Rosita – Eu já me acostumei a viver muitos anos fora de mim, pensando em coisas que estavam longe. Agora que essas coisas já não existem, continuo dando voltas e mais voltas por um lugar frio, buscando uma saída que não hei de encontrar nunca. Eu sabia de tudo. Sabia que ele tinha se casado; uma alma caridosa que se encarregou de me contar, e eu recebia as cartas dele com uma ilusão cheia de soluços, que até a mim mesma espantava. Se os outros não tivessem falado; se vocês não tivessem sabido; se ninguém mais além de mim soubesse, as cartas e as mentiras dele teriam alimentado minha ilusão como no primeiro ano de sua ausência. Mas toda gente sabia, e era como se eu vivesse apontada por um dedo que tornava ridículo o meu recato de noiva e dava um ar grotesco a meu leque de solteira… Cada ano que passava, era como uma peça de roupa íntima que me arrancassem do corpo. Uma amiga se casa, depois outra e mais outra, amanhã uma delas tem um filho, o filho cresce e vem me mostrar suas notas de exame, e fazem notas novas e novas canções, e eu na mesma, com o mesmo tremor, o mesmo; eu na mesma que antes, colhendo os mesmos cravos, olhando para as mesmas nuvens.
À tradução que fez de “D. Rosita, a Solteira”, do grande García Lorca, o escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade resolveu dar o título de “A linguagem das Flores”.
Venha descobrir porque é que a Companhia de Teatro de Sintra lhe seguiu os passos:
TEATRO
A Linguagem das Flores
a partir da peça “D. Rosita, a solteira“
de Federico García Lorca
CHÃO DE OLIVA – COMPANHIA DE TEATRO DE SINTRA
31 de Maio
sábado, 21h30
M/12 > 5 a 10 Euros
informações e reservas: 239 718 238 / geral@aescoladanoite.pt