O professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra José Bernardes proferiu esta terça-feira em Braga, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, a conferência “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo”. A iniciativa abriu o programa do projecto “Embarcação do Inferno” na cidade, que se prolonga até sexta-feira e inclui quatro sessões do espectáculo, no Theatro Circo.
José Bernardes é consultor científico do projecto “Embarcação do Inferno”, desenvolvido em co-produção pelo Centro Dramático de Évora e pel’A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra, assinalando os 500 anos do mais célebre texto de Gil Vicente, também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”.
Na palestra, que quis dedicar ao Professor Vitor Aguiar e Silva, presente na sala, José Bernardes lembrou o “interesse documental” da peça sobre a sociedade portuguesa do século XVI – “mais enquanto caricatura do que como retrato” – mas salientou a possibilidade de “ir mais longe” no estudo e na fruição da obra.
Para isso, é necessário resistir à “pulsão anacrónica” e convidar os leitores e os espectadores dos nossos dias a viajar no tempo e a perceber alguns dos aspectos essenciais que nos separam da época em que Gil Vicente escreveu. A “familiaridade com a morte”, a “crença generalizada no julgamento post-mortem”, as ideias de “justiça plena” e “verdade clara” que só a morte permitiria alcançar e a “inversão entre a figura do espectro e a figura da pessoa” foram alguns dos pontos que quis destacar. “Na Barca – afirmou – as pessoas estão mortas mas não sabem: são espectros ainda e é por isso que não se salvam”.
Dando uma atenção particular às estratégias que poderão ajudar no ensino dos textos vicentinos aos jovens de hoje, Bernardes referiu-se em pormenor a duas das personagens “que mais dificuldades causam aos alunos”: o Judeu e os Cavaleiros. Falando sempre na necessidade de evitar os anacronismos, o investigador acredita, contudo, que “muito do que é dito [no Auto da Barca do Inferno] tem aplicação no século XXI”. É um “texto denso”, capaz de deixar “sementes de reflexão”, de nos ajudar a interpelar, a decifrar e a descrever o mundo em que vivemos. Uma obra, enfim, capaz de nos dar o melhor que a literatura tem para nos oferecer: “A literatura serve para aprofundar o Mundo”, concluiu.
Embarcação do Inferno
Desenvolvido em co-produção por duas das companhias portuguesas que mais aprofundadamente têm trabalhado e dado a conhecer a obra de Gil Vicente – A Escola da Noite, de Coimbra, e o Centro Dramático de Évora –, o projecto “Embarcação do Inferno”, centrado no espectáculo com encenação de António Augusto Barros e José Russo, teve início em Outubro de 2016 e inclui sessões para o público em geral, sessões para escolas, o ciclo de conferências “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo” e oficinas para professores. Conta já com mais de 120 apresentações e mais de 13 mil espectadores. Para além de Coimbra e Évora, passou já por uma dezena de outras localidades nacionais: Campo Benfeito, Bragança, Aveiro, Viana do Castelo, Caldas da Rainha, Barreiro, Figueira da Foz, Castelo Branco, Porto e Leiria. O espectáculo está agora em Braga, onde pode ser visto na próxima sexta-feira, 23 de Novembro, pelas 21h30, no Theatro Circo. As sessões para escolas têm lugar no dia 22 de Novembro (às 10h00 e às 15h00) e no dia 23 (às 15h00).
Os bilhetes para o espectáculo custam 10 Euros e podem ser adquiridos online ou na bilheteira do Theatro Circo.
A Escola da Noite em digressão
EMBARCAÇÃO DO INFERNO
de Gil Vicente
A Escola da Noite / Cendrev
BRAGA
Theatro Circo
23 de Novembro de 2018
sexta-feira, 21h30
Sessões para escolas:
22 e 23 de Novembro de 2018
quinta-feira, 10h00 e 15h00; sexta-feira, 15h00
informações e reservas:
253 203 800 / theatrocirco@theatrocirco.com