O Teatro da Cerca de São Bernardo exibe nos próximos dias 23 e 25 de Setembro (segunda e quarta-feira à noite) dois filmes guineenses. “Bissau d’Isabel”, de Sana Na N’Hada, e “Po di Sangui”, de Flora Gomes, são as propostas do Teatro para simbolicamente assinalar a comemoração do Dia da Independência da Guiné-Bissau. A iniciativa tem entrada gratuita e insere-se no âmbito da preparação do espectáculo “As Orações de Mansata”, do também guineense Abdulai Sila, cuja estreia está marcada para 17 de Outubro.
“Bissau d’Isabel” foi realizado em 2005. É um documentário sobre a diversidade cultural da Guiné-Bissau, país onde existem mais de 20 etnias com tradições e línguas por vezes totalmente distintas. O filme oferece ao espectador uma visita ao quotidiano da capital guineense, conduzida por Isabel, enfermeira e mãe numa “cidade em ebulição onde germina uma vontade de futuro”. As dificuldades – diz-nos o realizador – são “tão fortes como as cores de cidade, mas os guineenses levam as suas vidas com uma energia inesgotável”. O filme resulta do projecto de formação de cineastas africanos ÁfricaDOC e foi distinguido com o Prémio Revelação no Festival Imagens (Cabo Verde). Foi ainda exibido em diversos festivais e mostras de cinema em Portugal, Espanha e China.
Sana Na N’Hada (Enxalé, Guiné-Bissau, 1950) é formado em cinema pelo Instituto Cubano de Artes e Indústria Cinematográfica e estudou no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos (IDHEC), em Paris. Iniciou a sua carreira de realizador na década de 1970 com as curtas metragens “O regresso de Cabral” (1976), “Anos no Oça Luta” (1976), ambas em co-realização com Flora Gomes, “Os dias de Ancono” (1979) e “Fanado” (1984). Em 1994 realizou a sua primeira longa metragem, “Xime”, que esteve em competição oficial no Festival de Cannes. O seu filme mais recente é “Kadjique”, cuja estreia na Europa está prevista para breve.
“Po di Sangui”, de Flora Gomes
Realizado em 1996, o filme de Flora Gomes é uma fábula sobre a simplicidade e a riqueza da vida tradicional em África. Numa aldeia remota do continente africano, uma mulher dá à luz gémeos. Como manda a tradição, são imediatamente plantadas duas árvores. Um dos irmãos deixa a aldeia e regressa apenas por ocasião da morte do gémeo que ficara. Uma das árvores morre também nesta altura, o que parece marcar o destino da comunidade, afectada pela seca e obrigada a partir em busca de uma vida melhor. O sofrimento dos que partem, mas também o regresso ao ponto de partida e o renascer da esperança são os traços fortes deste conto “fascinante, sensível e inteligente”, nas palavras do crítico português Mário Jorge Torres.
Flora Gomes (Cadique, Guiné-Bissau, 1949) é um dos mais conceituados realizadores guineenses, autor de filmes como “Mortu Nega” (1987), “Os olhos azuis de Yonta” (1992) ou “Nha Fala” (2002). Formado em cinema em Cuba, realizou os documentários “O Regresso de Cabral”, “A Reconstrução” e “Anos no Oça Luta” nos anos imediatamente após a independência do país. É internacionalmente reconhecido, particularmente em França, país onde foi distinguido, em 2000, com o Grau de Cavaleiro das Artes e das Letras. O seu último filme, estreado já em 2013, é “A República di Mininus”. Foi rodado em Moçambique e Flora define-o como “um grito de desespero”, “uma parábola sobre o que está a acontecer em África, essas turbulências, os focos de instabilidade, em praticamente todos os cantos do continente”.
A “semana da Guiné” em Coimbra
Para além destes dois filmes programados pel’A Escola da Noite e pela Cena Lusófona, o Dia da Independência da Guiné-Bissau (24 de Setembro) é ainda assinalado em Coimbra pelo cineclube Fila K, que passa o filme “Nha Fala”, de Flora Gomes, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (terça-feira, às 21h30) e pela Casa da Guiné-Bissau em Coimbra, com um programa de actividades de onde se destaca, no dia 21 de Setembro, uma sessão de danças tradicionais (às 18h00, na Casa Municipal da Cultura) e um concerto com três músicos guineenses (às 22h00, na Discoteca Massas).
No TCSB prosseguem, entretanto, os ensaios do espectáculo “As Orações de Mansata”, do guineense Abdulai Sila, co-produzido pela Cena Lusófona, A Escola da Noite, Companhia de Teatro de Braga e Teatro Vila Velha (Salvador, Brasil) no âmbito do IV Estágio Internacional de Actores. A estreia está marcada para o próximo dia 17 de Outubro e cumprirá em Coimbra uma curta temporada de apenas 10 sessões, até ao dia 27 do mesmo mês.
Actividades comemorativas do Dia da Independência da Guiné-Bissau em Coimbra
Danças Tradicionais
“Nova Esperança” / “Mon na Mon”
SALA POLIVALENTE DA CASA MUNICIPAL DA CULTURA
21 de Setembro
sábado, 18h00
org. Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
MÚSICA
Sidónio Pais / Maio Copé / Braima Galissa
DISCOTECA MASSAS
21 de Setembro
sábado, 22h00
org. Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
DOCUMENTÁRIO
“Bissau d’Isabel”
de Sana Na N’Hada
BAR DO TEATRO DA CERCA DE SÃO BERNARDO
23 de Setembro
segunda-feira, 21h30
Portugal, 2005 > 52’ > entrada gratuita
org. A Escola da Noite / Cena Lusófona
CINEMA
“Nha Fala”
de Flora Gomes
MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-VELHA
24 de Setembro
terça-feira, 21h30
Portugal/França/Luxemburgo, 2002 > 85’ > 1 €
org. Fila K Cine-Clube (no âmbito do ciclo “Áfricas”)
CINEMA
“Po di Sangui”
de Flora Gomes
BAR DO TEATRO DA CERCA DE SÃO BERNARDO
25 de Setembro
quarta-feira, 21h30
França/Guiné-Bissau/Portugal/Tunísia, 1996 > 87’ > entrada gratuita
org. A Escola da Noite / Cena Lusófona