Archive for the ‘criação’ Category

1 a 6 de Março | seis monólogos

Sexta-feira, Fevereiro 19th, 2010

“O monólogo foi olhado durante séculos com uma indisfarçada desconfiança.

O realismo e o naturalismo toleravam-no, dentro da forma teatral, como excepção: era estático, anti-teatral, inverosímil.

Nos clássicos gregos e em Shakespeare, no entanto, a presença do solilóquio é exemplar. Como pensar peças como Medeia, Rei Édipo, Hamlet, Lear, sem a reflexão solipsista dos seus protagonistas?

A escrita contemporânea, em especial a escrita da segunda metade do século XX, caracteriza-se pela “destruição da dramaturgia dialógica”. Não se trata de uma substituição nem de uma menorização da palavra, mas de um outro entendimento da escrita, menos auto-suficiente e mais consciente da sua parte na organização cénica. O discurso cénico reorganiza-se de forma rapsódica, valoriza-se a colagem, o fragmento, a pulsão poética. Beckett, Heiner Müller, Handke, Kroetz, Gregory Motton e um sem número de dramaturgos escreveram, escrevem para um acto criativo que quer estabelecer um novo protocolo com o espectador entregando-lhe uma parte maior do que a mera decifração de um enredo, entregando-lhe dúvidas, perplexidades, partes ocas, buracos negros para que complete a sua leitura de uma forma crítica, criativa.

O monólogo, o solo, para além de meras razões económicas (que também as há), autonomizou-se mesmo da obra, deixou de ser parte para passar a ser um género próprio, uma forma autónoma cada vez mais cultivada.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas outras vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades, à insatisfação, à mutilação do desejo, ao abandono dos velhos, dos marginais, das crianças, dos desempregados, dos esfomeados. Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”

António Augusto Barros

Fotografias: António Pinho Vargas © Isabel Pinto; “Vulcão” © Margarida Dias; “Historias Tricolores” © Afonso Castro; “Concerto à la Carte”  ©  Paulo Nogueira; “Mary Stuart” e “Calendário da Pedra” ©  T. Stoklos Kignel.

“Imagine if Quentin Tarantino was Brazilian”

Quarta-feira, Fevereiro 10th, 2010

Em 2003, Rubem Fonseca adaptou o romance “O Matador” de Patrícia Melo e escreveu o argumento de um filme que o seu filho  José Henriques Fonseca realizou.

“O Homem do Ano” é o nome da obra. Integada na selecção oficial do festival de Cinema de Berlim desse ano, este filme recebeu sete nomeações e ganhou sete prémios, entre eles o prémio de melhor longa metragem e melhor realizador para José Fonseca e o de melhor actor para Murílio Benício no Festival de Cinema de Miami.

A paixão de Rubem Fonseca pela Sétima Arte aconteceu desde muito cedo na vida do escritor: “Nasci em Juiz de Fora. Lá, aos dois meses de idade, eu tinha uma babá que me levava para passear de tarde. Mas, na verdade, ela ia ver o namorado, o lanterninha do cinema. Ela me sentava, ia namorar e eu via sessões atrás de sessões. Aos três anos, eu já tinha visto vinte mil horas de filme. Fui crescendo. E disse assim: “Quero fazer cinema!”. Eu deveria fazer cinema. Mas, quando eu tinha oito anos, me deram uma máquina de escrever. Fiquei com aquela máquina de escrever dentro de casa e querendo fazer cinema. Era difícil…”

O primeiro livro

Terça-feira, Fevereiro 2nd, 2010

Em 1963, José Rubem Fonseca, na altura com 38 anos,  lança o primeiro livro. “Os Prisioneiros” é o título da obra que reúne 11 contos e que marca o início da longa carreira deste autor brasileiro e dele disse, de imediato, Wilson Martins que era “um escritor que traz[ia] a literatura no sangue”.

