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A Escola da Noite regressa ao Brasil e a Abel Neves

Quinta-feira, Agosto 30th, 2012

A Escola da Noite realiza em Setembro a sua terceira digressão ao Brasil. Entre 7 e 21 de Setembro, participa na sétima edição do Circuito de Teatro em Português de São Paulo (**), com o seu mais recente espectáculo – “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos.
Ao mesmo tempo, prepara a estreia de uma nova produção, prevista para o final de Outubro.

"O Abajur Lilás", de Plínio Marcos (foto: Paulo Nuno Silva)

As três sessões já confirmadas da digressão brasileira têm lugar nos dias 8*, 10* e 13 de Setembro, no Teatro APCD (em São Paulo) e nos Teatros Municipais de Mauá e de São Carlos, cidades do mesmo Estado.
Dois anos depois de ter participado pela primeira vez no Circuito de Teatro em Português, A Escola da Noite regressa com “O Abajur Lilás”, estreado em Abril, em co-produção com o Centro Dramático de Évora (Cendrev). O facto de se tratar de um autor e de um texto tão importantes na história recente da dramaturgia brasileira coloca uma responsabilidade acrescida às duas companhias portuguesas. Mas é simultaneamente um desafio muito interessante e os grupos encaram com grande expectativa a reacção do público brasileiro e da comunidade teatral paulista à sua proposta.
Para além das três apresentações do espectáculo, o programa da digressão inclui a realização em São Carlos de uma oficina para actores, no dia 12 de Setembro, dirigida pelo encenador do espectáculo, António Augusto Barros.
O Circuito, que se realiza anualmente desde 2006, é uma organização da companhia de teatro Dragão7, integralmente dedicada ao teatro de língua portuguesa. Para além d’A Escola da Noite, do Cendrev e do grupo anfitrião, participam na edição de 2012 a Companhia de Teatro de Braga, o Teatro Art’Imagem, o Teatro Constantino Nery, o Peripécia Teatro e a Companhia Chão de Oliva (Portugal), o Grupo Lareira (Moçambique), o Elinga Teatro (Angola), o Grupo Bibi Bulak (Timor-Leste) e o grupo Contadores de Mentira (Brasil).
A apresentação de “O Abajur Lilás” conta com o apoio da Direcção-Geral das Artes, no âmbito dos apoios à internacionalização, abertos pela primeira vez em Maio deste ano.

“Nunca estive em Bagdad”
Entretanto, A Escola da Noite iniciou a preparação do seu próximo espectáculo, com estreia prevista para o final de Outubro. A proposta é “Nunca estive em Bagdad”, de Abel Neves, um autor que o público da companhia conhece bem. Doze anos depois de “Além as estrelas são a nossa casa” (2000) e na sequência de “Além do infinito” (2004) e de “Este Oeste Éden” (2009), a companhia volta à obra de um dos mais importantes dramaturgos portugueses contemporâneos. O espectáculo é encenado por Sofia Lobo e conta com as interpretações de Maria João Robalo e Miguel Magalhães.
“Nunca estive em Bagdad” está traduzida em alemão, árabe, castelhano, francês, húngaro, inglês, polaco e romeno e já foi editada na Alemanha, em França, na Roménia e no Egipto. Foi levada ao palco em Portugal apenas uma vez (em Beja, pelo grupo Lêndias d’Encantar), e ainda em Espanha, na Bélgica e no Luxemburgo.
Apesar disso, a única edição do texto em português deve-se à Revista Galega de Teatro. O número com esta peça foi lançado no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Março de 2011, numa sessão que contou com a presença do autor e incluiu a leitura de excertos do texto por actores da companhia.

“O Abajur Lilás”
de Plínio Marcos

no VII Circuito de Teatro em Português de São Paulo

encenação António Augusto Barros
interpretação Ana Meira, José Russo, Maria João Robalo, Miguel Lança e Rosário Gonzaga cenografia João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção
desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas
produção A Escola da Noite / Centro Dramático de Évora (CENDREV)

São Paulo
8 de Setembro, sábado, 21h00 (*)
Teatro da APCD
informações e contactos:
Teatro da APDC, Rua Voluntários da Pátria, 547 – Santana – São Paulo/SP CEP 02011-000
Tel: + 55 11 2223-2474
cultural.social@apcdcentral.com.br

