Archive for the ‘plataforma das companhias’ Category

Diário do festival: domingo

Domingo, Junho 14th, 2009

 

 

O festival terminou onde começou: em Campo Benfeito, numa grande festa de encerramento, com todos os participantes, logo após a apresentação do último espectáculo – o “Auto da Índia” da ACTA.

Durante a manhã, os responsáveis pelas companhias tiveram a habitual reunião de balanço, onde debateram as principais conclusões deste III Festival e decidiram o local e o grupo organizador do próximo. Será em Coimbra e A Escola da Noite terá o maior prazer em retribuir, já em 2010, a magnífica hospitalidade já manifestada pela ACTA (2005), pela Companhia de Teatro de Braga (2008) e, agora, pelo Teatro de Montemuro.

Esperamos por todos vós na nossa casa!

 

conclusões: “Recomendações aos decisores políticos”

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diário do Festival (, , e Sáb.)

notícia: António Pedro Pita: “o processo de descentralização está longe ser satisfatório”

Diário do festival (sábado)

Domingo, Junho 14th, 2009

 

 

O Festival aproxima-se rapidamente do fim. No penúltimo dia, a noite foi preenchida com a apresentação de dois espectáculos em simultâneo: “Hotel de Província”, do Teatro das Beiras, em Lamego, e “Concerto à la carte”, da Companhia de Teatro de Braga, em Castro Daire. Duas propostas muito diferentes, a comprovar a diversidade estética que preservamos no interior da Plataforma e que apenas reforça a coesão do grupo.

O dia ficaria no entanto ensombrado pelo falecimento de uma familiar próxima do Vereador da Cultura de Castro Daire, a quem gostaríamos de expressar a nossa solidariedade. O facto causou grande consternação entre a população do concelho e acabou por condicionar a realização do debate com associações culturais locais, agendado para a tarde. Ainda assim, tivemos oportunidade de conhecer e de falar informalmente com Luis Martinez, um dos responsáveis pelo Club Recreativo e Musical Rerizense. Fundado em 1876, a colectividade manteve-se sempre em actividade ao longo destes 133 anos, tendo actualmente a funcionar três grupos de teatro, uma escola de música e uma filarmónica – feito verdadeiramente notável, tanto mais que o responsável nos assegura que ela envolve várias dezenas de jovens de toda a freguesia e mesmo de localidades limítrofes.

Para o último dia, domingo, agendámos a habitual reunião de balanço entre os responsáveis da companhias, da qual sairá um documento com as principais conclusões dos trabalhos e a designação oficial da próxima companhia a organizar o Festival, já em 2010. À tarde, Gil Vicente regressa aos palcos de Montemuro, pela mão da ACTA – “Auto da Índia”, em Campo Benfeito, pelas 16h00.

Logo depois, uma grande festa de encerramento atenuará a dificuldade das despedidas, aguçando o apetite para os próximos encontros entre estas seis estruturas.

Venha festejar connosco!

Diário do Festival: sexta-feira

Sábado, Junho 13th, 2009

 

 

Ao terceiro dia do Festival, as companhias quiseram chamar os representantes institucionais para debater os principais problemas com que se confrontam do dia-a-dia e, particularmente, os efeitos da aplicação das novas regras do financiamento público da criação artística. O debate realizou-se à hora marcada, em Campo Benfeito, e permitiu uma viva discussão com o único convidado que compareceu – o Director Regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita. A DGArtes e as autarquias de Castro Daire e Lamego cancelaram a sua participação à última hora, o que reduziu o alcance pretendido para a discussão. Foram ainda assim elencados muitos dos problemas que vimos denunciando – a sub-orçamentação da cultura em Portugal, o regime de sobrevivência em que as companhias são obrigadas a trabalhar (e que se vem agravando de ano para ano), a falta de diálogo entre criadores e governantes -, mas também muitos dos contributos que as companhias entendem ter vindo a dar para o teatro em Portugal: na construção e na dinamização de espaços por todo o país, na manutenção de uma oferta regular de espectáculos por todo o território (construindo e fixando hábitos culturais entre a população) e, até, na construção de pontes entre a Administração Central e as autarquias locais, em matérias onde estes dois níveis de governação deveriam interagir muito mais.

Saímos de Campo Benfeito com uma inevitável sensação de “dejá vu” em relação a debates anteriores, é certo, mas com a convicção reforçada de que, enquanto estas discussões não forem levadas até ao fim, é necessário criar momentos de clarificação e de fixação de argumentos. Nesse sentido, o debate de ontem foi importantíssimo e revelou a grande sintonia existente entre as companhias da Plataforma e, inclusivamente, com o Trigo Limpo/ Teatro Acert, de Tondela, que aceitou o nosso convite para se juntar à discussão.