Outro crítico, João Alexandre Barbosa, observa no estilo deste novo autor, duas maneiras distintas de narrar dizendo que “se num conto como ‘Fevereiro ou Março’, nos encontramos subitamente imersos em um universo criado por uma torrente de sensações, emoções e cálculos pegajosamente entranhados na consciência da personagem, no outro, como ‘Duzentos e vinte e cinco gramas”‘, por exemplo, a arte do contista parece violentar os limites da narração, criando pequenos quadros de descrição objetiva, jogando, por assim, dizer a palavra contra o reino da precisão e da síntese.”

A descrição da cidade, uma das marcas da obra de Rubem Fonseca, é amplamente elogiada desde logo nas histórias de ”Os Prisioneiros”. “Poucos ficcionistas são capazes de descrever a vida das grandes cidades como verdadeiramente uma selva trágica, em que o quotidiano aparece como um conjunto de ciladas fatais e irreversíveis.” (in O carácter social da literatura brasileira, de Fábio Lucas)

Veja aqui uma cópia de uma crítica de 1963 ao livro do autor cujos contos são a matéria da segunda co-produção d’A Escola da Noite com a Companhia de Teatro de Braga.

A Sociedade

Quarta-feira, Janeiro 13th, 2010

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A Casa do Povo de Abrunheira e Curral da Mula-Grupo de Teatro de Abrunheira estreiam ” A Sociedade”, no próximo dia 16 de Janeiro, pelas 21h30, na sala da Casa do Povo de Abrunheira, com texto e encenação de Ricardo Kalash.

Colaborador habitual d’A Escola da Noite, Ricardo Kalash  trabalhou com a companhia  em produções como “Susn” [1993], “Além as Estrelas são a Nossa Casa” [2000], “Na Estrada Real” [2007], “Bonecos & Farelos” [2008], “TNT Tumulto no Teatro” [2008], bem como nas três produções d’A Escola da Noite de 2009, “Atravessando as palavras…”, “Este Oeste Éden” e “Sabina Freire”.

Em “A Sociedade”, o actor, neste caso autor e encenador, colabora com o Curral da Mula, recordamos que este grupo de teatro da Abrunheira já colaborou também com a companhia no âmbito de vários projectos de formação para grupos de teatro amador, nomeadamente em “Tchékhov em um Acto”.

Após a actuação é lançado o livro com o texto do espectáculo, editado pela Mar da Palavra.

No domingo, 17 de Janeiro, no mesmo local, pelas 16h30, a peça volta a subir à cena.

Informações e reservas através do número: 932218779

Sarabela Teatro (Galiza) no TCSB

Quinta-feira, Dezembro 3rd, 2009

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A Cena Lusófona, em colaboração com a AGADIC (Axencia Galega das Industrias Culturais), apresenta em Coimbra o grupo galego Sarabela Teatro com a sua mais recente produção: “A Esmorga”, no Teatro da Cerca de São Bernardo, no próximo dia 5 de Dezembro, sábado, pelas 21h30.
A peça encenada por Anxeles Cuña Boveda é uma adaptação teatral de Begoña Muñoz e Carlos Couceiro do romance homónimo do prestigiado escritor galego, Eduardo Blanco Amor, censurado em Espanha aquando da Guerra Civil. Esta criação assinala os 50 anos da publicação da novela e os 30 anos da morte deste autor e romancista, nascido em Ourense. O espectáculo “A Esmorga” traduz um dia de folia. Segundo a companhia galega, esta é a história de um homem sem sorte e um espectáculo que conta as peripécias de três indivíduos, Cibrán, Bocas e Milhomes. Um deles tenta fugir dessa vida de loucura mas é arrastado pelos outros e posteriormente julgado por isso. A luz, o cenário, as imagens e a música ao vivo compõem esta produção intensa de cor e movimentação de um ritmo impressionante.
Esta apresentação decorre no âmbito da programação oficial do Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio, organizado pela Cena Lusófona, a decorrer em Coimbra até 6 de Dezembro, e que conta com a colaboração d’A Escola da Noite e do Teatro da Cerca de São Bernardo.
As entradas para o espectáculo variam entre 6 e 10 Euros.