sílvia Brito, “Este Oeste Éden” é o segundo texto inédito de Abel Neves que A Escola da Noite se orgulha de apresentar ao público. O autor propõe-nos aqui uma arrojada visão da humanidade, revisitando alguns dos mitos fundadores da civilização ocidental e sugerindo o seu cruzamento, em palco, com sinais da vida quotidiana. Uma reflexão sobre a condição humana e os ciclos de que se constrói a sua história, plena de metáforas e interrogações – seremos nós, humanos, a mais imperfeita e mais irresistível das criações artísticas?

encenação  Sílvia Brito cenografia António Jorge figurinos Ana Rosa Assunção interpretação Ana Mota Ferreira, António Jorge, Hugo Santos Fonseca, Igor Lebraud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash, Sílvia Brito e Sofia Lobo desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Eduardo Gama fotografia Augusto Baptista

Braga, Theatro Circo

30 e 31 de Julho, quinta e sexta, 21h30

M/16, 2h30 com intervalo

Criação artística em Portugal: contributos para uma nova política

Sexta-feira, Julho 24th, 2009

 

1

Entre 2001 e 2009, o orçamento do Ministério da Cultura baixou de 300 para 213 milhões de Euros. O peso do orçamento do Ministério no Orçamento Geral do Estado passou de 0,7 para 0,3%.

Ao fazer recentemente o balanço da actuação do seu executivo, o Primeiro-Ministro reconheceu, como em relação a nenhuma outra área, que o investimento público na Cultura ficou aquém do que seria desejável. Posteriormente, afirmou constituir a Cultura uma “prioridade” sua na próxima legislatura.

Relativamente a esta matéria, espera-se que todos os partidos exprimam com clareza a sua posição e, obviamente, antes das eleições. Importa saber que políticas propõem para o sector os candidatos ao Governo.

 

2

Em Outubro de 2008, as companhias de teatro profissional subscritoras do presente documento discutiram o modelo de financiamento público à criação artística em Portugal actualmente em vigor. Exprimiram então a sua preocupação com a sub-orçamentação do Ministério, e também com:

– a profusão de sucessivas alterações legislativas, que aí atingiu um pico surrealista: o mesmo governo alterou um modelo que ele próprio tinha criado, antes mesmo de este entrar em vigor;

– os efeitos devastadores que tal instabilidade provoca na vida e no trabalho das estruturas de criação artística que a ela estão sujeitas;

– a falta de discussão pública desta última alteração, que ocorreu em sentido inverso aos resultados da discussão havida apenas dois anos antes;

– a ambiguidade na definição do que é o serviço público nesta área;

– o agravamento das assimetrias regionais;

– o desconhecimento ou a desconsideração em relação aos custos da criação artística teatral;

– a subjugação das companhias à lógica de projecto pontual, ignorando o seu papel estrutural no sistema teatral do país e impedindo-as, na prática, de potenciar devidamente o seu trabalho;

– a incoerência legislativa quanto aos direitos dos trabalhadores do sector;

– a ausência de uma intervenção sustentada em matéria de internacionalização;

– a predominância dos factores quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos;

– a confusão entre número de espectadores e qualidade do trabalho artístico;

– as insuficiências reiteradas da formação artística no país;

 

Ignoradas (ou distorcidas) na altura, estas preocupações transformaram-se em certezas quanto à incapacidade do actual Governo para pensar e concretizar uma política cultural para o país.

Mesmo depois do reconhecimento – ou contrição – do próprio Primeiro-Ministro, não deixa de causar espanto que o Ministro da Cultura (que prometera “fazer mais com menos”) e as chefias intermédias por si tuteladas tenham vindo a público reiterar a defesa do seu entendimento e da sua actuação, procurando justificar o injustificável, manipulando dados, tentando dividir os agentes no terreno e procurando disfarçar a sua incompetência com acções supostamente mediáticas – beneficiando, é certo, da costumeira falta de espaço para a discussão séria de matéria cultural, tanto na comunicação social como no debate inter e intra-partidário.

 

3

Solidárias com o reconhecimento expresso pelo Primeiro-Ministro – que gostariam de ler como uma verdadeira intenção de alterar a forma de fazer política cultural em Portugal –, estas companhias de teatro vêm uma vez mais dar o seu contributo para a discussão, numa altura em que é imperioso assumir-se claramente compromissos com o país, de forma séria e vinculativa.

Não representam estas companhias mais ninguém além de si próprias. Reconhecem que o sector não tem estruturas representativas e que a tarefa dos governantes é, portanto, um pouco mais trabalhosa: exige idas ao terreno, auscultações, “trabalho de casa”; exige rigor e seriedade no diagnóstico dos problemas; exige frontalidade na apresentação de propostas e responsabilidade na acção – em democracia, os programas eleitorais e de governo são compromissos para cumprir e a sua violação uma falha grave, que exige (como é do senso comum), para além de desculpas, a sua imediata reparação.

É neste contexto que as seis companhias profissionais abaixo assinadas vêm renovar as suas propostas para o desenvolvimento sustentado do Teatro no nosso país, elemento fundamental de uma ambição mais vasta – a afirmação da criação artística nacional, dentro e fora do país, como um sector fundamental da intervenção do Estado, no âmbito de um projecto de sociedade mais justo e mais democrático.

