danças que prendem*

© Kurt Van der Elst | "Corpus Bach", Sidi Larbi Cherkaoui, 2003

© Kurt Van der Elst | "Corpus Bach", Sidi Larbi Cherkaoui, 2003

Quarta Fábula

A rapariga que inclinava paredes.

Raiz, espalhar casas por todo o lado para fazer o nosso mundo, caminhar para dentro da terra usando as mãos como pás aéreas, pregar a cabeça à terra e existir ao contrário

Diagonal, abismo, ter os pés colados à terra e desafiar o equilíbrio, inclinar-se sem cair, enterrar-se sem morrer e encontrar-se na inclinação para um beijo de testas

Fazer dos dedos as pernas e tornar-se um gigante.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Era uma vez uma rapariga que olhou para os seus dedos e viu as suas pernas, pegou no seu braço e fez dele uma parede inclinada. Essa parede transformou-se no céu que cobre a sua aldeia. Dos seus caracóis fez uma vassoura com a qual varreu todas as maldades que corriam de boca em boca.

Ponha os braços em forma de ventoinha e abra com o corpo em rodopio muitas pequenas casas redondas e rectangulares.

Com as mãos, revolva o seu cabelo para conhecer como dançam as vassouras.

Faça dos seus dedos as suas pernas e transforme a pele do seu braço numa montanha por onde passeia.

Veja a aldeia de abraços por baixo de si e incline-se para a frente sem cair. Continue a inclinar-se até ao ponto de se tornar na metade de um telhado gigante que guarda a sua aldeia.

Entretanto, pode limpar as ruas imaginárias desse mundo feito do seu corpo com as pontas do seu cabelo e ver-se a si próprio virado ao contrário e em ponto pequeno.

Agora, encontre alguém a quem encostar a sua testa para sentir o que é o beijo das grandes montanhas.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que prendem” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

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