Floresta de Enganos, de Gil Vicente

Escrita e representada pela primeira vez em Évora em 1536, “Floresta de Enganos” é a última obra de Gil Vicente. Considerada, a muitos títulos, como uma “peça-problema” dentro da obra vicentina, é uma peça de enigmas e mistérios, de subentendidos que deixaram de ter o seu contexto, em que se cruzam os planos de seres mitológicos e terrenais. 
Classificada como comédia na Compilação de 1562, esse é o tom em que a peça se desenvolve, com personagens que reciprocamente tentam enganar-se em histórias paralelas e um “gran finale”, com casamento e música. No prólogo, o Filósofo anuncia mesmo uma “fiesta de alegría”, que começa com um Mercador que “pensando d’enganar, / ha de quedar engañado” e nos há-de contar a história de Grata Célia, filha do Rei Telebano, vítima dos amores do próprio Cupido e dos sucessivos enganos que este engendra para conquistar o afecto da Princesa.
Ao contrário do resto da peça, e sobrevivendo como “texto autónomo”, este prólogo tem contudo acentos trágicos. O Filósofo, com um Parvo atado ao pé, preso e proibido de falar, não deixa de segredar ao público que está a pagar pelo que disse, pelo que criticou, pelos seus “consejos muy sanos”. Escrito no mesmo ano em que a Inquisição haveria de chegar a Portugal e ponto terminal da obra de Gil Vicente, o discurso deste Filósofo parece constituir um testemunho e um testamento das ideias políticas, sociais e religiosas do autor.

© Carolina Lecoq

Com encenação de José Russo, director artístico do Cendrev, “Floresta de Enganos” é a terceira co-produção entre as duas companhias, depois de “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos (2012) e de “Embarcação do Inferno”, também de Gil Vicente (2016). O texto é representado em Português, com a tradução dos versos castelhanos feita por José Bento em 1999, para o Teatro da Cornucópia e publicada pela Assírio & Alvim. O elenco é composto por Ana Meira, Beatriz Wellenkamp Carretas, Hugo Olim, Ivo Luz, Jorge Baião, José Russo, Maria Marrafa e Miguel Magalhães e o espaço cénico foi criado por João Mendes Ribeiro, Luísa Bebiano e Sebastião Resende (também autor das esculturas que integram a cenografia). A equipa artística inclui ainda Paulo Vaz de Carvalho (música e oralidade), Ana Rosa Assunção (figurinos e adereços) e António Rebocho (desenho de luz).

© Carolina Lecoq

TEATRO
Floresta de Enganos
de Gil Vicente

co-produção Cendrev / A Escola da Noite
 texto Gil Vicente
tradução dos versos castelhanos José Bento
encenação José Russo
interpretação Ana Meira, Beatriz Wellenkamp Carretas, Hugo Olim, Ivo Luz, Jorge Baião, José Russo, Maria Marrafa, Miguel Magalhães
espaço cénico João Mendes Ribeiro, Luísa Bebiano, Sebastião Resende esculturas Sebastião Resende música e oralidade Paulo Vaz de Carvalho desenho de luz António Rebocho figurinos, adereços e imagem gráfica Ana Rosa Assunção cabelos Carlos Gago consultadoria científica José Augusto Cardoso Bernardes
banda sonora David Cruz, viola da gamba; Manuel Tavares, vihuela; Paulo Vaz de Carvalho, vihuela; Sara Almeida, soprano gravada por João Silva e Henrique Toscano na BLUE HOUSE mistura Paulo Almeida

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
[NOVAS DATAS] 20 de Janeiro a 6 de Fevereiro de 2022
quinta e sexta, 19h00
sábado, 21h30
domingo, 16h00

(excepto 30/01/2022)

M/12 > 70 min

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt


(Espectáculo estreado em Évora, no Teatro Garcia de Resende, a 2 de Dezembro de 2021)

LIGAÇÕES

Celebrando as palavras

Texto do encenador

Gil Vicente, em tons de crepúsculo
[texto de José Augusto Cardoso Bernardes]

Folha de sala

FOTOGRAFIAS

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