Num outro plano, é importante reter a intervenção de Sónia Botelho, jovem actriz do Teatro das Beiras, que destacou o contributo deste encontro para reforçar a ligação não só entre as companhias mas entre todos os seus membros individuais, que normalmente não podem participar nas reuniões preparatórias. O seu desafio foi aceite e imediatamente posto em prática: o modelo e o programa do próximo Festival, que terá lugar em Coimbra, está já a ser discutido informalmente por todos nós, nos corredores do hotel, à mesa das refeições e nos vários momentos de confraternização que este encontro nos proporciona.

À noite, em Castro Daire, a programação artística do Festival prosseguiu com a apresentação de “Memórias de Branca Dias”, do Cendrev, no Auditório Municipal de Cultura. Como tantos outros no país, que estas companhias conhecem bem, trata-se de um espaço com graves limitações técnicas, que condicionam de forma séria o tipo de espectáculos que ali podem ser apresentados. Assinala-se no entanto o esforço feito pela Câmara Municipal e pelo Teatro de Montemuro, que conseguiram minimizá-las para este Festival, colocando no palco uma estrutura provisória para a iluminação cénica. Não temos ainda números oficiais, mas foram seguramente mais de 100 pessoas a aplaudir o exigente trabalho de actriz de Rosário Gonzaga, sozinha em palco a interpretar o texto de Miguel Real, encenado por Filomena Oliveira.

No início da madrugada, o grupo ficou finalmente completo: chegou a ACTA, do Algarve, cujos compromissos não lhe permitiram participar no Festival desde o início. Estamos agora todos e assim continuaremos até Domingo. Teremos ainda mais três espectáculos, um debate e a grande festa de encerramento.

Junte-se também a nós!

António Pedro Pita: “o processo de descentralização está longe ser satisfatório”

Sábado, Junho 13th, 2009

 

 

O Director Regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita, reconheceu ontem que o processo de descentralização cultural em Portugal, iniciado após o 25 de Abril, tem avançado “aos bochechos” e está ainda “longe de ser considerado satisfatório”. Falando na abertura do debate “O teatro na descentralização”, organizado pela Plataforma das Companhias no âmbito do III Festival das Companhias, em Campo Benfeito, o representante do Ministério da Cultura (MC) acredita, no entanto, que têm sido dado passos positivos, exemplificando com os apoios recentemente atribuídos pela Direcção-Geral das Artes a estruturas sediadas em Penela, no Fundão ou em Trancoso.

O debate seguiu o modelo de uma grande mesa-redonda, com cerca de 40 pessoas, na sua maioria elementos das companhias de teatro profissional que integram a Plataforma e participam no Festival – ACTA, A Escola da Noite, Cendrev, Companhia de Teatro de Braga (CTB), Teatro das Beiras e Teatro de Montemuro.

Respondendo à intervenção de António Pedro Pita, Rui Madeira, director da CTB, defendeu o conceito de “criação artística local”, por oposição a um modelo de descentralização cultural que vem dos anos 70 e que está ultrapassado. Neste sentido, lamentou que o Ministério da Cultura continue sem compreender e sem procurar definir com clareza o conceito de “companhia”, fundamental para a existência de “uma estratégia de dinamização sustentada dos espaços criados pelo próprio MC”. O Ministério aplica uma lógica de apoios pontuais a toda a sua política, criticou Rui Madeira.

José Russo, director do Centro Dramático de Évora, expressou a sua indignação pelo facto de não estarem representantes da DGArtes (por motivo de doença da pessoa designada pelo seu responsável) nem das autarquias – as Câmaras Municipais das cidades onde estão sediadas as companhias não se fizeram representar e as autarquias de Lamego e Castro Daire (anfitriãs do Festival), que tinham confirmado a sua presença, acabaram igualmente por não comparecer. Nestas discussões sobre política cultural, que vimos tendo há anos, “é preciso haver comprometimento por parte das entidades responsáveis”, afirmou José Russo, lamentando a falta de interlocutores com os quais as companhias e os agentes culturais de uma forma geral possam debater.

António Augusto Barros classificou a ausência da DGArtes como “imperdoável”, tendo em conta que o seu director se havia comprometido, no processo de alteração das normas de financiamento público da criação artística, a discutir com estas e com outras companhias os problemas da descentralização, ultrapassada a fase “dos concursos”. Um processo, aliás, que considera “inadmissível em democracia”, por ter conduzido ao abandono de um legislação que havia sido aprovada após um amplo debate com os agentes culturais e à sua substituição por um conjunto de novas regras, sem que tenham sido levados em conta os contributos das estruturas de criação. O Ministério da Cultura não trata os agentes como verdadeiros parceiros, que trabalham para um objectivo comum, acrescentou o dramaturgo Abel Neves, também presente no debate.