Mauá
10 de Setembro, segunda-feira, 21h00 (*)
Teatro Municipal
informações e contactos:
Teatro Municipal de Mauá, Rua Gabriel Marques, 353 – Centro – Mauá/SP CEP 09370-575
Telefone/fax: + 55 11 4555-4142
programacao.teatromunicipal@maua.sp.gov.br

São Carlos
13 de Setembro, quarta-feira, 20h00
Teatro Municipal Dr. Alderico Vieira Perdigão
informações e contactos:
Teatro Municipal de São Carlos Dr. Alderico Vieira Perdigão, Rua Sete de Setembro, 1735 – São Carlos/SP
Telefone: + 55 16 3371-4339
teatro@saocarlos.sp.gov.br

Oficina para actores e estudantes de teatro
São Carlos, Teatro Municipal, 12 de Setembro, 14h00 – 18h00

Todos os espectáculos com entrada gratuita

outras informações:
VII Circuito de Teatro em Português
Grupo Dragão7 – da Cooperativa de Trabalho de Artistas, Técnicos e Produtores em Artes Cênicas e Áudio Visuais do Estado de São Paulo – COOPERARTES
Av. Nazaré, 2121 – Alto do Ipiranga – São Paulo – SP – 04263-200
Telef. + 55 11 3129-9513 / 5061-6333 / 7892-3176
dragao7@uol.com.br

(*) Actualização de 8/09/12: espectáculos adiados – ver comunicado.

(**) Actualização de 17/09/12: sessões não apresentadas – ver comunicado.

diário do festival (5)

Segunda-feira, Junho 11th, 2012

As palavras às vezes são feias e preferimos não as usar, encontrando outras maneiras (quase sempre menos certeiras) de dizer o que pensamos.

O Abel fartou-se. Para ter a certeza de que os destinatários o entendiam, resolveu usar um português completo (o único à altura da situação em que nos encontramos) na abertura do debate “O Teatro em tempo de crise”, no último dia do Festival das Companhias.

Neste mesmo debate, soaram os ecos da suposta reacção do Secretário de Estado da Cultura às declarações de Luis Miguel Cintra na entrevista à Antena Um. A meio de uma paciente explicação sobre a utilidade pública da arte, e denunciando o silêncio do Governo quanto ao financiamento da criação artística para os próximos anos, o director da Cornucópia disse que, sem o apoio do Estado, os criadores teriam de se prostituir para poder continuar a fazer o seu trabalho. Tenha sido pela fealdade da palavra ou pelo respeito que o encenador não pode deixar de impor ao actual titular da pasta da Cultura, Francisco José Viegas sentiu-se obrigado a dizer qualquer coisa. Veio dizer que “os concursos” vão abrir em Setembro. E que, portanto, não há razões para alarme nem para pessimismos.

Perante uma sala com cerca de 50 profissionais do teatro prestes a ficar sem trabalho, a Directora Regional da Cultura do Alentejo transmitiu, com um sorriso simpático, a “boa nova”.

Sem o talento do Abel Neves nem a acutilância do Luis Miguel Cintra, falta-me a palavra feia apropriada para qualificar a atitude destes governantes que já nem se dão conta do ridículo e acham que é uma benesse garantir ao povo que vão cumprir a lei. É que nós, pelos vistos mais confiantes na sua idoneidade do que eles próprios, não colocávamos isso em causa. O que precisamos urgentemente de saber é em que condições abrem tais concursos, com que orçamentos, com que prazos. Não é uma questão de estados de alma – é uma questão de sobrevivência. Disso depende sabermos se as nossas companhias continuam a existir depois de Dezembro de 2012, se os nossos trabalhadores têm emprego daqui a seis meses e, já agora, se alguns dos teatros que estes grupos mantêm abertos continuarão a funcionar no próximo ano.

Sabemos que nada disto interessa para meia dúzia de ideólogos do regime, daqueles que – sem os pudores que nos têm condicionado em relação à linguagem – nos chamam subsidiodependentes, mentecaptos, mendigos “de chapéu na mão” e chantangistas, “tropa fandanga” e nos acusam de “mamar” no Estado. Mas o que verdadeiramente nos indigna é que responsáveis políticos – por mais cordatos, simpáticos e bem-educados que sejam na forma como se nos dirigem – nos tratem como estúpidos enquanto vão acabando com o teatro em Portugal.

