Dramaturgo espanhol conversou ontem com público de Coimbra no Teatro da Cerca de S. Bernardo
O dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra defendeu ontem, em Coimbra, a importância da literatura na génese do teatro, recusando a «desvalorização do texto» iniciada nos anos 1960 e 1970. «Decretou-se então o carácter obsoleto dessa dimensão literária do texto. Eu senti-me particularmente ofendido por esse movimento», disse.
O dramaturgo proferia uma conferência no Teatro da Cerca de São Bernardo, promovida pela companhia de teatro Escola da Noite, que dedica as suas Jornadas de Dramaturgia Espanhola Contemporânea ao próprio Sinisterra e a António Onetti, cujo programa inclui conferências, conversas com os espectadores, espectáculos e leituras.
«Eu estava convencido que o teatro tem uma dupla dimensão estética», afirmou o dramaturgo perante uma centena de pessoas, maioritariamente jovens ligados à produção teatral na cidade.
Admitindo que «esse pensamento dicotómico é muito limitativo», José Sanchis Sinisterra recordou ter-se «revoltado contra a desvalorização do texto», tendo apostado no «teatro fronteiriço», tirando partido da «fronteira entre o teatro e a literatura» e explorando ainda outros domínios, como a ciência e «tudo o que ocorre na área da cultura».
Para Sinisterra, professor de Literatura, que estava acompanhado pelo encenador António Augusto Barros, da Escola da Noite, «a literatura é um território imprescindível» à dramaturgia.
«O teatro está um pouco no centro da existência humana» e, na sua opinião, importa «explorar todos os seus diversos domínios,
tanto ao nível intelectual, mas também social e político».
José Sanchis Sinisterra realçou que «a transmissão de conteúdos através do teatro volta a ser incómoda», verificando-se uma «tendência para a dramatização de textos literários».
José Sanchis Sinisterra já dramatizou obras do Nobel da Literatura (1998) português José Saramago, como “Memorial do Convento” e “Ensaio sobre Cegueira”.
É autor das peças em que A Escola da Noite se baseou para criar “Teatro Menor”, que sobe hoje às 21h30, em última sessão, ao palco do Teatro da Cerca.
Diário de Coimbra, 15/09/2011.
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