Os nossos espectadores sabem que gostamos de peças de teatro. E que acreditamos que as companhias, enquanto estruturas (minimamente) estáveis de criação artística, são um dos elementos essenciais a um “sistema” teatral dinâmico, sustentado e articulado com as suas comunidades.
É também por isso que nos sabe tão bem encontrar Jean Genet, feito pelo TAPA, no denso e luxuriante bosque teatral desta metrópole. Descobrimo-nos como companheiros de estrada há quase 20 anos e não parámos nunca de nos ver e de nos falar. As duas passagens do grupo por Coimbra (em 2000 e em 2012) são dos momentos mais altos da nossa programação, frequentemente recordados pelos nossos espectadores.
Lembrámo-nos de tudo isso ontem à noite, no Teatro da Alliance Française, onde o TAPA mantém em cena, há dois meses, “As Criadas”. As salas cheias fizeram já prolongar a temporada inicialmente prevista. O espectáculo vai continuar em cartaz até Maio, altura em que um outro Genet concluirá o programa que assinala o regresso do grupo à sala onde foi companhia residente entre 1986 e 2002.
O reencontro em palco do director Eduardo Tolentino com as actrizes Clara Carvalho, Denise Weinberg e Emilia Rey, elas próprias elementos basilares do sólido percurso artístico do TAPA, reforça o simbolismo do momento, a que o público não é indiferente.
À saída, Carla e Denise recordavam a garagem do Pátio da Inquisição onde há 15 anos apresentaram “A Serpente”, de Nelson Rodrigues, e “A Navalha na Carne”, de Plínio Marcos. Emilia, por seu lado, falava-lhes do Teatro da Cerca de São Bernardo, onde em 2012 estreou uma versão especial de “Retratos Falantes”, de Alan Bennett.
Nós continuamos a aplaudir de pé – este espectáculo e o trabalho ímpar do TAPA, uma referência para várias gerações de fazedores de teatro, dos dois lados do Atlântico.
Enquanto pensamos na melhor maneira de derrubar “as patroas”, seguiremos juntas, companhias criadas do serviço público, a convidar os espectadores para jogar connosco nesta mansarda do mundo que é o teatro.