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Évora acolhe o V Festival das Companhias

Domingo, Junho 3rd, 2012

O Teatro Garcia de Resende, em Évora, acolhe a V edição do Festival das Companhias, entre 5 e 9 de Junho. Ao longo de uma semana, o público da cidade vai poder assistir às mais recentes produções dos seis grupos que integram a Plataforma das Companhias – A Escola da Noite, ACTA, Centro Dramático de Évora, Companhia de Teatro de Braga, Teatro das Beiras e Teatro do Montemuro.

Teatro Garcia de Resende

Na sequência dos festivais realizados em Faro (2005), Braga (2008), Campo Benfeito, Castro Daire e Lamego (2009) e Coimbra (2010), a iniciativa chega agora a Évora, sob a organização do CENDREV, mantendo os seus dois principais objectivos: oferecer aos espectadores uma mostra actualizada do trabalho das companhias e proporcionar aos próprios grupos um momento regular de encontro e de debate, aberto ao público.

A programação inclui sete espectáculos, apresentados em onze sessões, e uma mesa-redonda. A primeira noite está a cargo da Companhia de Teatro de Braga, que apresenta em Évora uma versão muito particular da história de Inês de Castro, escrita e dirigida pelo encenador ucraniano radicado na Alemanha Alexej Schipenko, um colaborador habitual da CTB. A dramaturgia portuguesa contemporânea é uma vez mais representada por Abel Neves, autor que já viu textos seus montados por quase todas as companhias desta plataforma – “Provavelmente uma pessoa” é apresentado pelo Teatro das Beiras na sala-estúdio do Teatro Garcia de Resende no dia 6 à noite e no dia 7 à tarde. Na terceira noite do Festival (quinta-feira), é a vez da companhia anfitriã voltar a apresentar “O Abajur Lilás”, espectáculo feito em co-produção com A Escola da Noite que estreou em Évora no passado mês de Abril. Na sexta-feira e no sábado, a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve faz uma verdadeira ocupação dos três palcos do Festival: “Laço de Sangue”, de Athol Fugard, é apresentado na sala principal do Teatro Garcia de Resende (21h30), “Cavalo Manco Não Trota”, de Luis del Val, pode ser visto às 18h30 na sala-estúdio e ainda será possível conhecer o singular projecto VATe – Serviço Educativo, que a companhia desenvolve há alguns anos. No autocarro transformado em teatro os espectadores poderão assistir a quatro sessões do espectáculo “De Ulisses…Nunca Digas Tolices – A Guerra de Tróia”, de Alexandre Honrado. A encerrar o Festival, o Teatro do Montemuro apresenta, no sábado à noite, a peça “Louco na Serra”, de Peter Cann e Steve Jonhstone.

O teatro em tempo de crise

Como tem sido regra em todas as edições do Festival, a programação inclui um momento de debate aberto ao público. Este ano o tema escolhido para a mesa-redonda (que contará, para além dos elementos das companhias, com as intervenções de várias personalidades convidadas) foi “O teatro em tempo de crise”. Os cortes já aplicados no financiamento público à actividade artística, as indefinições que subsistem quanto ao futuro e o papel específico que a cultura e a arte em particular podem desempenhar no combate à crise em que o país se encontra mergulhado são aspectos incontornáveis da reflexão proposta pelas companhias. O debate está agendado para o último dia do Festival – sábado, entre as 16 e as 18h30.

Ao nível interno, o Festival inclui ainda, pela primeira vez, um momento de “plenário”, em que todos os elementos das companhias (equipas artísticas, técnicas e de produção) poderão aprofundar a troca de experiências que vêm dinamizando e discutir novas formas de colaboração entre os grupos.

O Festival e a CULTURBE

Pela sua dimensão e pelo seu triplo carácter de mostra, festa e reflexão, o Festival das Companhias é um dos eixos centrais da rede de programação CULTURBE. Ele envolve as três companhias residentes nos teatros que fazem a rede (CTB, A Escola da Noite e Cendrev) e as três companhias que, com aquelas, criaram em 2004 a “Plataforma das Companhias”. Em conjunto, estes seis grupos têm vindo a reforçar os laços de colaboração, materializados em intercâmbio de espectáculos, co-produções, tomadas de posição públicas e outras parcerias, numa rede informal cuja existência e durabilidade é um fenómeno pouco frequente em Portugal.

A valorização da criação artística no desenvolvimento das cidades médias e das suas regiões e a valorização da figura da companhia de teatro como elemento essencial à estruturação e à sustentabilidade do sector artístico em Portugal são objectivos comuns às duas redes, cujo feliz cruzamento ocorre a cada edição do Festival.

V Festival das Companhias – PROGRAMA

V Festival das Companhias da Descentralização

Sábado, Junho 2nd, 2012

Vem aí o V Festival das Companhias da Descentralização.

Depois de Faro (2005), Braga (2008), Campo Benfeito, Castro Daire e Lamego (2009), Coimbra (2010), é agora a vez de Évora acolher esta festa do teatro, no Teatro Garcia de Resende.

Seis cidades, seis companhias, 11 espectáculos.

Faça-nos companhia!

PROGRAMA

5 de Junho, 21h30

“Jardim”, pela Companhia de Teatro de Braga

6 de Junho, 21h30

“Provavelmente uma Pessoa”, pelo Teatro das Beiras

7 de Junho, 18h30

“Provavelmente uma Pessoa”, pelo Teatro das Beiras

7 de Junho, 21h30

“O Abajur Lilás”, co-produção CENDREV / A Escola da Noite

8 de Junho, 10h30 e 15h00

“De Ulisses…Nunca Digas Tolices – A Guerra de Tróia”, VATe – Serviço Educativo da ACTA

8 de Junho, 18h30

“Cavalo Manco Não Trota”, pela ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

8 de Junho, 21h30

“Laço de Sangue”, pela ACTA – Companhia de Teatro do Algarve

9 de Junho, 12h00 e 18h30

“De Ulisses…Nunca Digas Tolices – A Guerra de Tróia”, VATe – Serviço Educativo da ACTA

9 de Junho, 16h00

debate “O Teatro em tempo de crise”

9 de Junho, 21h30

“Louco na Serra”, pelo Teatro do Montemuro

informações e reservas: 266 703 122 / geral@cendrev.com / www.cendrev.com

 

esta co-produção

Sexta-feira, Abril 20th, 2012

"O Abajur Lilás" (foto de ensaio, de Paulo Nuno Silva)

O Cendrev e A Escola da Noite pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal, iniciadas há cerca de 40 e 20 anos, respectivamente. O facto de este conceito continuar hoje na ordem do dia e entre as supostas “prioridades” do Governo mostra uma de duas coisas: ou estas companhias (e as suas congéneres espalhadas pelas principais cidades do país) eram particularmente visionárias, ou as políticas de desenvolvimento cultural adoptadas nas últimas décadas foram mesmo inconsequentes.
Os projectos artísticos das duas companhias são indissociáveis das cidades que escolheram para se instalar. Também graças a elas e ao trabalho que têm desenvolvido, é hoje mais difícil imaginar uma cidade média sem estruturas de criação artística que estreiem regularmente espectáculos, que formem novos profissionais, que estabeleçam pontes com as comunidades escolares e universitárias, que apoiem e acolham projectos de novos criadores, que façam parcerias e intercâmbios com outros artistas e companhias, que organizem festivais e dinamizem programações, que justifiquem a construção ou a recuperação de teatros e assegurem o seu funcionamento diário.
Muitas vezes resistindo contra a indiferença, a incompreensão e até (em contextos especiais e felizmente efémeros) à hostilidade daquelas e daqueles que temporariamente são encarregados da coisa pública, o Cendrev e A Escola da Noite têm desta forma ajudado a concretizar a democracia, nas suas cidades e no país. Com o seu trabalho, estas duas companhias e os restantes grupos que prestam serviço público em Portugal têm contribuído para tornar realmente adquirido um direito que só em 1975 ficou formalmente consagrado – o direito de todos os cidadãos à criação e à fruição artística.
Nos dias que correm, esse facto comporta dois perigos, em relação aos quais é necessário que todos (públicos incluídos) estejamos alerta. Por um lado, quem hoje ousa falar e defender direitos adquiridos – da cultura à saúde, da educação ao trabalho e à protecção social – é tratado com desdém e considerado ultrapassado, sobretudo por parte daqueles que, realmente, sempre tiveram tais direitos garantidos. Por outro lado, como apesar das dificuldades que sempre enfrentaram as companhias têm continuado a trabalhar, poucos são os que acreditam que os direitos que elas ajudaram a tornar adquiridos possam voltar a deixar de o ser. E que companhias como o Cendrev e A Escola da Noite deixem de ter condições para existir, ou que teatros municipais como o Garcia de Resende (cujo 120.º aniversário se comemora este ano) e o Teatro da Cerca de São Bernardo deixem de ter profissionais qualificados a assegurar o seu funcionamento regular.
Mais do que em qualquer outro momento nas vidas destas duas companhias, é isto o que está em causa. Mas não é uma inevitabilidade. A concretização desta ameaça dependerá da forma como quisermos e conseguirmos (criadores e espectadores) fazer-lhe frente. Para começar, é preciso levá-la a sério.

A oportunidade para esta co-produção em concreto (a primeira entre as duas companhias) surgiu de forma inesperada no final do ano passado, quando projectávamos os nossos planos de actividade para 2012. Mas as condições para o seu sucesso vêm sendo trabalhadas há muito: o Cendrev e A Escola da Noite são parceiros em vários projectos (Plataforma das Companhias, rede Culturbe, entre outros) e souberam construir entre si uma relação de cumplicidade, que o presente processo veio reforçar.
Montar uma co-produção comporta sempre riscos adicionais. Obriga as estruturas e as pessoas que as compõem a confrontar-se com diferentes linguagens, métodos e processos de trabalho. Obriga a que os intervenientes sejam capazes de se colocar no lugar do outro e que estejam disponíveis para a troca. É por isso e nessas condições, mais do que meras razões de contabilidade e de contenção de custos, que gostamos de as fazer. É por isso e pelo facto de o termos conseguido que, para além do resultado final que agora apresentamos ao público, sentimos ter vencido o desafio e que saímos mais fortes para enfrentar o que aí vem.
Tal como Plínio Marcos nos mostra neste texto, há sempre diferentes formas de reagir perante uma situação de opressão ou de violência ilegítima. Habituados a estas andanças, nós gostamos de as combinar: o pragmatismo e a necessidade de continuar a trabalhar (quase) como se nada fosse, porque interesses mais altos se levantam; a irresistível tentação de explodir de vez em quando, porque há limites que não podem ser ultrapassados; a serena (e irresponsável?) convicção de que tudo isto é passageiro e de que os Giros e os respectivos capangas que hoje nos atormentam (e as sombras que eles nos recordam) não levarão a melhor.
Animam-nos dois factores adicionais, com que as personagens de Plínio não podiam contar: o “amor à arte” e a solidariedade dos clientes.

A Escola da Noite / CENDREV,
Abril de 2012.

in programa do espectáculo

Obra censurada de Plínio Marcos estreia em Évora

Quinta-feira, Abril 5th, 2012

A Escola da Noite e o Centro Dramático de Évora (Cendrev) estreiam no próximo dia 19 de Abril, no Teatro Garcia de Resende, “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. Escrito num português amplo, o texto é uma poderosa metáfora das diferentes formas de reagir em contextos de opressão.

Dilma, Célia e Leninha são três prostitutas que partilham o quarto onde vivem e trabalham. Giro, o proprietário, acha que elas são pouco produtivas e exerce sobre elas as formas de pressão e de motivação que conhece, com a ajuda de Osvaldo, uma espécie de secretário musculado. As relações entre as cinco personagens evoluem tragicamente a partir do momento em que se quebra o abajur que iluminava o quarto. A linguagem utilizada (o calão da cidade de Santos, São Paulo, de onde Plínio é natural) e a alegada obscenidade do texto foram os argumentos avançados pela censura brasileira para, por duas vezes, proibir a estreia do espectáculo. Em 1975, a proibição gerou fortes reacções por parte da comunidade artística, que se solidarizou com Plínio: “o calão das suas personagens e a crueza das situações que denuncia são tão chocantes quanto a realidade que elas espelham. É mister não proibir obras como a deste autor, mas ter a coragem de encená-las como remédio amargo que deve tomar um organismo para manter-se sadio”, dizia-se num comunicado da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo.

Plínio Marcos (1935-1999) ironizava com a situação e com o facto de ter vários textos seus proibidos: “foi sempre por merecimento, eu nunca fiz nada para agradar às pessoas”. O desafio aos censores e ao poder instituído é bem mais profundo, no entanto, do que a mera utilização de uma linguagem popular ou a apresentação de situações de miséria material e humana. Em “O Abajur Lilás”, dentro das paredes apertadas de um quarto de prostíbulo, encontramos a história intemporal da opressão entre indivíduos e das diferentes formas, sempre complexas e multifacetadas, que estes encontram para lidar com ela – individualismo, pragmatismo, revolta, negação, esperança, desespero.

Numa sociedade em que a violência física e verbal está difundida e banalizada até ao ponto da indiferença, é essa profundidade da obra de Plínio que mais toca, quase 40 anos depois da sua escrita. Nenhuma censura consegue pôr cobro a essa reflexão; nenhuma forma de opressão – política, social ou económica, mais assumida ou mais nebulosa – lhe escapa.

O Cendrev e A Escola da Noite

Dirigido por António Augusto Barros, o espectáculo é a primeira co-produção entre o Centro Dramático de Évora (Cendrev) e A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra, duas companhias com idades e percursos diferenciados, mas que há muito colaboram e mantêm relações de intercâmbio. Em comum, para além da aposta na descentralização e da missão de serviço público que assumem como sua nas cidades que escolheram como sede, os dois grupos apresentam reportórios eclécticos e demonstram, pela sua prática continuada, a importância da existência de estruturas de criação artística com um mínimo de sustentabilidade espalhadas pelo território nacional.

O elenco e a restante equipa técnica e criativa integram elementos das duas companhias, num processo que tira o melhor partido das valências e dos recursos de cada uma delas. “O Abajur Lilás” está a ser preparado e estreará na histórica sala do Teatro Garcia de Resende, em Évora, que cumpre, em 2012, 120 anos de existência. Parte depois para o Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, e para outros prostíbulos – perdão, teatros – portugueses na segunda quinzena de Maio.

O Abajur Lilás

de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho

Évora, Teatro Garcia de Resende

19 a 28 de Abril

quarta a sábado, 21h30; domingo, 16h00

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

16 a 27 de Maio

terça a sábado, 21h30; domingos, 16h00

21 de Junho a 1 de Julho

quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00

 

Animais Nocturnos em Évora hoje e amanhã

Quarta-feira, Fevereiro 15th, 2012

Miguel Magalhães, Sofia Lobo e Miguel Lança, Animais Nocturnos (foto: Augusto Baptista)

Animais Nocturnos, o mais recente espectáculo da companhia, está em Évora.

No Teatro Garcia de Resende, a convite do CENDREV,
hoje e amanhã (quarta e quinta-feira), às 21h30.

Faça-nos companhia!

texto Juan Mayorga tradução António Gonçalves encenação António Augusto Barros interpretação Maria João Robalo, Miguel Lança, Miguel Magalhães, Sofia Lobo cenografia António Augusto Barros, João Mendes Ribeiro figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Eduardo Gama M/12 > 90′ (aprox.)

informações e reservas: 266 703 112