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O Cendrev e os resultados dos concursos bienais da DGArtes

Sábado, Outubro 12th, 2019

Oh, como deve ser agradável a sensação de elasticidade
quando se marcha sobre cadáveres

Matéi Visniec, “Da sensação de elasticidade
quando se marcha sobre cadáveres”

“Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente – co-produção Cendrev / A Escola da Noite, 2016 (foto: Paulo Nuno Silva)

O Centro Dramático de Évora anunciou ontem “a inevitabilidade de encerrar a sua actividade a partir de Janeiro de 2020”. Fê-lo em função dos resultados provisórios dos “concursos sustentados para o biénio 2020-2021” da Direcção-Geral das Artes. Segundo estes resultados, a companhia deixará de poder contar com financiamento público para o desenvolvimento do seu trabalho.

O Cendrev tem 44 anos de actividade continuada: foi responsável pela criação de dezenas de espectáculos teatrais; formou centenas de novos profissionais; recuperou, dinamiza e divulga uma jóia da cultura popular portuguesa como os “Bonecos de Santo Aleixo”; justificou a recuperação e assegura há muitos anos a manutenção e o funcionamento de um dos mais importantes teatros portugueses – o Teatro Garcia de Resende; tem uma sólida implantação na cidade de Évora e na região alentejana, percorre anualmente o país num esforço grande de itinerância e goza de reconhecimento internacional; mantém uma estrutura de profissionais, a quem assegura níveis mínimos de estabilidade e “boas práticas de empregabilidade” (palavras do júri), mesmo em momentos difíceis, como os que atravessa há largos anos; travou uma luta sem descanso para não deixar morrer a Bienal Internacional de Marionetas de Évora, que em 2019 regressou e se mantém como um dos principais acontecimentos culturais do Alentejo; afirmou-se no panorama teatral português como um parceiro de confiança, elemento dinamizador de várias redes de intercâmbio e de plataformas de reflexão sobre a política cultural no nosso país; é das companhias portuguesas que mais tem promovido o diálogo e a cooperação com estruturas congéneres de Espanha. O Cendrev é uma referência para quem considera, como nós, que a existência de estruturas estáveis de criação artística continua sendo essencial para o desenvolvimento do Teatro em Portugal e para quem valoriza, como nós, o contributo que estas estruturas podem dar para o desenvolvimento das cidades médias e das diferentes regiões do país.

O “novo modelo de apoio às artes”, criado pelo Governo ainda em funções, permite que uma companhia com a história e o presente do Cendrev deixe de poder contar, de um momento para o outro, com financiamento público. Não porque o Governo (ou o júri por ele escolhido) considere que o Cendrev deixou de prestar bem o serviço público que justifica o investimento do Estado, mas apenas porque o orçamento que o Governo decidiu dedicar a estes apoios é insuficiente. O júri destes concursos faz uma avaliação positiva do trabalho do Cendrev e destaca muitas das marcas que atrás elencámos. Mas o dinheiro “não chega”, como o próprio júri também quis deixar escrito. O dinheiro “não chega” mas permite, pelos vistos, que a DGArtes emita um comunicado festivo, em que fala do aumento do “apoio médio concedido”, dos 33% de “novas entidades apoiadas” e até de um aumento de 83% nos apoios às artes em relação a 2015 (no fim do período da troika). Nenhuma festa é possível, nenhum regozijo aceitável, num concurso que, por razões de mera tesouraria, condena o Cendrev ao desaparecimento.

Temos com o Cendrev uma especial relação de admiração, cumplicidade e companheirismo, da qual o projecto “Embarcação do Inferno” é o mais recente e vivo exemplo. Mas o seu caso não é caso único neste concurso: só na área do Teatro, há mais de 30 entidades, todas com avaliações positivas por parte do júri, que se vêem excluídas dos financiamentos do Estado. Entre elas, várias estruturas com 20, 30, 40 anos de actividade e provas dadas. A DGArtes e o seu “novo modelo de apoio” preparam-se para as deitar fora, para abdicar do muito que ainda têm a dar ao país, sem uma avaliação minimamente séria do trabalho realizado, dos impactos que tem, das consequências que o seu eventual desaparecimento acarreta – para os profissionais directamente afectados mas sobretudo para as populações, para os públicos a quem o trabalho sempre se dirigiu.
No caso do Cendrev, é ainda difícil de explicar o facto de o Alentejo ter sido a única região que, misteriosamente, viu baixar o financiamento (-8%) quando, em coerência com os discursos sobre o despovoamento do interior e a necessária discriminação positiva, se aconselharia o contrário.