Rui Madeira chamou ainda a atenção para a necessidade de reforçar, num contexto em que ainda não há regionalização, o papel das estruturas de governação intermédias – direcções regionais da cultura e da educação, comissões de coordenação e desenvolvimento – para uma eficaz descentralização cultural no país. As estruturas de criação deveriam conseguir encontrar interlocutores privilegiados nestes organismos, mais perto do terreno e que por isso podem conhecer melhor as potencialidades dos agentes locais e articulá-los com políticas nacionais e, nomeadamente, na aplicação dos fundos comunitários.

O Trigo Limpo / Teatro ACERT, de Tondela, participou igualmente no debate, aceitando o convite que a organização fez a diversas outras companhias de teatro do país. Pompeu José afirmou que os apoios directos à arte “perderam sentido nestes últimos concursos” e defendeu que se voltasse a colocar “em cima da mesa” as regras que foram discutidas com os agentes e depois abandonadas antes mesmo de entrarem em vigor. É preciso “clareza” na relação entre o Estado e as companhias, afirmou. Miguel Torres, também da ACERT, resumiu: “O Estado não nos considera pessoas de bem” e desconfia sistematicamente dos nossos propósitos, o que afecta muito a eficácia de um trabalho que devia ser de colaboração.

Numa resposta indirecta a muitas das críticas feitas à política seguida pelo MC, o Director Regional da Cultura do Centro preferiu destacar as actividades desenvolvidas à escala regional, dentro das competências e dos constrangimentos orgânicos com que ele próprio se confronta. Uma política de pequenos passos, admitiu, mas que procura “dar exemplos” de como é possível fazer as coisas.

Unânime entre os representantes das companhias foi a crítica à diminuição da intervenção do Estado, uma tendência que se vem agravando nos últimos anos e que Rui Madeira classificou como “um retrocesso da democracia em Portugal”.

Diário do Festival: quinta-feira

Sexta-feira, Junho 12th, 2009

 

 

O segundo dia do Festival foi um dia longo para A Escola da Noite. Começou cedo, no Teatro Ribeiro Conceição (TRC), com a montagem de “Bonecos & Farelos”. O Teatro é belíssimo. Finalmente bem recuperado, concilia a arquitectura tradicional dos teatros “à italiana” com a funcionalidade das novas tecnologias de cena. Estávamos um pouco preocupados com a adaptação. Estreado na Oficina Municipal do Teatro e reposto apenas no Teatro da Cerca de São Bernardo, ambos em Coimbra e com bancadas em anfiteatro, nunca tinha sido apresentado em teatros convencionais. Receávamos sobretudo a distância em relação à plateia, que poderia afectar a fruição dos pequenos bonecos concebidos pelo António Jorge. Num teatro como estes, nunca é bem a mesma coisa. Mas ele é suficientemente acolhedor para permitir a melhor fruição do espectáculo. Ficámos com essa impressão à tarde e confirmámo-lo à noite, com a recepção e os comentários dos espectadores.

Ontem era dia de feira semanal e de procissão do Corpo de Deus, que terminou na Sé, mesmo em frente ao Teatro. A cidade estava cheia de gente e de sol, num verdadeiro ambiente de festa que inevitavelmente nos contaminou. Dificilmente podíamos ter conseguido melhor!

O trabalho de preparação do espectáculo da noite impediu-nos, contudo, de acompanhar o workshop do Abel Neves, realizado na sala de ensaios do TRC. Contou com cerca de 20 pessoas, entre elementos das companhias e público em geral, e tratou-se de uma conversa informal sobre o trabalho deste autor, que a companhia conhece bem. É curioso, aliás, que três das seis companhias que integram a Plataforma (para além da EN, também o Teatro de Montemuro e o Cendrev) apresentaram já textos do Abel. E é muito simpático tê-lo a acompanhar o Festival durante estes dias.

Regressados ao Hotel, à noite, continuámos o clima de confraternização e de troca de experiências que tem marcado este encontro. À volta da mesa de snooker e na varanda com vista para a Serra de Montemuro, fizemos o que tantas vezes falta no Teatro em Portugal – uma conversa informal, mas franca, sobre o nosso trabalho e as condições que temos para o fazer.

Para o terceiro dia (sexta-feira) estão agendadas duas iniciativas: o debate com representantes institucionais (DGArtes, Direcção Regional de Cultura do Centro e autarquias) e a apresentação do espectáculo do Cendrev “Memórias de Branca Dias”, no Auditório Municipal de Cultura, em Castro Daire.

Faça-nos companhia!