“Sobre Oratória do Vento” – Nota do encenador

Continuando o Ciclo Liberdade e Solidão, a CTB convidou o Poeta Vergílio Alberto Vieira para, numa segunda incursão, experimentar um texto seu (original) na nossa prática teatral. Surge-nos assim – a partir da Lenda de Santa Maria Egipcíaca – Oratória do Vento. Com este belíssimo texto, a um tempo poético e lírico, fundado no símbolo, em que o universal e o particular se unem, em que o princípio feminino (que não feminista) se instala, através da figura de Maria Egipcíaca, a prostituta, que busca a redenção. O teatro, pela sua dinâmica hibrida de cenário e discurso, acção e texto, instala-se, tal como o feminino, num imaginário nocturno e atinge o seu ápice na sua configuração mística do palco como Lugar da transcendência. Assim, tal como a tradição patriarcal, que busca controlar as interpretações místicas, arrefece, na superfície das narrativas, o poder das deusas Mulheres, se há-de demonstrar (no palco) que a História continua a oferecer o caminho para que esse poder feminino se manifeste de vários modos tanto no Imaginário como na Realidade. Nas mitologias da fé (de que hoje somos todos vítimas?) o Homem e o seu Filho, apesar do seu protagonismo, “estão sempre cercados” por imagens femininas que abrem o caminho, o sedimentam e parecem fortalecer as “novas ideologias da redenção” que nos conduziram à “guerra das religiões” a que uns assistem e outros, barbaramente morrem. Deus (ou alguém por ele) vale-se do artifício da Palavra e da sensualidade da mulher como arma poderosa contra os inimigos. Em Oratória do Vento estamos na lenda, no Imaginário simbólico e místico do Princípio, nos primórdios do Cristianismo. Entre Alexandria e Jerusalém, no florescimento dos mestres anacoretas, embrenhados nos desertos de Cétia e da Nítria. Fixamo-nos numa cartografia que tem tanto de Antiga, de Deserto e Oliveiras, como de Actual, de Lugares de Culto e Campos de Concentração. Mas sempre preanunciadora de Caos. É aí, com as Imagens e as Vozes que nos chegam diariamente, que se desenrola Oratória do Vento entre: Alexandria e Jerusalém, o Deserto e o Muro das Lamentações, o Imaginário e o Místico, o Fundamentalismo e a Barbárie. Sem Lugar para O Outro nem Tempo para a Paz.

Rui Madeira

Oratória do vento
de Vergílio Alberto Vieira
Companhia de Teatro de Braga

Coimbra – TCSB
9 de Abril
sábado, 21:30
M/12 > 100′
Preços: bilhete normal – 10 Euros; estudante, jovem, > 65 anos e profissionais e amadores de teatro – 6 Euros; entidades protocoladas e funcionários da CMC – 5 Euros; assinaturas TCSB – 5 entradas, 30 Euros / 10+1 entradas, 50 Euros

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

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