Sediadas em algumas das cidades médias mais importantes do país – Braga, Coimbra, Évora, Faro e Covilhã –, todas elas com pólos universitários da maior relevância e com o que tal abrangência geográfica significa em termos de públicos directamente beneficiados com o seu trabalho, bem como em espaços culturais conquistados para o país e de potencialidades para uma efectiva e equilibrada descentralização da criação artística pelo território nacional, estas companhias propõem:

– o cumprimento imediato da meta do 1% do OGE afecto ao Ministério da Cultura;

– a revisão do actual modelo de financiamento público à criação artística, através de um processo em que as preocupações manifestadas pelos agentes que trabalham no terreno sejam efectivamente tidas em conta;

– a separação dos apoios à criação dos apoios à programação de salas de espectáculo, em nome da transparência e da eficácia do investimento público;

– a valorização de critérios qualitativos na avaliação dos projectos a apoiar, por oposição à lógica quantitativa dominante, supostamente neutral e mais objectiva, que tem presidido à relação do Estado com os agentes culturais e que foi radicalizada no modelo actualmente em vigor;

– a substituição do modelo generalizado dos “concursos” por um modelo misto: contratos-programa com as companhias e os agentes com provas dadas (limitados no tempo e sujeitos a competente avaliação regular por parte do Estado) e apoios específicos para novos criadores, que assim devem ver reforçados os apoios ao seu dispor;

– a implementação de objectivos específicos (e mensuráveis) a cada caso, na contratualização com cada uma das estruturas;

– o estabelecimento de protocolos estáveis e equilibrados com as autarquias das principais cidades do país tendo em vista a valorização das estruturas de criação aí sediadas e a maximização das potencialidades dos novos equipamentos culturais aí instalados;

– o reforço da exigência quanto à qualidade dos equipamentos apoiados pelo Estado, tanto no que diz respeito às infraestruturas como quanto aos seus modelos de funcionamento e programação, aplicando-a em todos os programas de suporte financeiro – da comparticipação das obras aos projectos de incentivo à circulação de espectáculos;

– a definição de prioridades estratégicas na afectação do investimento público, tendo em conta uma estruturação do território nacional que se articule com as outras dimensões do desenvolvimento do país, nomeadamente com uma política de cidades que promova um efectivo e realista combate à desertificação do interior do país;

– uma política de apoios à internacionalização, que seja não dirigista, capaz de reconhecer as relações estabelecidas e o trabalho desenvolvido pelas companhias existentes, potenciando relações de intercâmbio já amadurecidas, as quais têm sido ignoradas;

– o envolvimento dos criadores nacionais no incremento da formação artística e da sensibilização para as artes nos diferentes graus de ensino, desde o pré-escolar ao superior;

– a disponibilização dos meios públicos de comunicação social para a divulgação regular das iniciativas promovidas pelas companhias e pelos criadores individuais financiados pelo Estado, gratuitamente ou a preços simbólicos;

 

Coimbra, 24 de Julho de 2009.

 

A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra

ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

Centro Dramático de Évora

Companhia de Teatro de Braga

Teatro das Beiras

Teatro de Montemuro

este oeste éden

Sábado, Julho 18th, 2009
"Este Oeste Éden" (foto de ensaio, de Pedro Rodrigues)

"Este Oeste Éden" (foto de ensaio, de Pedro Rodrigues)

À cabeça, o desejo, sentido primário dos afectos,
na boca, polissemias enganosas pela natureza do mundo.
Se não há mão sábia que ampare esta desordem
só sobra a outra, obreira insubstituível,
e talvez um gesto possa mudar a vida.

Sílvia Brito

(no programa do espectáculo)

“Aos que ainda acreditam”

Sexta-feira, Julho 17th, 2009

 

 

Há talvez uns oito anos que o Abel nos entregou este texto. “Vejam o que vos parece”, diz ele sempre, meio humilde meio provocador, como quem sabe que dificilmente lhe resistimos.

Nós demorámos a responder. Muito. Por um lado, porque nos apetecia continuar a explorar o universo de “Além as estrelas são a nossa casa” até “Além do Infinito”, onde chegaríamos só em 2004. Por outro lado, porque este texto não merecia menos. Obra arrojada, complexa, de uma dimensão quase épica, atraiu-nos no imediato com a mesma força com que nos fez sentir o peso da responsabilidade. De tal forma que andámos vários anos a refrear o ímpeto, adiando de plano em plano a sua concretização.

Chegados à casa nova, não resistimos mais. Mesmo que nas traseiras não haja os tanques para a roupa com que sonhámos, queremos mesmo muito começar de novo a construir um novo jardim. Quase (fosse isso possível) como se nunca tivessem abatido o pessegueiro e tudo fossem cores e cheiros e sons de pássaros.

É nestas coisas pequeninas que se vêem as grandes, insiste Abel. E nós concordamos, artesãos a achar que o mundo pode só ser mais bonito e que das nossas mãos podem sair modelos que o confirmem. Guardamos para nós, enquanto artistas, o direito de nos comovermos com a beleza das coisas e o dever de com ela nos entusiasmarmos, de a perseguir, de tentar construí-la e partilhá-la, de ser as “mãos gentis sobre a paisagem” que o mesmo Abel reivindica no ensaio aqui publicado.

Assim fizemos com este Éden. Transpondo para o palco as interrogações poéticas, e por isso tão políticas, e por isso tão humanas, da escrita do Abel.

Trabalhamos, como ele, na procura. E no risco assumido de não dar respostas, na necessidade de não deixarmos de pensar e de ir tentando compreender o mundo.

Juntos na consciência de que é por esta via que o teatro pode, afinal, ter alguma importância.

 

A Escola da Noite, Julho de 2009.