Archive for the ‘criação’ Category

Embarcação do Inferno: a didascália inicial

Quarta-feira, Outubro 5th, 2016
Rui Nuno, Jorge Baião, José Russo e Igor Lebreaud, "Embarcação do Inferno" (foto de ensaio - Pedro Rodrigues)

Rui Nuno, Jorge Baião, José Russo e Igor Lebreaud, “Embarcação do Inferno” (foto de ensaio – Pedro Rodrigues)

Auto de Moralidade composto por Gil Vicente per contemplação da sereníssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representada per seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Portugal dêste nome.
Esta prefiguração se escreve neste primeiro livro, nas obras de devação: porque a segunda e terceira parte foram representadas na capela, mas esta primeira foi representada de câmara, pera consolação da muito católica e santa rainha dona Maria, estando enfêrma do mal de que faleceu, na era do Senhor de 1517.
Começa a declaração e argumento da obra.
Representa-se na obra seguinte uma prefiguração sobre a regurosa acusação que os imigos fazem a tôdas as almas humanas, no ponto que per morte de seus terrestes corpos se partem. E por tratar desta matéria põe o autor por figura que no dito momento que acabamos de expirar chegamos sùpitamente a um rio, o qual per fôrça havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet: um deles passa pera o paraíso, e o outro pera o inferno; os quais batéis têm cada um seu arrais na proa: o do paraíso um Anjo, e o do inferno um Arrais Infernal e um Companheiro.

Passageiros:
Fidalgo, Onzeneiro, Joane, Sapateiro, Frade, Florença, Alcoviteira, Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado, Quatro Cavaleiros.

 

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Embarcação do Inferno: sobre a versão utilizada

Terça-feira, Outubro 4th, 2016
Jorge Baião, Miguel Magalhães e José Russo, "Embarcação do Inferno" (foto de ensaio - Pedro Rodrigues)

Jorge Baião, Miguel Magalhães e José Russo, “Embarcação do Inferno” (foto de ensaio – Pedro Rodrigues)

O texto utilizado neste espectáculo é, no essencial, o texto a que chegou Paulo Quintela, em 1946, confrontando as duas versões avulsas e as duas inseridas nas compilações de 1562 e 1586. Quintela baseou-se fundamentalmente na versão de 1562 e enriqueceu-a com a edição princeps, folheto avulso redescoberto nessa época na Biblioteca Nacional de Madrid, com data próxima de 1518. A sua convicção era a de que Gil Vicente pôde burilar e melhorar este Auto antes de morrer, deixando-o pronto para a edição da Compilação, já editada pelos lhos.
Quanto ao folheto de 1518, que lhe tinha caído nas mãos por essa altura (década de 40), diz: “as rúbricas, muito mais completas, e a pureza do texto, que vêm esclarecer muitos pontos duvidosos, é que conferem à edição avulsa grande parte do seu valor” (Quintela, 1954).
A essa versão a que chegou Paulo Quintela juntámos ainda algumas outras (poucas) expressões do folheto de 1518 que não tinham sido consideradas e optámos por fórmulas mais arcaicas, a nosso ver mais saborosas, para algumas palavras ou expressões (ex: leixar na vez de deixar já que, segundo os especialistas, as duas se usavam na época). A didascália inicial que usamos no espectáculo é também retirada do folheto de 1518.
Quintela sugeriu para a sua versão o título de Auto de Moralidade de Embarcação do Inferno. O título do nosso espectáculo é credor dessa sugestão.

(António Augusto Barros, co-encenador, no programa de “Embarcação do Inferno”)

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Escola da Noite em Évora

Terça-feira, Outubro 4th, 2016
Diário de Coimbra, 4/10/2016 (clique para aumentar)

Diário de Coimbra, 4/10/2016 (clique para aumentar)

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“Embarcação do Inferno”: prosseguem os ensaios

Domingo, Setembro 18th, 2016
Ensaios de "Embarcação do Inferno" no Teatro Garcia de Resende (foto: Sofia Lobo)

Ensaios de “Embarcação do Inferno” no Teatro Garcia de Resende (foto: Sofia Lobo)

Prosseguem os ensaios de “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente, agora no magnífico Teatro Garcia de Resende, em Évora, sala onde o espectáculo vai estrear, a 6 de Outubro.