Estamos a assistir à mera repetição do que aconteceu em Março do ano passado. Também então várias estruturas que sustentam o tecido teatral português ficaram excluídas de qualquer apoio, incluindo a nossa. Caso se tivessem concretizado, estes cortes provocariam uma razia sem precedentes nesse esburacado tecido, fustigado por anos de sub-financiamento e por cortes brutais no período da “austeridade”.
A indignação e os veementes protestos acumularam-se e forçaram o Primeiro-Ministro a anunciar um reforço para as candidaturas elegíveis. O problema é agora o mesmo, reforçado por uma carta que o próprio júri enviou à Ministra, em que solicita “uma solução que resgate as expectativas dos candidatos” considerados elegíveis, pondo fim a uma “profunda discrepância”. “Sentimos extremo desconforto na nossa actuação como membros deste júri por as nossas deliberações não encontrarem correspondência financeira nos resultados alcançados”, remata a carta, à qual a Ministra, aparentemente, ainda não deu resposta.

Estes resultados, decididos no final de Agosto, são conhecidos agora, num “tempo de ninguém”, entre um Governo que está de saída e outro que ainda não chegou. Não será por isso que ficamos calados. Não seremos cúmplices, com o nosso silêncio, de mais esta tentativa de destruir boa parte de quem criou as bases do teatro português no pós-25 de Abril e continua a ser uma parte fundamental do tecido teatral do nosso país.
Manifestamos a nossa solidariedade com o Cendrev e com as restantes estruturas excluídas do apoio e insistimos na necessidade de dotar estes concursos de verbas minimamente adequadas à realidade artística e às necessidades do país.

A Escola da Noite, 12 de Outubro de 2019

“Embarcação do Inferno” regressa ao TCSB em Novembro

Segunda-feira, Setembro 9th, 2019
(foto: Paulo Nuno SIlva)

A Escola da Noite e o Cendrev apresentam em Coimbra, entre 8 e 15 de Novembro, uma nova temporada para o público escolar do espectáculo “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente. Estreado em Outubro de 2016, o espectáculo já foi visto por mais de 14 mil pessoas, em várias cidades do país.

Com um elenco composto por intérpretes das duas companhias e co-encenação de António Augusto Barros e José Russo, o espectáculo assinala os 500 anos da primeira apresentação e da primeira edição do mais célebre texto de Gil Vicente (e obra maior da Idade Média europeia), também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”. Aquele que já é um dos espectáculos mais apresentados e mais vistos na história d’A Escola da Noite (140 sessões, mais de 14 mil espectadores) cumpre a sua quarta temporada em Coimbra, depois de ter passado por Évora, Coimbra, Campo Benfeito, Bragança, Aveiro, Viana do Castelo, Caldas da Rainha, Barreiro, Figueira da Foz, Castelo Branco, Porto, Leiria, Braga, Ponta Delgada e Sobral de Monte Agraço.

O Cendrev e A Escola da Noite mantêm a vontade de celebrar com o público este momento fundador do Teatro português, afirmando que Gil Vicente não é “apenas” o nosso maior dramaturgo, mas também uma das figuras cimeiras da nossa literatura e da nossa cultura. Respeitando a versão integral do texto, tal como foi fixada por Paulo Quintela em meados do século XX, esta criação desafia os espectadores a confrontarem-se com tudo o que a peça continua a ter para nos oferecer, cinco séculos depois. José Augusto Cardoso Bernardes, consultor científico do projecto, destaca a este respeito: “pela mão qualificada, segura e inventiva da Escola da Noite e do Centro Dramático de Évora, ficamos em condições de problematizar temas de sempre: Morte e Vida, Mal e Bem, Ter e Poder. E, para tal, nem sequer precisamos de sair completamente do século XXI. Com os pés assentes no nosso tempo, bastará alongar o ouvido e apurar a visão para escutar a sensibilidade e a moral de um outro tempo que, afinal, não está ainda tão afastado de nós como pode parecer” – escreveu o professor universitário para o programa do espectáculo.

Nesta nova temporada para o público escolar de Coimbra e da Região, “Embarcação do Inferno” poderá ser vista no Teatro da Cerca de São Bernardo entre 8 e 15 de Novembro, de terça a sexta-feira, às 11h00 ou às 15h00. Como é habitual nas sessões para escolas que organiza no TCSB, é necessário efectuar marcação prévia, o que já pode ser feito através dos contactos do Teatro: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt. Os bilhetes custam 3 Euros por aluno, sendo que os professores acompanhantes e alunos abrangidos pelo escalão A da ASE têm entrada gratuita.
No final de cada sessão, há sempre espaço para uma conversa entre o público e as equipas artísticas do espectáculo ou até para uma visita guiada ao Teatro. A Escola da Noite disponibiliza ainda, a todas as escolas que o solicitem, um conjunto de materiais que podem ser úteis na preparação da vinda ao teatro com os alunos.

Para além das sessões para o público escolar, estão ainda agendadas duas sessões para o público em geral, nos dias 9 e 10 de Novembro – sábado às 21h30 e domingo às 16h00.

