Roland Sabra: “uma história que coloca o eterno problema de como nos livrarmos do outro”
“É uma história de homens, uma história de ódio e amizade, uma história de rivalidade e cumplicidade, uma história de palavras e gestos, uma história de ilusões perdidas e de velhice, uma história que coloca o eterno problema de como nos livrarmos do outro com quem temos tanto a partilhar. (…)
O teatro de Visniec trata da errância identitária num mundo dominado pela competição e pelo liberalismo. Os heróis de Visniec não o são. As suas personagens são feitas de barro comum, amassado com perfídia, com traições, com pequenas cobardias, com pequenos conformismos com a moral, com explosões de amizade rapidamente abafadas pela sombra dos egos empedernidos. São ao mesmo tempo cómicas e sinistras. (…)
‘Pequeno trabalho para velhos palhaços’ faz-nos caminhar ao lado de Tchékhov e Beckett, com desvios por Shakespeare. Como quem se perde para melhor se reencontrar. Neste teatro do absurdo, a brincadeira namora com o ridículo, o ridículo com o insignificante, o insignificante com o essencial. “Ser ou não ser palhaço”, uma vez que viver e existir não são mais do que desempenhar a pantomima de um papel social.”
Roland Sabra
“«Petit boulot pour vieux clown» de Matéï Visniec : struggle for life and business show”, in Madinin’Art – Critiques Culturelles Martiniquaises, 10/04/2006