O Cendrev e A Escola da Noite partilham há muito o gosto pela obra de Gil Vicente, que é uma marca incontornável nos nossos reportórios. Ao longo dos anos, e em diferentes produções, estas companhias têm-se distinguido pelas abordagens cénicas contemporâneas que fazem à obra vicentina, sempre com o gosto acrescido de trabalharem com o texto original.
Chegou agora a vez de apresentarmos o mais conhecido e emblemático texto de Vicente – o “Auto de Moralidade da Embarcação do Inferno”, também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”.
No ano em que se comemoram os 500 anos sobre a primeira apresentação desta peça, juntámos as duas equipas para celebrar com o país um dos momentos mais importantes da história do teatro português. Co-encenada pelos directores artísticos das duas companhias, esta co-produção conta com as interpretações de Ana Meira, Jorge Baião, José Russo, Rosário Gonzaga e Rui Nuno (Cendrev) e de Igor Lebreaud, Maria João Robalo e Miguel Magalhães (A Escola da Noite). Da equipa artística do espectáculo, que se antevê um momento histórico nos percursos destes grupos, fazem ainda parte Ana Rosa Assunção (figurinos e bonecos), João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano (cenografia), António Rebocho (iluminação) e Luís Pedro Madeira (música). José Augusto Cardoso Bernardes, actualmente director da Biblioteca-Geral da Universidade de Coimbra, um dos mais conceituados especialistas na obra de Gil Vicente e colaborador regular d’A Escola da Noite no que ao teatro vicentino diz respeito, assegura a consultadoria científica ao longo de todo o processo de construção do espectáculo.

"Embarcação do Inferno" - ensaios em Évora (foto: Sofia Lobo)

“Embarcação do Inferno” – ensaios em Évora (foto: Sofia Lobo)

Um espectáculo para todos os públicos
Tal como também é habitual no trabalho das duas companhias, o espectáculo destina-se a todos os públicos, incluindo o público escolar (e não exclusivamente a este). Para facilitar a organização de idas ao teatro por parte dos professores, o Cendrev e A Escola da Noite realizarão sessões em horário diurno, durante a semana, para as quais já é possível efectuar reserva. Em Évora, o espectáculo estará em cena entre 6 e 30 de Outubro: de quarta a domingo para o público em geral e às quintas e às sextas também para escolas. Em Coimbra, o espectáculo será apresentado no Teatro da Cerca de São Bernardo, entre 10 de Novembro e 4 de Dezembro – de quinta a domingo para o público em geral e de quarta a sexta-feira também para escolas.
Após as temporadas nas cidades de Évora e Coimbra, o espectáculo cumprirá uma digressão nacional por algumas das principais salas e cidades do país, ao longo do primeiro trimestre de 2017. Em cada uma destas cidades prevê-se igualmente a apresentação de sessões para o público em geral e para grupos escolares, bem como a realização de oficinas para professores e de outras iniciativas comemorativas da efeméride.

TEATRO
Embarcação do Inferno
de Gil Vicente
co-produção A Escola da Noite / Centro Dramático de Évora
encenação António Augusto Barros e José Russo consultadoria científica José Augusto Cardoso Bernardes interpretação Ana Meira, Igor Lebreaud, Jorge Baião, José Russo, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Rosário Gonzaga, Rui Nuno cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos e bonecos Ana Rosa Assunção música Luís Pedro Madeira iluminação António Rebocho
M/12 > 60′

ÉVORA
Teatro Garcia de Resende
6 a 30 de Outubro de 2016
quarta a sábado, 21h30; domingos, 16h00
sessões para escolas: 13 a 28 de Outubro de 2016

COIMBRA
Teatro da Cerca de São Bernardo
10 de Novembro a 4 de Dezembro de 2016
quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00
sessões para escolas: 16 de Novembro a 2 de Dezembro de 2016

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

A Escola da Noite e Cendrev preparam “Embarcação do Inferno”

Quarta-feira, Julho 20th, 2016

dia01

A Escola da Noite e o Cendrev – Centro Dramático de Évora iniciaram em Coimbra, no passado dia 28 de Junho, os ensaios do seu próximo espectáculo. “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente, é uma co-produção entre as duas companhias, com encenação conjunta de António Augusto Barros e José Russo. A estreia está marcada para 6 de Outubro, no Teatro Garcia de Resende.

