“Pessoas perfeitas”, de Ivam Cabral e Rodolfo García Vásquez, acaba de ganhar os principais prémios teatrais de São Paulo deste ano – Prémio APCA para melhor espectáculo e Prémio Shell para melhor texto.
O espectáculo foi construído a partir “da observação das vidas de moradores do Centro de São Paulo” e de entrevistas realizadas e oferece-nos um retrato da cidade – inevitavelmente parcelar, mas pleno de poesia e de sensibilidade.
Os temas que aborda – a solidão, as desigualdades, o convívio com as diferenças – vão ao cerne da condição humana e são, por isso mesmo, universais. Mas para quem, como nós, tem um contacto espaçado com São Paulo e gosta de ficar alojado na Vieira de Carvalho, a dois passos do Arouche onde Binho faz os seus michês, este espectáculo ganha aqui um sentido especial.
Como é seu hábito, Os Sátyros radicalizam a noção de que o teatro serve para discutir a polis e devolvem-nos, quase sem filtro, aquela parte da cidade que tantas vezes nos esquecemos que existe: a cidade das histórias pessoais, repletas de contradições e imperfeições, que estão por trás de cada cara com que nos cruzamos no passeio, no metro, na Paulista ou… no teatro.
“Pessoas perfeitas” lembra-nos que, por maior que seja, por mais prédios e automóveis que tenha, por mais elaborados e assépticos que sejam os indicadores que fazem as manchetes dos jornais, é de pessoas e das suas vidas que a cidade é feita.
Fundada em 1989, a companhia Os Sátyros chegou a estar sediada em Portugal, na primeira metade da década de 90. A partir de 2000, volta a instalar-se em São Paulo, contribuindo para a revitalização da Praça Roosevelt, que é hoje um dos principais centros de criação e difusão teatral da cidade.