Archive for the ‘exposição’ Category

Mostra portátil de fotografia de espectáculo

Segunda-feira, Fevereiro 7th, 2011

"1974" | Teatro Meridional | Fotografia de Susana Paiva

A convite d’A Escola da Noite, o Teatro Meridional está em residência artística em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, até 13 de Fevereiro. O programa inclui dois dos mais recentes espectáculos — “Contos em Viagem: Cabo Verde” e “1974” — , um recital de poesia, um workshop, uma exposição, um documentário e várias oportunidades de conversa com o público.

A Residência Artística começa hoje, com a exposição de fotografia de Susana Paiva

Mostra Portátil de Fotografia de Espectáculo

sobre o processo de criação de “1974”, que pode ser visitada no TCSB, até 13 de Fevereiro, das 10h às 24h.

Na terça e quarta, dias 8 e 9 de Fevereiro, às 21h30, é apresentado o primeiro espectáculo:

Contos em Viagem – Cabo Verde

Depois de Contos em Viagem – Brasil, estreado em 2006, o Teatro Meridional apresenta o segundo espectáculo de um projecto concebido sob o signo da Viagem em torno da literatura que envolve todos os países de língua oficial portuguesa. Neste percurso pelos caminhos da lusofonia, em Contos em Viagem – Cabo Verde uma actriz e um músico (com música original interpretada ao vivo), fazem da literatura o pretexto da viagem e, como itinerário, as palavras dos autores cabo-verdianos. Os textos surgem como ‘pedaços’ de estórias e poemas, como quem canta e reza, que atravessam o tempo, cruzam as ilhas e apresentam-nos poetas e escritores. Com esta proposta, o Teatro Meridional conta-nos estas e outras estórias na língua portuguesa mas também no crioulo das ilhas.

Depois de Contos em Viagem – Brasil apresentado em 2006, Contos em Viagem – Cabo Verde é o segundo espectáculo desta grande Viagem.

Pretendemos assim contar, en (cantar) e divulgar, o património imenso de estórias na língua que nos une, em espectáculos disponíveis para itinerar, provendo entendimentos, outros imaginários e diversidade cultural, levando lugares a outros lugares.”

textos António Aurélio Gonçalves, António Nunes, Arménio Vieira, Baltasar Lopes da Silva / Oswaldo Alcântara, Fátima Bettencourt, Germano de Almeida, João Vário, José Lopes, Manuel Ferreira, Manuel Lopes, Orlando Pereira Ramos Rodrigues, Ovídio Martins selecção de textos e dramaturgia Natália Luíza direcção cénica e desenho de luz Miguel Seabra interpretação Carla Galvão (texto), Fernando Mota (música) música original e espaço sonoro Fernando Mota espaço cénico e figurinos Marta Carreiras

M/6 > 60′ > 6 a 10€ (25% de desconto na compra de bilhete duplo “Contos em Viagem” + “1974”)

“Todos os que resistem”

Domingo, Fevereiro 6th, 2011

Fotografia de Susana Paiva do espectáculo "1974" do Teatro Meridional

“Gosto dos que resistem, dos que insistem, dos que persistem. Foi assim que me constituí enquanto fotógrafa, de resistência em resistência — contra as expectativas familiares, contra uma vaticinada carreira académica que nunca me preencheria, contra a vontade de uns e outros, pressões que fui aprendendo a superar e a desvalorizar.

Cedo compreendi que optar pelas práticas artísticas implicaria persistência. Depois também não demorou muito a compreender que, neste nosso país, a fotografia de espectáculo é ainda uma disciplina menor, pouco valorizada e sobretudo na qual muito poucos agentes culturais verdadeiramente investem. Mesmo assim não desisti da paixão que nutro pelas artes performativas e, de insistência em insistência, graças a algumas cumplicidades artísticas, resisti durante os últimos vinte anos enquanto fotógrafa de teatro. Sei hoje, através do trabalho realizado neste “1974” que ainda há na esfera teatral portuguesa espaço para uma prática da fotografia de teatro que se quer inteira, exercida com a dignidade e respeito que inequivocamente lhe atribuo. Aqui a fotografia que pratico é simultaneamente ferramenta de análise, memória de um processo de trabalho e documento visual de um espectáculo. Com ela construo novos possíveis níveis de leitura que partilho, a par e passo, com toda a equipa artística e técnica do espectáculo.

E assim, através dessa partilha, descubro um universo que já não é só meu mas que contamina e é contaminado por todos quantos diariamente contribuem para edificar esta fábula — intersecção entre memória individual e colectiva — que espelha também quarenta anos da minha vida.”

Susana Paiva

[texto originalmente publicado no programa do espectáculo “1974”, editado pelo Teatro Nacional D. Maria II, em Novembro de 2010]

A exposição de fotografia de Susana Paiva sobre a criação de “1974”pode ser vista no foyer do Teatro da Cerca de São Bernardo, de 7 a 13 de Fevereiro, das 10h às 24h e é a primeira iniciativa pública da Residência Artística do Teatro Meridional em Coimbra.