Pedro Rodrigues

Évora, 9 de Junho de 2012

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Agiotas e bastardinhos

Domingo, Junho 10th, 2012

Abel Neves

Isso queriam eles! Os agiotas e os bastardinhos até podem ser personagens no teatro, mas nunca serão património da humanidade como Édipo, Hamlet, D. Quixote, Woyzeck ou as almas d’ A gaivota.

Isto vai escuro. Alguém terá, uma vez mais, de iluminar e restaurar as paisagens – a humana e as outras, que outros andam a desgraçar – e refazer a  caminhada. E para isso também cá estamos nós, os das artes do espectáculo, os teatreiros, apesar de tudo convencidos de que numa ou noutra hora mais expedita seremos capazes de esclarecer os imbróglios e dar alento à possibilidade de um qualquer milagre – que sabemos poder acontecer no teatro – que dê ânimo à ideia de uma comunidade mais disponível para os diálogos em volta das éticas e das belezas que há por aí, mas que alguns teimam em querer obscurecer.

Os agiotas têm poder. Gostam de esconder-se nas suas cavernas de troglodita vendo por controle remoto a evolução das suas usuras e até que as suas cabeças rolem, terão poder. Eles e os bastardinhos. É lindo de se ver: os agiotas atiram as bolinhas e os bastardinhos correm a buscá-las.

Os bastardinhos são uma espécie de quadrúmanos que praticam a sabujice nuns degraus abaixo do patamar onde os agiotas acumulam os seus metais brilhantes. São os organizadores da desdita mais recente que nos coube em sorte e sempre cumprindo zelosamente as ordens dos crápulas do luxo. Agiotas e bastardinhos convivem neste mundo como nós, e do teatro querem saber muito pouco, ou melhor, querem lá saber do teatro! Ou melhor ainda: o teatro que s’ afunde! O teatro e o resto. Que falta fazem os outros, os artistas e a cultura? Houve tempo em que se pensava, e defendia, que as acções humanas concorriam para a cultura, mesmo em plena guerra. Era simultaneamente um meio e um fim. Hoje, na teia de neurónios ressequidos dos agiotas ainda existirá uma ideia de cultura, mas dominada por um aparato arbóreo: a árvore das patacas. Os camaradas usurários, também quadrúmanos, têm evoluído atrás do cheiro do dinheiro, é com ele que estrumam a vida e certamente esperam que um dia, na falta das couves e batatas, possam trincar e mastigar notas e moedinhas. Bom alimento será.

Socorro-me, ainda e sempre, de um fragmento de Heraclito, o antigo filósofo pré-socrático: “o burro prefere a palha ao ouro”.

Dantes, as crises eram crises, pronto, e mostravam-se no teatro como lugar de eterno retorno. As obras teatrais anunciavam a consumação de honras e vergonhas, esclarecendo e aliviando a humanidade sedenta de deuses e heróis. A novidade da crise actual é que se trata de terrorismo financeiro. Tem um perfume acentuado a extermínio, procurando disciplinar e domesticar a vida das pessoas e, se possível, exterminar os indesejáveis.  Ora, nós, no teatro, até gostamos de afirmar a austeridade, mas auto-imposta, igualzinha à autoridade, e que a poesia afirma como liberdade. Assim, podemos compreender porque gostam os agiotas-dos-neurónios-mirrados de ver o teatro como um retiro para entreter a banalidade ou uma ruína exótica para estimular algum turismo.

Como é que nós no teatro podemos lidar com essa gente que executa o terror financeiro? É simples: já que não temos, não teremos nem queremos o poder que eles têm é -com todas as letras- mandá-los à merda. Nenhuma palavrinha deselegante é mais incómoda do que a desgraça que fazem viver a tanta gente. É mandá-los à merda, sabendo que eles já nos mandaram a essa parte há muito tempo. Ficamos quites, mas nós com a graça iluminada das personagens que nos cumpre fazer viver nos teatros e eles pintalgados de esterco nas conferências executivas da finança. Como diria o Mestre Salas da família dos Bonecos de Santo Aleixo… uns filhos da púcara!

