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Manoel de Barros (1916-2014)

Quinta-feira, Novembro 13th, 2014

Dizem-nos que morreu Manoel de Barros,  o poeta a quem roubámos o título para A Matéria de Poesia.

Como assim, se as suas palavras continuam a ecoar dentro de nós?

Manoel de Barros (foto: Renata Caldas)

Manoel de Barros (foto: Renata Caldas)

PALAVRAS

Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com a sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.

Manoel de Barros, Ensaios Fotográficos, São Paulo, Editorial Record, 2000.

Línguas

Sexta-feira, Março 21st, 2014

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Contenho vocação pra não saber línguas cultas.
Sou capaz de entender as abelhas do que alemão.
Eu domino os instintos primitivos.

A única língua que estudei com força foi a portuguesa.
Estudei-a com força para poder errá-la ao dente.

A língua dos índios Guatós é múrmura: é como se ao
dentro de suas palavras corresse um rio entre pedras.

A língua dos Guaranis é gárrula: para eles é muito
mais importante o rumor das palavras do que o sentido
que elas tenham.
Usam trinados até na dor.

Na língua dos Guanás há sempre uma sombra do
charco em que vivem.
Mas é língua matinal.
Há nos seus termos réstias de um sol infantil.

Manoel de Barros

A Escola da Noite deseja-vos um óptimo Dia Mundial da Poesia!

(desenho de Ana Rosa Assunção para cartaz de espectáculo antigo)

Hoje em Lousada: “Matéria de Poesia”

Terça-feira, Maio 5th, 2009
Maria João Robalo e Sofia Lobo em "Matéria de Poesia" (foto de Augusto Baptista)

Maria João Robalo e Sofia Lobo em "Matéria de Poesia" (foto de Augusto Baptista)

 

A Escola da Noite apresenta hoje à noite (21h30), no Auditório Municipal de Lousada, o espectáculo recital “Matéria de Poesia”. A sessão decorre no âmbito de mais uma edição do FOLIA – Festival de Artes do Espectáculo, uma organização da Jangada Teatro, companhia com a qual estabelecemos este ano um intercâmbio.
Afastando-se do formato convencional dos recitais de poesia, o espectáculo propõe a leitura cénica de vinte poemas seleccionados de cinco autores brasileiros e portugueses: Adélia Prado, Manoel de Barros, Carlos de Oliveira, Alexandre O’Neill e Sophia de Mello Breyner Andresen. Em todos eles encontramos propostas de reflexão sobre as “pequenas coisas” a partir das quais se pode, afinal, fazer poesia, bem como sobre a importância de aproveitarmos da melhor maneira os “deslimites das palavras”.
“Matéria de Poesia” estreou em Outubro de 2006 e foi já apresentado mais de 50 vezes, tanto em salas de espectáculo como em várias bibliotecas municipais, tirando partido da sua capacidade de se adaptar a diferentes espaços. Vila Nova de Paiva (onde estreou, no âmbito do Encontro Nacional de Serviço Educativo de Bibliotecas Públicas), Aveiro, Faro, Leiria, Braga, Angra do Heroísmo, Loulé, Tavira, Albufeira. Monção e Torres Novas são apenas algumas das localidades nacionais onde foi já possível assistir a este espectáculo.

Matéria de Poesia em Lousada

Sexta-feira, Maio 1st, 2009

 

Sílvia Brito em "Matéria de Poesia"

Sílvia Brito em "Matéria de Poesia" (foto de Augusto Baptista)

A Escola da Noite apresenta na próxima terça-feira, dia 5 de Maio, o espectáculo-recital “Matéria de Poesia” no Auditório Municipal de Lousada, no âmbito do Festival Folia, organizado pelo Jangada Teatro.

O espectáculo inclui a representação em palco de duas dezenas de poemas seleccionados entre a obra de cinco autores brasileiros e portugueses: Adélia Prado, Manoel de Barros, Carlos de Oliveira, Alexandre O’Neill e Sophia de Mello Breyner Andresen e tem circulado pelo país desde há quase três anos, quer em sessões para o público em geral, quer para o público escolar.

A digressão a Lousada representa o regresso da companhia a uma localidade que conhece bem (esta é já a sua terceira participação no “Folia”) e insere-se num intercâmbio estabelecido com o Jangada Teatro.

“Matéria de Poesia” na Penitenciária

Quinta-feira, Abril 23rd, 2009

 

Maria João Robalo em "Matéria de Poesia" (foto de Augusto Baptista)

Maria João Robalo em "Matéria de Poesia" (foto de Augusto Baptista)

A Escola da Noite apresenta amanhã, dia 24 de Abril, pelas 14h30, uma sessão especial de “Matéria de Poesia” no Estabelecimento Prisional de Coimbra, no âmbito das comemorações dos 120 anos desta instituição.

O convite foi feito pelo Grupo de Teatro do EPC, na sequência das colaborações que a companhia lhe vem prestando, ao nível da consultadoria técnica e artística e do empréstimo de figurinos e adereços. Esta é já a segunda vez que A Escola da Noite apresenta um espectáculo seu na Penitenciária de Coimbra, quatro anos depois de “2 perdidos numa noite suja“, de Plínio Marcos.

“Matéria de Poesia” é um espectáculo-recital em que as linguagens do teatro e da poesia se cruzam em palco, a partir de uma selecção de vinte poemas de escritores brasileiros (Adélia Prado e Manoel de Barros) e portugueses (Carlos de Oliveira, Alexandre O’Neill e Sophia de Mello Breyner Andresen). É encenado por António Augusto Barros e conta com as interpretações de António Jorge, Maria João Robalo, Sílvia Brito e Sofia Lobo.

Estreado em 2006, o espectáculo mantém-se desde então em reportório, tendo sido apresentado em várias localidades nacionais e em Luanda, em Maio de 2008. No passado mês de Fevereiro voltou a ser apresentado em Coimbra, em quatro sessões para escolas e numa sessão para o público em geral, no âmbito da programação associada à exposição “Arquitecturas em Palco“, de João Mendes Ribeiro.