Todas as contas vão no mesmo fio | QUICO CADAVAL

Quico Cadaval (© Sonia García)

A arte de contar histórias está na base da construção do humano, como a de cantar e dançar – necessitámos das três para chegar até aqui. Ninguém discute a dificuldade de cantar e dançar: muitas pessoas não se atrevem, por medo do ridículo. Contar é diferente: considera-se tão natural, tão ligado à própria vida, que qualquer um ou uma se julga capacitado/a para o fazer. E as pessoas concordam que está ao alcance de qualquer um (ou uma): presidentes de câmara, donas de casa, professoras, bailarinas, padres ou varredores. Sabemos que as crianças são ensinadas com histórias, os namoros são precedidos de importantes doses de ficção e qualquer projecto artístico ou político tem de ser acompanhado por uma história “bem contada”. Qual é a razão para que cada vez mais pessoas se sintam intimidadas perante o desafio banal de contar uma história? Por um lado, porque há boatos de que existem profissionais que fazem isso comme il faut; por outro, porque desistimos e confiamos esse trabalho a aparelhos de memória externos, como a TV cabo e a internet.

Mas o rio do conto que fazemos colectivamente continua a fluir entre nós cada vez que saímos para a rua ou entramos num bar, cada vez que temos um encontro com outrem e esfregamos as antenas para nos informar, reconhecer, enriquecer, consolar, estimular, divertir, esclarecer…
É só isso: fazer o que já sabíamos e reconhecer que é uma actividade artística, como o canto e a dança. Apenas temos que aprender alguns passos e algumas melodias. Depois, é só contar.

Quico Cadaval

NARRAÇÃO ORAL | OFICINA
Todas as contas vão no mesmo fio
QUICO CADAVAL
30 de Setembro a 5 de Outubro de 2023
sábado, domingo e feriado, 15h00-18h00
segunda e quarta-feira, 18h00-21h00
> Casa Municipal da Cultura 
> 30€
co-org. Biblioteca Municipal de Coimbra

informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt

PROGRAMA

Objectivos
– Identificação dos tipos de auditório
– Construção do pacto com o público
– Apoios e direcções: a qualidade do olhar
– Os três ritmos: do público, da história, do narrador. Como explorar as suas relações.
– O capital do narrador: o reportório. Como geri-lo? Como poupá-lo? Como desbaratá-lo?
– A estrutura da narração: a ordem dos materiais. A estrutura rígida. A estrutura flexível.
– A oralização dos materiais não orais… Como descongelar o texto escrito?
– Desenvolver ferramentas para incorporar memórias auxiliares, “artificiais”, na memória própria, “natural”.

O propósito da oficina é apresentar estes temas cruzando a teoria e a prática, sem que o entusiasmo da experiência oculte os conceitos gerais nem que as indicações técnicas frustrem a fluência das práticas. Experimentaremos com o “castelo de cartas” da trama. Um estudo prático do que significa mudar o lugar dos materiais narrativos, do uso do flash-back a outros métodos menos óbvios.
Teremos também um trabalho de expansão do olhar, desde a proximidade da mesa do café ou do banco público, até aos grandes auditórios. O objectivo é transformar a cumplicidade e manter a candura perante esta amplificação do receptor.

Alguns métodos e práticas
– Trabalhos de grupo
– Trabalho individual de procura
– Maneiras de falar a dois: Diálogo-interrogatório-confissão – A festa das evocações
– A narradora secreta
– A memória partida. Fendas e colas.
– O auditório hostil e o auditório clínico
– A mesa triangular

[MOSTRA DE TEATRO GALEGO EM COIMBRA 2023]

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