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Obra censurada de Plínio Marcos estreia em Évora

Quinta-feira, Abril 5th, 2012

A Escola da Noite e o Centro Dramático de Évora (Cendrev) estreiam no próximo dia 19 de Abril, no Teatro Garcia de Resende, “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. Escrito num português amplo, o texto é uma poderosa metáfora das diferentes formas de reagir em contextos de opressão.

Dilma, Célia e Leninha são três prostitutas que partilham o quarto onde vivem e trabalham. Giro, o proprietário, acha que elas são pouco produtivas e exerce sobre elas as formas de pressão e de motivação que conhece, com a ajuda de Osvaldo, uma espécie de secretário musculado. As relações entre as cinco personagens evoluem tragicamente a partir do momento em que se quebra o abajur que iluminava o quarto. A linguagem utilizada (o calão da cidade de Santos, São Paulo, de onde Plínio é natural) e a alegada obscenidade do texto foram os argumentos avançados pela censura brasileira para, por duas vezes, proibir a estreia do espectáculo. Em 1975, a proibição gerou fortes reacções por parte da comunidade artística, que se solidarizou com Plínio: “o calão das suas personagens e a crueza das situações que denuncia são tão chocantes quanto a realidade que elas espelham. É mister não proibir obras como a deste autor, mas ter a coragem de encená-las como remédio amargo que deve tomar um organismo para manter-se sadio”, dizia-se num comunicado da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo.

Plínio Marcos (1935-1999) ironizava com a situação e com o facto de ter vários textos seus proibidos: “foi sempre por merecimento, eu nunca fiz nada para agradar às pessoas”. O desafio aos censores e ao poder instituído é bem mais profundo, no entanto, do que a mera utilização de uma linguagem popular ou a apresentação de situações de miséria material e humana. Em “O Abajur Lilás”, dentro das paredes apertadas de um quarto de prostíbulo, encontramos a história intemporal da opressão entre indivíduos e das diferentes formas, sempre complexas e multifacetadas, que estes encontram para lidar com ela – individualismo, pragmatismo, revolta, negação, esperança, desespero.

Numa sociedade em que a violência física e verbal está difundida e banalizada até ao ponto da indiferença, é essa profundidade da obra de Plínio que mais toca, quase 40 anos depois da sua escrita. Nenhuma censura consegue pôr cobro a essa reflexão; nenhuma forma de opressão – política, social ou económica, mais assumida ou mais nebulosa – lhe escapa.

O Cendrev e A Escola da Noite

Dirigido por António Augusto Barros, o espectáculo é a primeira co-produção entre o Centro Dramático de Évora (Cendrev) e A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra, duas companhias com idades e percursos diferenciados, mas que há muito colaboram e mantêm relações de intercâmbio. Em comum, para além da aposta na descentralização e da missão de serviço público que assumem como sua nas cidades que escolheram como sede, os dois grupos apresentam reportórios eclécticos e demonstram, pela sua prática continuada, a importância da existência de estruturas de criação artística com um mínimo de sustentabilidade espalhadas pelo território nacional.

O elenco e a restante equipa técnica e criativa integram elementos das duas companhias, num processo que tira o melhor partido das valências e dos recursos de cada uma delas. “O Abajur Lilás” está a ser preparado e estreará na histórica sala do Teatro Garcia de Resende, em Évora, que cumpre, em 2012, 120 anos de existência. Parte depois para o Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, e para outros prostíbulos – perdão, teatros – portugueses na segunda quinzena de Maio.

O Abajur Lilás

de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho

Évora, Teatro Garcia de Resende

19 a 28 de Abril

quarta a sábado, 21h30; domingo, 16h00

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

16 a 27 de Maio

terça a sábado, 21h30; domingos, 16h00

21 de Junho a 1 de Julho

quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00

 

A Escola da Noite e Cendrev preparam co-produção

Quinta-feira, Março 15th, 2012

A Escola da Noite e o Centro Dramático de Évora (Cendrev) preparam a primeira co-produção entre as duas companhias. “O Abajur Lilás”, do brasileiro Plínio Marcos, estreia na segunda quinzena de Abril, no Teatro Garcia de Resende.

Teatro Garcia de Resende, Évora

Com idades e percursos diferenciados, as companhias de Coimbra e Évora mantêm desde há muito relações de colaboração a vários níveis: co-organização de projectos, redes de circulação e de programação de espectáculos, dinamização de plataformas de encontro e debate, entre outras.