Uma carta coreográfica: últimos dias*

Sexta-feira, Maio 29th, 2009
© Hans Koster | "Freeze-Frame 308-69-2006", 2006 

 

© Hans Koster | "Freeze-Frame 308-69-2006", 2006

 

Imagine que os seus sapatos pisam a relva. Olhe para ela e lembre-se do primeiro desenho desta exposição. Ponha a sua mão no pescoço e, com a ajuda do toque, recorde-se do que estava desenhado no seu interior.

Agora, observe-se a andar. Observe-se por dentro a andar. Pense nos feixes de músculos necessários para que um passo se realize, na passagem do sangue dentro das veias, nos ossos que se articulam e que são as âncoras dos músculos. Tudo se move para que ande, ande pela relva.


Continue a andar sem se impor um destino concreto. Pense no seu andar ao sair da fotografia. É um andar leve? Hesitante? É forte a maneira como transporta o seu peso de um pé para o outro? Que ritmo têm os seus passos?

E o caminho que pisa, como é? Já pensou no que está por debaixo do chão? Na camada mais próxima dos seus pés e nas que se sucedem em direcção ao fundo da terra? Se se levantasse o chão debaixo dos seus pés, como reagiria?

Que direcção toma? Para onde olha? E as mãos? Onde e como estão? A coluna? Flexível, ao ritmo do seu pisar? Já cedeu? Sente as ancas a moverem-se quase livremente, ajudando as pernas a andar?

E a forma como as pernas indicam aos pés que andem?

E os pulmões, está a ouvi-los? E os passos que agora dá? Está a vê-los? Observe as suas pernas, os seus pés a andar. Veja como se colocam um atrás do outro, e o peso para a frente. Estão a andar à sua frente?!…

Observe e continue a andar. É a dança que os move.

Aproveite… aproveite agora e sorria.

As suas ideias e o seu corpo acabaram de se encontrar por um instante.

Nesse instante, ao mover-se e ao observar-se, os seus passos ganham imagens e sentidos desconhecidos e assim nascem fábulas nas plantas dos seus pés… As suas fábulas.

 

 

* Ao longo do último mês, A Escola da Noite publicou algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. No blog, ela termina aqui. No Teatro, pode visitá-la até amanhã, às 19h00. Vale a pena!

danças em casas*

Quinta-feira, Maio 28th, 2009
© Nikolais/Louis Foundation for Dance | "Girls Trio, Vaudeville of the Elements", Alwin Nikolais

© Nikolais/Louis Foundation for Dance | "Girls Trio, Vaudeville of the Elements", Alwin Nikolais

 

Oitava Fábula

O vestido ovo da avó que abraçava o redondo.

Ovo, vestir o outro com o nosso corpo, quando a coluna visita a oval, amolecer, contorcer, partir, desenrolar, desequilibrar

Vestir, desdobrar-se por camadas, deitar-se dentro de um ovo, abraçar-se a si

Dançar dentro de uma caixa para fazer mais ovos.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Nós vivemos dentro de um vestido transparente que viaja connosco para todo o lado. Tem o tamanho dos nossos braços e pernas quando os abrimos em leque a toda a volta. Este vestido, que é como um ovo, aumenta e diminui conforme queremos. Pode conter a nossa pessoa. Pode viajar connosco para todo o sempre. Podemos embrulhá-lo num lençol quando nos deitamos.

Saia da casca do seu espaço.

Vá com a testa ao encontro dos seus joelhos.

Faça dos seus braços que giram à sua volta uma saia redonda e forte.

Abrace os seus braços atrás de si e olhe o céu.

Transporte esse azul do céu com o seu olhar, desde o alto, até ao colo.

Use agora o redondo que ficou nos braços para os abrir e envolver com todo o seu comprimento uma avó que surge do seu colo, feita de cascas de ovo.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças em casas” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

danças a céu aberto*

Quarta-feira, Maio 27th, 2009

© José Manuel | "A Sagração da Primavera", Pina Bausch, 1994

© José Manuel | "A Sagração da Primavera", Pina Bausch, 1994

Sétima Fábula

O avanço da multidão como canção antiga.

Coro, a massa do grupo que invade e se evade, tornado de gente, corais que entoam sons, a escavação de uma energia selvagem, animais em conversas de movimentos

Batalha, o corpo como campo de batalha, vendavais humanos, braços e peito como facas, o homem como animal e o movimento como grito

A água do corpo é a chuva da vida.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

(Num coro de movimento)

Se conseguíssemos correr dentro do espaço onde nos encontramos por uma boa meia hora, e o imaginássemos coberto de terra, começaríamos a sentir o “íman” que os corpos sentem e não sentem uns pelos outros quando estão juntos. Podemos pensar, enquanto corremos, que somos um coro humano num campo de batalha que trespassa o ar com as facas do nosso peito. No cansaço da correria, ouvimos a música dos nossos pulmões. Podemos imaginar o vento dentro da sala e aí viramos o corpo, inclinamos a coluna, recuamos, avançamos em grupo, como uma massa humana que invade e foge do mundo quotidiano. Decerto que neste momento conheceríamos a chuva da vida, que é a água que transpira dos nossos corpos quando nos damos todos àquilo que há para fazer.

Talvez alguém gostasse de entoar uma canção sua e os outros poderiam seguir o som com a sua própria voz…

Releia tudo dançando (com alguém).

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças a céu aberto” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.