Um amigo da companhia gosta de brincar connosco dizendo que temos dois dramaturgos residentes: Gil Vicente e… Abel Neves.
Respondemos-lhe sempre com o sorriso orgulhoso de quem sabe o que tem em mãos.
Entre os dois, o Abel tem a importante vantagem de estar vivo. Essa circunstância permitiu que, além de amigos, nos tenhamos feito companheiros de estrada, na defesa e na prática desse teatro “como coração de estrela”, no centro da vida, “lugar de todas as utopias”, como ele tão bem tem dito.
Sabendo que somos seus admiradores, o Abel tem tido ainda a generosidade de nos entregar textos inéditos, oferecendo-nos a oportunidade de os fazermos nossos e de assim os partilharmos com o público. Assim nasceram “Além as estrelas são a nossa casa”, “Além do Infinito”, “Este Oeste Éden” e, agora, “Nunca estive em Bagdad”.
A guerra do Iraque entrou pela casa dos portugueses. Porque “fomos a primeira televisão do mundo” a transmiti-la em directo e porque tivemos de servir de cenário para a cimeira de triste memória que lhe deu início. O Abel escolheu-a para nos mostrar como as diferentes escalas se cruzam nas salas de estar das vidas humanas. E fez, a partir desse confronto, uma história sobre o optimismo que é preciso inventar.
Nós cá estamos, com ele, a tentar construí-lo, num caminho iniciado há 20 anos. Na certeza de que é possível (e necessário) viver melhor.
O teatro também serve para isso.
A Escola da Noite
Outubro de 2012
[texto da folha de sala]
Tags: Abel Neves, Nunca estive em Bagdad