Fundado em 1975 com o nome de Centro Cultural de Évora, o Cendrev é o primeiro exemplo de aposta na descentralização da criação teatral profissional em Portugal no pós-25 de Abril. A Escola da Noite, que celebra este ano o seu vigésimo aniversário, surgiu no início da década de 90, numa “segunda vaga” da descentralização do teatro português. Ambas as companhias apresentam reportórios eclécticos, de acordo com a missão de serviço público teatral que assumem como sua. Dentro deles, tem natural e particular destaque a dramaturgia de língua portuguesa.

Equacionada há muito tempo, como corolário lógico das ligações que vêm aprofundando, esta primeira co-produção é construída a partir da peça “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. Com encenação de António Augusto Barros (director artístico d’A Escola da Noite), conta com a interpretação de Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (do Cendrev) e de Maria João Robalo e Miguel Lança (d’A Escola da Noite).

Tem a estreia marcada para 19 de Abril, em Évora, no histórico Teatro Garcia de Resende, cujo funcionamento é assegurado pelo Cendrev. Em Maio, o espectáculo será apresentado em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, onde A Escola da Noite é companhia residente e responsável pela programação.

O “autor maldito”

Plínio Marcos (1935-1999) é um dos nomes mais marcantes do teatro brasileiro do século XX. Escreveu, entre outras, as peças “Barrela”, “Navalha na Carne” e “Dois perdidos numa noite suja” (apresentado pelo grupo de Coimbra em 2004, numa encenação de Sílvia Brito). Foi considerado um “autor maldito”, com várias obras proibidas pela censura dada a alegada “obscenidade” da linguagem empregada pelas suas personagens, quase sempre figuras marginais e do “bas-fond”.

“O Abajur Lilás”, escrita em 1969, foi uma dessas peças. Em 1975, os censores assistem a um ensaio geral e impedem a estreia do espectáculo, dirigido por Antônio Abujamra e com Lima Duarte no elenco. A Associação dos Críticos de Arte de São Paulo promove um comunicado, subscrito pela generalidade da comunidade teatral, solidarizando-se com Plínio e com a equipa do espectáculo: “o calão das suas personagens e a crueza das situações que denuncia são tão chocantes quanto a realidade que elas espelham. É mister não proibir obras como a deste autor, mas ter a coragem de encená-las como remédio amargo que deve tomar um organismo para manter-se sadio”.

Apesar de sofrer na pele os efeitos dessa censura e de ser obrigado a viver dos livros que ele próprio vendia na rua, nos bares e à porta dos teatros, Plínio ironizava com a perseguição: foi “sempre por merecimento. Eu nunca fiz nada para agradar às pessoas”. E encontrava uma explicação: “eu falo das transas nos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus, das pessoas que estão por aí se danando, que moram na beira do rio e quase se afogam cada vez que chove, daquele homem que só come da banda podre, daquelas pessoas que só berram da geral sem nunca influir no resultado”.

Em “O Abajur Lilás”, Plínio Marcos expõe as relações e os conflitos entre três prostitutas e o dono da casa  que utilizam para exercer a sua actividade.

O Abajur Lilás

de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite)

Évora, Teatro Garcia de Resende

19 a 28 de Abril quarta a sábado, 21h30; domingo, 16h00

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

16 a 27 de Maio terça a sábado, 21h30; domingos, 16h00

21 de Junho a 1 de Julho quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00

Plínio: “já que a voz do injustiçado não é ouvida, eles têm direito à cólera”

Segunda-feira, Março 12th, 2012

Veja aqui a primeira parte da entrevista.

uma língua em festa

Quarta-feira, Março 7th, 2012

Plínio Marcos (foto: http://www.culturabrasil.com.br)

CÉLIA: Grita bem alto. Se não pegar nada, vai lá e me engessa pra bicha. Tu é arreglada com ele. Vai lá. Conta. O puto fica contente e te dá colher de chá. Vai lá, anda. As caguetas é que têm vez com esse filho de uma vaca morfética, esse veado nojento, porco, salafra, ladrão do meu suor…

A língua portuguesa é um festival. Estamos a confirmá-lo com o Cendrev, no Teatro Garcia de Resende.

Plínio Marcos: “Daquelas pessoas que só berram da geral sem nunca influir no resultado. É disso que eu falo.”

Domingo, Março 4th, 2012

Estamos com o Plínio de novo.

Preparem-se!