Os grupos de Coimbra e Évora, respectivamente com 24 e 41 anos de actividade, são das companhias de teatro portuguesas que mais aprofundadamente têm trabalhado os textos vicentinos. Partilham a admiração pela obra deste autor e a forma como gostam de a trabalhar: com abordagens cénicas contemporâneas, feitas com o desafio e o prazer acrescidos de respeitar os textos originais.
Por razões idênticas, nenhuma delas apresentou até hoje o “Auto da Barca do Inferno”. Em contraponto ao afunilamento dos programas escolares em torno de uma ou duas peças (que tende a condicionar também a curiosidade e a procura do público em geral), tanto A Escola da Noite como o Cendrev apostaram sempre na diversificação das propostas e em mostrar a riqueza do reportório vicentino, composto por mais de 40 peças, algumas das quais permanecem injustamente pouco representadas nos palcos portugueses. É também por aqui que passa a prestação do serviço público que estas companhias assumem como sua missão, no âmbito dos contratos que têm vindo a estabelecer com o Ministério da Cultura e as respectivas Câmaras Municipais.
Este é, no entanto, um ano especial. Assinala-se em 2016 a passagem de 500 anos sobre a primeira representação da mais conhecida obra de Gil Vicente (e, em 2017/2018, os 500 anos sobre a sua edição, que é também a primeira publicação conhecida da história do teatro português). No final de mais um contrato de financiamento quadrienal celebrado com o Estado Português, as duas companhias lançam-se finalmente ao desafio de transpor para os palcos das suas cidades (Gil Vicente passou por ambas e nas duas deixou obra) o “Auto da Barca do Inferno”.

Em co-produção
Para além do que partilham em relação a Gil Vicente, Cendrev e A Escola da Noite são há muito parceiros artísticos e institucionais em diversos projectos, nomeadamente no que se refere à intervenção em matérias como a defesa e a prática de uma efectiva descentralização cultural, a valorização do papel das companhias de teatro no panorama artístico nacional ou a reivindicação e justificação de equipamentos culturais públicos qualificados nas cidades de média dimensão. O trabalho que têm feito, enquanto companhias residentes e gestoras do Teatro Garcia de Resende e do Teatro da Cerca de São Bernardo atesta o grau de comprometimento com estes desígnios. No plano artístico, esta é a segunda co-produção entre os grupos, quatro anos depois do memorável “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos.

dia07

José Russo e António Augusto Barros

Construído em co-produção e com encenação conjunta dos directores artísticos dos dois grupos – António Augusto Barros e José Russo – “Embarcação do Inferno” conta com um elenco misto: Igor Lebreaud, Maria João Robalo e Miguel Magalhães, d’A Escola da Noite; e Ana Meira, Jorge Baião, José Russo, Rosário Gonzaga e Rui Nuno, do Cendrev. A cenografia está a cargo de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, colaboradores habituais da companhia de Coimbra, e o desenho de luz será feito por António Rebocho, membro do Centro Dramático de Évora.
O espectáculo estreará em Évora, na histórica sala do Teatro Garcia de Resende, onde cumprirá uma temporada de quatro semanas, para o público em geral e para o público escolar. Idêntica duração terá a temporada de Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, entre 10 de Novembro e 4 de Dezembro. Para o primeiro trimestre de 2017 está prevista a digressão pelas principais salas do país, no âmbito do que se pretende que seja uma comemoração nacional dos 500 anos da mais conhecida peça da história do Teatro português.