Embarcação do Inferno
de Gil Vicente
co-produção A Escola da Noite / Cendrev
8 a 15 de Novembro de 2019
terça a sexta-feira, 11h00 e 15h00
M/12 > 60′

preços:
3,00 € / aluno
(entrada gratuita para professores acompanhantes e alunos abrangidos pelo Escalão A da ASE)

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

A Escola da Noite apresenta “Cinzas…” em Évora

Sexta-feira, Março 15th, 2019

A Escola da Noite apresenta a 23 de Março, no Teatro Garcia de Resende, em Évora, o espectáculo “Cinzas…”, de Harold Pinter, com encenação de Rogério de Carvalho. A sessão está marcada para as 21h30 e ocorre no âmbito das relações de intercâmbio que o grupo de Coimbra mantém com o Centro Dramático de Évora, companhia residente na histórica sala eborense.

Estreada em 2018, “Cinzas…” é a mais recente criação d’A Escola da Noite e reúne quatro peças de Harold Pinter (1930-2008): “A Black and White” (1959), “Língua da Montanha” (1988), “A Nova Ordem Mundial” (1991) e “Cinza às Cinzas” (1996), que possibilitam uma visão panorâmica do universo do dramaturgo inglês, distinguido em 2005 com o Prémio Nobel da Literatura.
Nestas quatro peças o espectador é confrontado com diferentes situações de opressão e violência – refinada ou brutal; íntima, social ou de Estado; física ou psicológica. Sem referências explícitas a tempos e lugares, elas conduzem-nos a cenários de pobreza, de tortura, de humilhações, de desamparo dos mais fracos perante várias formas de agressão.
Em “A Black and White”, duas idosas abrigam-se da cidade grande na leitaria onde diariamente comem a sua sopa e entretêm-se a ver passar os autocarros; em “Língua da Montanha”, outras duas mulheres visitam os seus familiares numa prisão política onde são proibidas de falar a sua própria língua; “A Nova Ordem Mundial” torna-nos testemunhas de um interrogatório cuja brutalidade radica exclusivamente nas palavras proferidas frente ao prisioneiro de olhos vendados; “Cinza às Cinzas” convida-nos a entrar numa sala de estar onde um casal de meia idade em conversa doméstica nos desvenda memórias (reais ou imaginárias) de um horror inominável.
Dirigido por Rogério de Carvalho, o espectáculo conta com as interpretações de Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash e Sofia Lobo, espaço cénico de Ana Rosa Assunção, Jorge Ribeiro e Rogério de Carvalho, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, desenho de luz de Jorge Ribeiro e sonoplastia de Rogério de Carvalho e Zé Diogo.
Para o Teatro Garcia de Resende está agendada uma única sessão, que terá lugar a 23 de Março, sábado, pelas 21h30. Os bilhetes custam entre 3 e 6 Euros e podem ser reservados através dos contactos do Cendrev: 266 703 112 / geral@cendrev.com.

A Escola da Noite em digressão
Março de 2019

TEATRO
Cinzas…
de Harold Pinter
encenação de Rogério de Carvalho

Évora, Teatro Garcia de Resende
23 de Março de 2019
sábado, 21h30
M/16 > 1h40 com intervalo
informações e reservas:
266 703 112 / geral@cendrev.com

Hoje no TCSB: segundo e último dia de “Fantasmas?”

Sexta-feira, Março 8th, 2019
“Fantasmas?”, co-produção Cendrev / TEatroensaio (foto: Paulo Nuno Silva)

A co-produção do Cendrev com o TEatroensaio, construída a partir do texto original de Eduardo de Filippo, despede-se hoje de Coimbra.

“Fantasmas?” é apresentada pela segunda e última vez no TCSB esta noite, às 21h30. Reservas e informações pelos contactos habituais: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt.

Faça-nos companhia!

TEATRO
Fantasmas?
de Eduardo de Filippo
co-produção Cendrev / Teatroensaio
7 e 8 de Março de 2019
quinta e sexta-feira, 21h30
M/12 > 1h45′ > 5 a 10 Euros

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt


Hoje no TCSB: “Fantasmas?”

Quinta-feira, Março 7th, 2019
(foto: Paulo Nuno Silva)

“Fantasmas?”, uma comédia de Eduardo de Filippo, é hoje apresentada no TCSB pelo Cendrev e pelo TEatroensaio.

Às quintas-feiras – já sabe – o teatro é mais barato no TCSB: bilhetes com o preço único de 5 Euros (50% de desconto sobre o preço normal). Faça as suas reservas pelos contactos habituais: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt.

TEATRO
Fantasmas?
de Eduardo de Filippo
co-produção Cendrev / Teatroensaio
7 e 8 de Março de 2019
quinta e sexta-feira, 21h30
M/12 > 1h45′ > 5 a 10 Euros

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt