"Eu Sou a Minha Própria Mulher" Fotografia de António Alves
A Escola da Noite acolhe no Teatro da Cerca de São Bernardo, nos dias 26 e 27 de Novembro, o espectáculo “Eu sou a minha própria mulher”, da companhia Seiva Trupe.
Escrita pelo actor e dramaturgo norte-americano Doug Wright, a peça baseia-se na história verídica de Charlotte Von Mahlsdorf, travesti alemão que sobrevive aos vários regimes da Alemanha sem nunca esconder a sua identidade sexual. Charlotte, cujo nome de baptismo era Lothar Berfelde, ousou montar e preservar um fantástico museu de antiguidades, que ainda hoje existe, e um cabaré clandestino na cave desse museu. Por este bar, todo ele decorado com os móveis do Mulack-Ritze, e posteriormente encerrado pelas autoridades alemãs, circularam nomes famosos das artes e das letras, como Bertolt Brecht e Marlene Dietrich.
“Eu sou a minha própria mulher” foi pela primeira vez apresentada em 2003, na Broadway, alcançando uma óptima receptividade junto do público e da crítica. Entre os vários prémios que obteve, destaca-se o Prémio Pulitzer e o “Tony” para melhor peça. Desde então, tem sido encenada por todo o mundo – Suécia, Canadá, Austrália, República Checa e México, entre outros países.
Monólogo para um actor, este foi o texto escolhido pela Seiva Trupe para celebrar os 50 anos de carreira de Júlio Cardoso, actor, encenador e fundador da companhia portuense com um percurso ímpar no teatro português. Sozinho em palco, Júlio Cardoso dá corpo e voz a mais de trinta personagens diferentes, num “one-man show” dirigido por João Mota a que é impossível ficar indiferente.
A Escola da Noite orgulha-se de poder associar-se a esta homenagem, oferecendo a possibilidade de voltarmos a ver a Seiva Trupe em Coimbra, cidade onde esta companhia já não se apresentava há mais de 10 anos.
A Seiva Trupe foi fundada em 1973 por um grupo de jovens actores profissionais – entre os quais António Reis, Estrela Novais e Júlio Cardoso –, numa altura em que o público estava cada vez mais afastado das salas de espectáculo, perante um teatro cada vez mais comprometido e amordaçado pelo rigor da censura. Os fundadores da “Seiva Trupe – Teatro Vivo” pretendiam romper com esse estado de coisas e integrar e dinamizar o movimento do teatro independente que começava a despontar. Conseguiram tornar-se um exemplo para o aparecimento de outros novos agrupamentos profissionais no País, graças ao que definem como “um teatro de rigor artístico, cultural e de comunicação.”
Tendo sido um dos principais impulsionadores e criadores do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, bem como da fundação da Academia Contemporânea do Espectáculo, a Seiva Trupe é hoje a companhia residente no Teatro do Campo Alegre, no Porto, a partir do qual continua a desenvolver uma intensa actividade de criação artística, que regista já mais de uma centena de novos espectáculos, cerca de sete mil representações e quase um milhão e meio de espectadores.