
Há vários anos, o dramaturgo e encenador galego Cándido Pazó, amigo próximo das duas companhias, fez questão de nos apresentar o Sarabela Teatro. “Têm muito em comum, vão gostar de se conhecer”, preconizava o autor de “A Canoa”, espectáculo que viria a dirigir em Coimbra em 2015.
Confirmámo-lo rapidamente. Entre o Sarabela (criado em 1980, grupo profissional desde 1990) e A Escola da Noite (nascida em 1992) há um chão comum, que entre outros aspectos radica nas ligações ao teatro universitário que marcam as respectivas fundações; nos interesses que partilhamos na construção do reportório; na profundidade das abordagens que gostamos de imprimir a cada processo de criação; no gosto pelo texto teatral, pela poesia e pela transposição cénica de textos não dramáticos; no enraizamento nas cidades que escolhemos para sede; na dimensão nacional dos nossos projectos; na consciência de que o projecto artístico de uma companhia de teatro reflecte uma visão da sociedade e configura um gesto cívico e político, do qual não só não abdicamos como procuramos cuidar, com rigor, compromisso e sentido de responsabilidade.
Quisemos sempre partilhar a construção desta amizade com o público de Coimbra, a quem vimos oferecendo a oportunidade de conhecer, há mais de duas décadas, alguns dos mais significativos espectáculos da companhia de Ourense: “Así que pasen 5 anos”, de Federico García Lorca (2003, ainda na Oficina Municipal do Teatro); “A Esmorga”, de Eduardo Blanco Amor (2009); “Rosalía: os cantares das musas”, com poemas de Rosalía de Castro (2013); “A idade da pavía”, de Arístides Vargas (2014); “Pequenas certezas”, de Bárbara Colio (2014); “Arraianos”, de X. L. Mendéz Ferrín (2023); “O Dragón de Ouro”, de Roland Schimmelpfennig (2025).
Nos teatros, nos festivais, nos projectos em que se foram encontrando, as equipas do Sarabela e d’A Escola da Noite foram consolidando uma relação de cumplicidade e admiração recíproca que as motivou a darem mais um passo. “O Grande Incêndio” é a primeira das duas co-produções que as companhias têm previstas para o biénio 2025-2026.
Devemos a Ánxeles Cuña Bóveda, directora artística do Sarabela e encenadora deste espectáculo, a descoberta de um texto que não conhecíamos (e que não estava traduzido para português), bem como a equipa criativa que trouxe consigo da Galiza e com a qual nos deu o privilégio de trabalhar. Iris Branco e Cristian Andrade (cenografia), Vadim Yukhnevich (direcção musical e música original), Baltasar Patiño (desenho de luz), Rut Balbís (coreografia) e Zé Paredes (assistência de encenação) têm percursos e currículos largamente reconhecidos e fariam sem nenhuma dúvida parte de uma selecção do melhor que o teatro galego contemporâneo tem para oferecer ao mundo.
“O Grande Incêndio” fala-nos de desastres naturais e de desastres culturais – dos que não podemos evitar e dos que criamos ou ajudamos a agravar, por acção ou omissão. De prenúncios a que só demasiado tarde prestamos atenção, do crescimento das desigualdades e das injustiças com que nos habituamos a conviver, da forma como deixamos que nos dividam, entre povos, entre vizinhos, entre famílias. Fala-nos, nas palavras do próprio autor, de “uma fenda entre mundos” que “cresce cada vez mais”.
Não cabe ao teatro mudar o mundo. Mas tem palavras para oferecer, ainda mais necessárias quando o medo e a barbárie vão sendo naturalizados como instrumentos de dominação e a vertigem da guerra parece arrastar-nos para o abismo. Eis o gesto que escolhemos fazer, em 2025, a partir da Galiza e de Portugal, com o texto de um alemão.
A Escola da Noite, Maio de 2025
TEATRO | ESTREIA
O Grande Incêndio
de Roland Schimmelpfennig
enc. Ánxeles Cuña Bóveda
A ESCOLA DA NOITE / SARABELA TEATRO
29 de Maio a 15 de Junho
quinta, 19h00
sexta e sábado, 21h30
domingo, 16h00
> M/14 > 100 min > 5 a 10€
sessões com interpretação em LGP
8 e 13 de Junho
domingo, 16h00 e sexta, 21h30
Informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / bilheteira@aescoladanoite.pt
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