Para mal dos pecados de agiotas e de bastardinhos, o teatro irá continuar. Por muito que lhes custe, iremos manter aceso o lume teatral. Os gregos – sempre os gregos! – inventaram esta coisa duradoura de estarmos num lugar escolhido por todos, uns diante dos outros contando e recontando as narrativas da alma e por isso seguiremos adiante. Continuaremos a herança de Epidauro e certo é que outros, mais tarde, irão fazê-lo também. Os encontros no teatro têm mistério suficiente para essa fé que acrescenta humanidade ao humano, e que nem precisa de ser crença religiosa: basta-nos aceitar as imperfeições de que somos capazes e procurar que se ajustem a uma imperfeição maior e mais acima onde imaginamos que, pouco a pouco, se incendeiem e regressem à perfeição original. Aí estaremos no lugar-que-não-é-lugar, paradoxalmente, o lugar de todas as utopias: o teatro.

Acreditemos então que esta crise é apenas mais uma, das muitas que têm vindo a fazer a geografia humana, umas mais sombrias do que outras, todas fazendo parte da dificuldade que é compor a vida. Sabemos quem são os autores desta barbaridade contemporânea, embora queiram insinuar-se sem rosto, e isso já é muito. Poderemos sempre apontar-lhes o dedo e acusá-los de crimes contra a humanidade. No teatro serão, obviamente, condenados. Fora do teatro, não sabemos.

Escutem… não ouvem o eco festivo das antigas vozes de Epidauro?

V Festival das Companhias, Évora, Junho de 2012

Abel Neves

(intervenção de abertura no debate “O Teatro em tempo de crise”,

no V Festival das Companhias da Descentralização, 9/06/2012)

o regresso do Abajur em dia de Assembleia

Quinta-feira, Junho 7th, 2012

“O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos, é o espectáculo da noite no terceiro dia do Festival das Companhias. A co-produção entre o Cendrev e A Escola da Noite é apresentada às 21h30, na sala principal do Garcia de Resende.

De manhã, realiza-se pela primeira vez na história da iniciativa a Assembleia do Festival, um plenário com os mais de cinquenta elementos das companhias que estão em Évora por estes dias.

Ao final da tarde, o Teatro das Beiras volta a apresentar “Provavelmente uma Pessoa”, que ontem teve lotação esgotada na sala-estúdio.

Ana Meira e Miguel Lança, "O Abajur Lilás" (foto: Paulo Nuno Silva)

7 de Junho, quinta-feira

11h00

Assembleia do Festival

18h30

Teatro Garcia de Resende, sala-estúdio

Provavelmente uma pessoa

Teatro das Beiras

21h30

Teatro Garcia de Resende, Sala Principal

O Abajur Lilás

co-produção CENDREV / A Escola da Noite

Três prostitutas partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga.

Considerada como a mais incisiva das peças que analisaram a situação brasileira durante a ditadura militar, “O Abajur Lilás” foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração – “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”, chamou-lhe o crítico brasileiro Sábato Magaldi.

encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas

M/16 > 1h40 com intervalo

 

 

peça de Abel Neves no Festival das Companhias

Quarta-feira, Junho 6th, 2012

“Provavelmente uma pessoa”, de Abel Neves, é o espectáculo que o Teatro das Beiras traz à quinta edição do Festival das Companhias. Pode ser vista hoje à noite (21h30) ou amanhã à tarde (18h30), na sala-estúdio do Teatro Garcia de Resende.

Informações e reservas: 266 703 112 / geral@cendrev.com

"Provavelmente uma pessoa", Teatro das Beiras (foto: Paulo Nuno Silva)

6 de Junho, quarta-feira, 21h30

7 de Junho, quinta-feira, 18h30

Teatro Garcia de Resende, Sala-estúdio

Provavelmente uma pessoa

Teatro das Beiras

 

Arredores de Lisboa. Um quintal na margem sul. Dois casais, pequenos comerciantes. Gente vulgar! Numa noite de Primavera, o insólito. Aparece um corpo estatelado no chão do quintal. Quem será? Como é que veio aqui parar? De onde terá vindo? Pela cor da pele é um africano. Mas também pode ser um brasileiro ou… Provavelmente uma pessoa! Alguém vindo de longe para involuntariamente transtornar a quietude de uma noite de Primavera num quintal da margem sul. Alguém que podia ter ido cair noutro sítio! Podia muito bem ter caído ali ao lado, na esplanada do café! Mas logo ali ao rés da oliveira do “nosso” quintal!

 

texto Abel Neves encenação Gil Salgueiro Nave cenografia e figurinos Luís Mouro sonoplastia Helder F. Gonçalves interpretação Fernando Landeira, Pedro da Silva, Rui Raposo Costa, Sónia Botelho e Vânia Fernandes desenho de luz Jay Collin

M/12 > 1h10