Cinzas…(*)

Sofia Lobo, Maria João Robalo, Miguel Magalhães e Igor Lebreaud, "Cinzas..." (foto de ensaio: Pedro Rodrigues)

Sofia Lobo, Maria João Robalo, Miguel Magalhães e Igor Lebreaud, “Cinzas…” (foto de ensaio: Pedro Rodrigues)

“Cinzas…” reúne quatro peças do dramaturgo inglês Harold Pinter (1930-2008), escritas em momentos distintos da sua carreira: “A Black and White” (1959), “Língua da Montanha” (1988), “A Nova Ordem Mundial” (1991) e “Cinza às Cinzas” (1996). Em todas elas encontramos personagens confrontadas com diferentes formas de opressão e violência – refinada ou brutal; íntima, social ou de Estado; física ou psicológica.
Sem referências explícitas a tempos e lugares e assentes nos notáveis diálogos que marcam a obra de Pinter, os quatro textos seleccionados visitam cenários de pobreza, de tortura, de humilhações, de desamparo dos mais fracos perante várias formas de agressão com as quais todas as sociedades convivem.
Não deixa de ser curioso que tanta gente nos tenha perguntado nos últimos dias por que razão escolhemos trazer estes temas para o palco de Coimbra, Portugal, em 2018. “Há que evitar sermões a todo o custo”, disse Pinter sobre o (seu próprio) “teatro político”, ao receber o Prémio Nobel. Nós partilhamos essa preocupação mas nunca deixamos, como ele nunca deixou, de olhar para o Mundo – o que está do outro lado da rua, o que nos é mostrado (e escondido) pelos ecrãs, o que carregamos na memória. Talvez o facto de nos perguntarem “porque querem falar disto” seja em si mesmo a resposta à questão…

Escolhidas também em função das características e da dimensão do elenco actual da companhia, as quatro peças oferecem-nos uma panorâmica (entre as inúmeras outras que é possível construir) do universo de Harold Pinter, no qual mergulhamos pela primeira vez.
Deixámo-nos guiar pela mão sábia, experiente e afectuosa de Rogério de Carvalho, espécie de “padrinho” da companhia, que nos viu nascer a partir do Teatro de Bolso do TEUC. Vinte e seis anos depois da fundação da companhia e catorze anos depois de “O Cerejal”, voltámos a pedir-lhe que viesse avaliar o nosso momento e que nos desse o privilégio de continuar a aprender com ele.

Generoso como sempre, o Rogério veio. Deu-nos, com este trabalho, um novo impulso para os anos que aí vêm.
Faça-nos companhia.

Coimbra, 17 de maio de 2018
A Escola da Noite

(*) Texto da companhia na folha de sala do espectáculo

[Cinzas…]

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