Contista, romancista, ensaísta, roteirista e “cineasta frustrado”,Rubem Fonseca precisou publicar apenas dois ou três livros para ser consagrado como um dos originais prosadores brasileiros contemporâneos. Com suas narrativas velozes e sofisticadamente cosmopolitas, cheias de violência, erotismo, irreverência e construídas em estilo contido, elíptico, cinematográfico, reinventou entre nós uma literatura noir ao mesmo tempo clássica e pop, brutalista e sutil — a forma perfeita para quem escreve sobre “pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado”.
Carioca desde os oito anos, Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, em 11 de maio de 1925. Leitor precoce porém atípico, não descobriu a literatura (ou apenas o prazer de ler) no Sítio do Pica-Pau Amarelo, como é ou era de praxe entre nós, mas devorando autores de romances de aventura e policiais de variada categoria: de Rafael Sabatini a Edgar Allan Poe, passando por Emilio Salgari, Michel Zevaco, Ponson du Terrail, Karl May, Julio Verne e Edgard Wallace. Era ainda adolescente quando se aproximou dos primeiros clássicos (Homero, Virgílio, Dante, Shakespeare, Cervantes) e dos primeiros modernos (Dostoiévski, Maupassant, Proust). Nunca deixou de ser um leitor voraz e ecumênico, sobretudo da literatura americana, sua mais visível influência.
Por pouco não fez de tudo na vida. Foi office boy, escriturário, nadador, ajudante de mágico, revisor de jornal, comissário de polícia — até que se formou em direito, virou professor da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e, por fim, executivo da Light do Rio de Janeiro. Escritor publicamente exposto, só no início dos anos 1960, quando as revistas O Cruzeiro e Senhor publicaram dois contos de sua autoria.
Em 1963, a primeira coletânea de contos, Os prisioneiros, foi imediatamente reconhecida pela crítica como a obra mais criativa da literatura brasileira em muitos anos; seguida, dois anos depois, de outra, A coleira do cão, a prova definitiva de que a ficção urbana encontrara seu mais audacioso e incisivo cronista. Com a terceira coletânea, Lúcia McCartney, tornou- -se um best-seller e ganhou o maior prêmio para narrativas curtas do país.
Já era considerado o maior contista brasileiro quando, em 1973, publicou seu primeiro romance, O caso Morel, um dos mais vendidos daquele ano, depois traduzido para o francês e acolhido com entusiasmo pela crítica europeia. Sua carreira internacional estava apenas começando. Em 2003, ganhou o Prêmio Juan Rulfo e o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Com várias de suas histórias adaptadas ao cinema, ao teatro e à televisão, Rubem Fonseca já publicou 11 coletâneas de contos, sete romances e três novelas.
“O autor” in Rubem Fonseca, O Seminarista, Rio de Janeiro, Agir Editora, 2009