“O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade | CLUBE DE LEITURA TEATRAL
Em Novembro, a sessão do Clube de Leitura Teatral debruça-se sobre um texto fundamental da dramaturgia brasileira do século XX – “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade.
A iniciativa tem lugar na Sala Brincante da Cena Lusófona e é dirigida pelos actores Pedro Lamas e Telmo Ferreira.
Figura incontornável do modernismo brasileiro e um dos líderes da “Semana de Arte Moderna” de 1922 ? momento crucial de ruptura e renovação estética no Brasil do século XX, sem a qual não poderíamos conceber a produção contemporânea nas mais diversas vertentes da arte brasileira ? Oswald de Andrade (1890-1954) foi um polemista implacável (Manifesto da Poesia Pau-Brasil, 1924, Manifesto Antropófago, 1928), escreveu muita poesia, vários romances e umas poucas peças de teatro. Por serem demasiado insólitas, ousadas e irreverentes para os padrões estéticos e comportamentais da época, essas obras só chegaram aos palcos depois de várias décadas, mais precisamente nos transgressores anos 60 da revolução dos costumes, da libertação sexual, da poesia marginal, dos happenings, da Tropicália, das passeatas, canções de protesto e resistência à ditadura que então se instalava no Brasil.
O Rei da Vela, publicada em 1937, só subiu à cena 30 anos depois, em 1967, numa encenação histórica de José Celso Martinez Correa para a sua companhia, o Teatro Oficina de São Paulo ? um espetáculo tão transgressor e revolucionário para a cena brasileira quanto a peça de Oswald o fora para a literatura dramática.
Plena de um humor corrosivo e sarcástico, que não teme o excesso e o deboche, a peça expõe em 3 actos o apogeu e queda do inescrupuloso agiota Abelardo I, numa sociedade burguesa hipócrita e decadente, exploradora cruel dos mais frágeis, submissa aos interesses do capital estrangeiro, num mundo distópico que anseia por uma revolução improvável.
Para o crítico Yan Michalski, O Rei da Vela é “um grito cheio de raiva, de altivez e de desprezo. Do ponto de vista do conteúdo, ódio pelos laços que mantêm o país preso, amarrado; pelos escravos que preferem vender e acender velas em torno do cadáver gangrenado do Brasil a dar-lhe injecções de vitalidade, ajudá-lo a levantar-se, a andar, a produzir.
(…) Desprezo de um grande artista, criador e livre, pela mesquinhez e sordidez que o cercam. A obra de Oswald de Andrade é, antes de mais nada, uma condenação generalizada e um insolente desafio: ‘Vejam como eu transgrido – parece ele proclamar o tempo todo – as regras de bom comportamento moral, social, estético e teatral do meu tempo; vejam e reconheçam que estas regras, sobre as quais vocês todos, num grau maior ou menor, apoiam as suas vidas e os seus julgamentos, não valem um níquel!’ “
LEITURA
“O Rei da Vela”
de Oswald de Andrade
dir. Pedro Lamas e Telmo Ferreira
Clube de Leitura Teatral
5 de Novembro de 2019
Terça-feira, 18h30
Sala Brincante da Cena Lusófona > 90’ > entrada gratuita
co-organização: TAGV / A Escola da Noite
CLUBE DE LEITURA TEATRAL
O Clube de Leitura Teatral é uma iniciativa que junta o Teatro Académico de Gil Vicente e A Escola da Noite / Teatro da Cerca de São Bernardo e que acontece mensalmente, de forma alternada entre os dois espaços.
Coordenado por Ricardo Correia e António Augusto Barros, o Clube – aberto a qualquer pessoa, independentemente da sua experiência em artes cénicas – tem como objectivo a divulgação da dramaturgia.
Para receber atempadamente informação sobre as próximas sessões e poder inscrever-se como leitor/a, basta enviar um e-mail para clube.leitura.teatral@gmail.com.
A participação como leitor/a e a assistência às leituras são sempre gratuitas.