Uma equipa de sete investigadoras tem vindo a desenvolver no Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o projecto “A Cultura na Primeira Página – um estudo dos jornais portugueses na primeira década do século XXI (2000-2010)”.
Tendo como objectivo principal fazer “um retrato da cobertura cultural dos principais jornais portugueses” durante este período, a investigação incide sobre a “identificação e [a] análise dos temas, acontecimentos e protagonistas de cultura abordados na primeira página” de seis órgãos de comunicação social: Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Expresso e Visão. Pretende-se saber “como evoluiu a selecção, o tratamento e a visibilidade da cultura, articulando essa evolução com as transformações registadas nas redacções, em particular, e no jornalismo, em geral”. Para além de identificarem e quantificarem “os principais padrões de cobertura das notícias culturais, em termos de temas, acontecimentos, protagonistas, géneros jornalísticos, fontes de informação, extensão e localização dos textos”, as autoras procuram igualmente compreender “dentro da história específica de cada meio de comunicação social analisado, como e por que razões mudaram os recursos afectos e a orientação editorial das secções de cultura e dos suplementos especializados nesta área”.
O projecto resultou já em mais de uma dezena de comunicações e publicações em contextos nacionais e internacionais. Os principais resultados foram recentemente apresentados e discutidos publicamente, na conferência “O lugar da cultura no jornalismo contemporâneo”, que teve lugar em Lisboa, no passado dia 22 de Maio. A coordenadora do projecto, Carla Baptista, e a investigadora Maria João Centeno vêm agora a Coimbra partilhar com o público da cidade algumas das conclusões. Para a discussão, trarão alguns números e perguntas: porque é que a cultura não é notícia? Porque é que algumas áreas artísticas são menos vezes notícias do que outras? Em cima da mesa estará igualmente, entre outras, a questão das assimetrias regionais no acesso à cobertura mediática, frequentemente denunciadas pelos agentes culturais sediados fora de Lisboa.
O debate de Coimbra é enriquecido com a participação de Rui Bebiano, professor universitário e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e de Francisco Amaral, também professor universitário e director da ESEC TV. O primeiro fará uma abordagem histórica do papel da imprensa na construção de uma “cultura de resistência” (central na crítica e no combate ao regime do Estado Novo) e da forma como, em Portugal, esse modelo foi perdendo terreno para a propagação de uma “cultura de establishment” ao longo das últimas décadas. Francisco Amaral, docente no Instituto Superior Miguel Torga, é fundador e director da ESEC TV e autor do mítico programa de rádio “Íntima fracção”. Intervirá na dupla condição de professor e profissional de comunicação social, comentando os resultados do estudo a partir da sua própria experiência.
A moderação do debate estará a cargo de João Figueira, investigador e professor de jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e autor, entre outras, das obras “Os jornais como actores políticos — o Diário de Notícias, Expresso e Jornal Novo no Verão Quente de 1975”, “O Essencial Sobre A Imprensa Portuguesa 1974-2010” e “Jornalismo em Liberdade”.
COLÓQUIO / DEBATE
“A cultura na primeira página”: porque é que a cultura não é notícia?
com Carla Baptista (CIMJ), Maria João Centeno (ESCS/IPL e CIMJ), Rui Bebiano (FLUC/CES) e Francisco Amaral (ESEC TV / ISMT)
moderação: João Figueira (FLUC/CEIS20)
2 de Julho
quarta-feira, 18h00
bar do TCSB > entrada gratuita